Brasileiros vão beber menos vinho? Aurora cria rosé para a China e vê exportações subirem 17%

Brasileiros vão beber menos vinho? Aurora cria rosé para a China e vê exportações subirem 17%

Novos hábitos de consumo na Ásia pressionam mudanças no Sul do país e empurram o setor a redesenhar sabores e embalagens.

Com a demanda chinesa ganhando força, uma cooperativa tradicional de Bento Gonçalves redesenhou o portfólio e achou fôlego para crescer fora do Brasil. O movimento reacende a disputa por espaço em gôndolas estrangeiras e aponta tendências para vinhos e sucos de uva com baixo teor alcoólico.

Uma guinada puxada pela China

A Vinícola Aurora elevou as vendas externas de janeiro a setembro para 1,014 milhão de litros, alta de 17% frente ao mesmo intervalo do ano anterior. O avanço tem um protagonista: a China. O país asiático concentrou 23,7% dos embarques após a cooperativa ajustar sabores e rótulos à preferência local, com destaque para sucos gaseificados e um rosé desenvolvido especificamente para esse mercado.

1,014 milhão de litros exportados de janeiro a setembro e crescimento de 17%: a estratégia de adaptação ao paladar chinês puxou o resultado.

O plano foi simples e direto: ouvir o canal de venda, traduzir a demanda em produto e encurtar o caminho entre fábrica e consumidor. O discurso interno passou a priorizar bebidas associadas a saúde, prazer e moderação. A embalagem entrou no centro da conversa, com aprimoramentos para logística, apelo visual e conveniência no consumo.

Produto sob medida e embalagem que fala ao consumidor

O rosé gaseificado surgiu para responder a uma busca por bebidas leves, aromáticas e com perfil “instagramável”, sem ceder no componente de saudabilidade. Ao mesmo tempo, a Aurora reforçou formatos e rotulagem para competir em prateleiras com forte presença de marcas internacionais e de chás prontos para beber, categoria que rivaliza com sucos no país.

  • Sucos gaseificados com leitura de “refresco premium” para jovens adultos.
  • Rosé criado para o paladar e ocasiões de consumo na China.
  • Aprimoramentos de embalagem para viagem longa e gôndola mais competitiva.
  • Ênfase em baixo teor alcoólico e benefícios percebidos de saúde.

Mapa das exportações

Depois da China, o Paraguai ocupou o segundo lugar entre os destinos, seguido por Gana, Uruguai e Estados Unidos. A presença africana reflete um esforço de abertura de mercado com linhas adequadas a climas quentes e distribuição pulverizada, inclusive com formatos em Tetra Pak. No Mercosul, o câmbio e a proximidade logística ajudam a consolidar volume.

China (23,7%), Paraguai (16,6%), Gana (13,2%), Uruguai (10,5%) e Estados Unidos (9,5%): a diversificação reduz risco e sustenta o crescimento.

Destino Participação nas vendas externas
China 23,7%
Paraguai 16,6%
Gana 13,2%
Uruguai 10,5%
Estados Unidos 9,5%

O portfólio exportado é liderado por suco de uva, responsável por 52% das vendas externas, seguido por vinhos (41%). O peso do suco mostra como a demanda por alternativas não alcoólicas e por moderação vem redefinindo prateleiras ao redor do mundo.

Suco de uva responde por 52% das exportações; vinhos, por 41%: a categoria “sem álcool” sustenta a expansão.

Mercosul e África no radar de volume

No Paraguai e no Uruguai, o consumo de produtos brasileiros cresce com a presença de distribuidores regionais e a troca de sortimento entre fronteiras. Em Gana e outros mercados africanos, oportunidades aparecem na disputa por bebidas prontas, níveis de preço mais acessíveis e formatos que conservam o produto em altas temperaturas. O Tetra Pak ganha apelo por conveniência, estocagem e custo logístico.

Europa volta ao jogo

A Aurora firmou parceria com um cliente na Sérvia durante a ProWine, feira realizada em São Paulo no fim de outubro. Na mesma rodada, ampliou conversas com Eslováquia e França. O interesse europeu não tem, por ora, o mesmo potencial de volume da Ásia ou do Mercosul, mas adiciona prestígio, diversidade de canais e margem em nichos específicos.

Outra pista relevante: profissionais da Rússia e da própria China demonstraram curiosidade por rótulos desalcoholizados. A tendência abre flanco para expandir a família de produtos “NOLO” (no and low alcohol), categoria que cresce com consumidores que buscam moderação sem abrir mão de ritual, aroma e gastronomia.

Retomada após abalos reputacionais

O avanço nas exportações ocorre no contexto de retomada da cooperativa, dois anos depois de abalos por denúncias de trabalho análogo à escravidão envolvendo uma terceirizada e por quebra de safra. O novo ciclo aposta em governança, relacionamento com mercados externos e calendarização de lançamentos para recuperar confiança e presença internacional.

Para quem compra e para quem vende: o que muda

Para o consumidor brasileiro, a guinada significa maior chance de encontrar rótulos da marca em aeroportos, e-commerces internacionais e lojas especializadas fora do país. Para pequenos produtores, a mensagem é concreta: adaptar produto e embalagem ao contexto local abre portas, mesmo em praças altamente disputadas.

  • Ouvir o importador e ajustar receita ao paladar do destino.
  • Rever formatos de embalagem e rotulagem com foco em logística e gôndola.
  • Participar de feiras setoriais para testar tendências e fechar parcerias.
  • Construir um portfólio com alternativas de baixo teor alcoólico.

Como as tendências podem afetar o preço

Quando a exportação ganha peso, empresas tendem a priorizar linhas com maior giro no exterior. Isso pode deslocar mix e influenciar preços internos, principalmente em categorias com limite de oferta de uvas específicas. Por outro lado, maior escala dilui custos de produção e de embalagem, o que ajuda a segurar reajustes em ciclos de safra favoráveis.

Notas práticas para entender o movimento

O suco de uva gaseificado rosé atende ocasiões de consumo casuais, como encontros rápidos e harmonizações leves. A cor e o frescor facilitam a entrada em países onde espumantes e chás prontos dominam momentos de celebração do dia a dia. Já os rótulos desalcoholizados funcionam como porta de entrada para públicos que evitam álcool por saúde, religião ou restrições de trânsito.

Em mercados africanos, a escolha por Tetra Pak costuma dialogar com distribuição longa, exposição ao calor e necessidade de preço competitivo. Na Ásia, design de rótulo e comunicação em idioma local aceleram a leitura na gôndola, algo que também vale para embalagens menores e mais portáteis. Pequenos ajustes de dulçor e acidez, mantidos dentro do padrão jurídico para cada categoria, podem destravar negociações com redes regionais.

Um exercício de cenário

Se o volume exportado entre janeiro e setembro (1,014 milhão de litros) mantiver o ritmo até dezembro, o ano pode fechar acima de 1,3 milhão de litros. Caso a fatia chinesa suba de 23,7% para 25% nesse patamar, o mercado da China superaria 325 mil litros no acumulado anual. É uma projeção simples, mas mostra o tamanho do espaço que uma única praça pode ocupar no planejamento de produção e na gestão de riscos.

Para o leitor que trabalha no setor, três pontos merecem atenção imediata: calibração de portfólio para “low and no”, revisão de embalagens com foco em logística e uma agenda ativa de feiras e missões comerciais. A combinação dessas frentes, como mostrou a Aurora, abre passagem em mercados onde preço e narrativa de saúde contam tanto quanto a tradição do rótulo.

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