Com férias na mira e orçamento curto, o brasileiro ajusta a rota. Praias seguem no radar, mas o bolso dita o ritmo.
Um novo levantamento da Brain Inteligência Estratégica mostra como o limite de gastos com hospedagem está moldando decisões de viagem no país. A pesquisa ouviu 1.283 adultos de todas as regiões, acima de 21 anos, e indica um teto psicológico nítido para o valor da diária, com margem de erro de 3,5%.
O teto psicológico da diária
Seis em cada dez viajantes não aceitam pagar mais de R$ 500 por noite no hotel. Esse limite define data, destino e padrão do quarto, e pressiona a rede de hospedagem a oferecer mais valor por menos.
60% dos entrevistados colocam um teto de R$ 500 na diária. O valor virou referência para a decisão.
O recorte detalhado confirma um orçamento contido, com parte expressiva do público bem abaixo desse limite:
- 9% não passam de R$ 150 por diária;
- 25% se mantêm entre R$ 151 e R$ 300;
- 27% aceitam de R$ 301 a R$ 500;
- 21% pagariam entre R$ 501 e R$ 1.000;
- 14% superam R$ 1.000.
O perfil de viagem é intenso: 65% viajam de uma a mais de três vezes por ano em feriados e fins de semana, e 53% o fazem nas férias. A frequência, somada ao custo acumulado, ajuda a explicar a contenção na diária.
Como a renda molda o gasto
O teto de despesa varia com a renda, mas menos do que muitos imaginam. Em faixas salariais altas, a régua também fica relativamente baixa para padrões de hotelaria.
| Faixa de renda mensal | Teto de diária mais aceito |
|---|---|
| Até R$ 5 mil | Até R$ 150 |
| De R$ 5 mil a R$ 10 mil | Até R$ 300 |
| De R$ 10 mil a R$ 20 mil | Até R$ 300 |
| Acima de R$ 20 mil | Até R$ 500 |
A geração Z concentra as escolhas mais econômicas: quase um terço desse grupo coloca o limite em R$ 150. Muita gente está no início da carreira, cursando graduação ou pós, e opera com renda reduzida. Esse estágio de vida puxa a média para baixo e fortalece formatos mais simples de hospedagem.
Conforto ganha do preço
Economia não significa abrir mão de qualidade. Na hora de escolher onde ficar, conforto lidera como principal critério entre todos os grupos, à frente de localização e preço.
Conforto aparece em 77% das escolhas, à frente de localização (57%) e preço (53%).
O recado é direto para hotéis e pousadas: oferecer camas melhores, silêncio, ar-condicionado eficiente e banheiros funcionais pesa mais do que uma tarifa alguns reais mais baixa. A percepção de valor vem de uma noite bem dormida, não apenas do desconto.
Estratégias para dormir bem e pagar menos
- Reserve com 30 a 60 dias de antecedência nas altas temporadas;
- Escolha de domingo a quinta; fins de semana encarecem a diária;
- Prefira bairros secundários com boa mobilidade e economia na tarifa;
- Considere tarifas não reembolsáveis quando o plano estiver fechado;
- Negocie direto com a propriedade para tentar upgrade ou cortesia;
- Use programas de fidelidade ou cashback para reduzir o valor efetivo;
- Compare se o café da manhã e as taxas já estão incluídos no preço final.
Praia na cabeça, Nordeste no mapa
As preferências de destino seguem um padrão claro. A praia é a primeira opção do brasileiro para viagens curtas e longas, seguida por cidades de interior e serra.
| Tipo de viagem | Praia | Interior/serra |
|---|---|---|
| Curta duração | 79% | 28% |
| Longa duração | 65% | 26% |
No mapa do desejo, o Nordeste domina o interesse, com 60% de menções, seguido de 22% para a região Sul. A preferência se repete quando se distribuem os dados por renda e por geração. O apelo de praias famosas, clima quente e oferta de voos reforça o protagonismo nordestino, enquanto o Sul conquista pela combinação de gastronomia, enoturismo e serras.
Nordeste lidera o desejo do viajante: 60% querem ir para lá, independentemente da renda ou da idade.
O que isso muda para o setor
Com um teto de R$ 500 balizando a decisão, hotéis que entregam conforto tangível em faixas intermediárias tendem a ocupar melhor. A pressão por custo-benefício deve acelerar alguns movimentos:
- Pacotes com meia pensão, reduzindo gastos com alimentação;
- Planos sazonais que mantêm a diária abaixo do limite psicológico;
- Quartos compactos com alto padrão de cama e banho;
- Políticas de early booking para travar preço meses antes;
- Diferenciação por localização inteligente e transporte incluído.
Gestores de receita podem calibrar tarifas para manter opções abaixo dos R$ 500 nas datas de maior procura, usando estoques limitados por categoria e benefícios escalonados. Para destinos de praia, o ajuste de preço entre dias úteis e fins de semana pode abrir mais janelas de ocupação sem sacrificar tarifa média.
Quando R$ 500 não basta: como planejar
Em feriados prolongados ou em alta estação, cidades de praia e capitais turísticas tendem a romper o teto com facilidade. Em vez de desistir, vale redesenhar o roteiro:
- Troque o réveillon por janeiro a partir da segunda semana;
- Prefira voos de madrugada e check-in no meio da semana;
- Divida a estadia: duas noites em região central e o restante num bairro próximo e mais barato;
- Considere pousadas familiares ou hostels premium com quartos privativos;
- Avalie aluguel por temporada para grupos, diluindo custos por pessoa;
- Verifique taxas locais e estacionamento, que podem distorcer o valor final.
Para casais e famílias, a conta fecha melhor com diárias ligeiramente abaixo do limite e gastos extras sob controle. Café incluso, política de crianças e acesso a cozinha de apoio reduzem despesas no destino. Em muitos casos, duas categorias acima de quarto, fora de temporada, custam menos do que um padrão básico nos dias mais disputados.
O que os números sugerem para a sua próxima viagem
Se conforto pesa mais que preço, escolha primeiro o que faz diferença na sua noite de sono e ajuste o resto. Trace o teto desejado, simule datas alternativas e teste bairros adjacentes ao ponto turístico. Em cidades de praia, prever o transporte local pode cutucar economias maiores que um desconto de diária. Com o teto de R$ 500 como guia, a combinação de antecedência, flexibilidade de data e troca de bairro costuma liberar opções que mantêm a viagem no azul.
Para quem está com renda apertada, mirar destinos de interior e serra fora do inverno tende a gerar tarifas mais amigáveis, com menos competição. Já quem tem maior renda, mas prefere manter o limite, encontra valor em serviços que alongam a experiência: late checkout, espaços de trabalho e conveniências incluídas. O objetivo é simples: transformar R$ 500 em uma noite que efetivamente recarrega as energias e sustenta o restante da jornada.


