Bairros de Campinas convivem com carros parados, ferrugem exposta e pneus vazios, enquanto moradores veem riscos e pouca ação.
Entre janeiro e outubro de 2025, as ocorrências se multiplicaram e escancararam falhas na retirada. A Emdec aplica adesivo, concede cinco dias e, se nada muda, leva o veículo ao pátio.
O que mostram os números
Campinas fechou os dez primeiros meses de 2025 com 691 notificações por abandono de veículos, ante 634 no mesmo recorte de 2024. O avanço gira em torno de 9% e pressiona fiscalização, pátio e vizinhanças. O total de recolhimentos, porém, caiu: foram 63 neste ano, contra 75 no período anterior.
691 veículos notificados de janeiro a outubro de 2025 (+9%); apenas 63 efetivamente recolhidos no período.
O descompasso entre autuações e remoções indica que parte dos donos retira os carros antes do guincho ou que há gargalo logístico para levar todos ao Pátio Municipal. A vigência do Decreto nº 22.682/2023, que reduziu de dez para cinco dias o prazo após o aviso, mudou o ritmo das ações nas ruas.
Como funciona a retirada e quando há leilão
Ao identificar indícios de abandono, a equipe da Emdec tenta localizar o proprietário e cola um adesivo de notificação. Se o veículo permanece no local após cinco dias, o guincho remove para o Pátio Municipal. O automóvel pode ir a leilão depois de 90 dias, desde que não existam impedimentos legais ou vínculos com crimes.
| Etapa | Prazo | O que acontece |
|---|---|---|
| Notificação no veículo | Imediato | Adesivo informa a irregularidade e orienta o proprietário |
| Retirada voluntária | Até 5 dias | Dono remove e regulariza, evitando guincho e diárias |
| Recolhimento ao pátio | Após 5 dias | Guincho leva ao Pátio Municipal |
| Destino final | 90 dias no pátio | Leilão possível se não houver restrições ou investigação |
Casos de carcaças e inservíveis seguem para o Departamento de Limpeza Urbana (DLU). Se houver indício de roubo, furto ou estelionato, a Polícia Civil assume, e o carro vai para o pátio da corporação para perícia e devolução ao legítimo proprietário ou à seguradora.
Quando um carro vira abandono para a fiscalização
Os fiscais consideram sinais claros de inaptidão para rodar. A lista abaixo resume os critérios mais comuns observados em campo.
- Ausência de pneus ou pneus vazios/furados por longo período.
- Vidros quebrados ou ausentes e lataria com corrosão extensa.
- Falta de motor, placas, faróis, retrovisores ou para-choques.
- Peças essenciais danificadas, que impedem a circulação segura.
Ficar com um carro parado na rua por dias, sem condições de rodar, transforma a via em depósito a céu aberto e abre brecha para multa e guincho.
Bairros onde a situação se repete
A equipe de reportagem percorreu pontos com recorrência de flagrantes em óticas diferentes da cidade. Moradores relatam disputa por vagas, sensação de abandono e água parada dentro dos veículos.
Roteiro de ocorrências recentes
- Jardim São Gabriel — Rua Professor Maurício Francisco Ceolim: moradores apontam entre seis e sete carros parados há meses, com pneus murchos e peças soltas.
- Barão Geraldo — Rua Ângelo Vicentim: veículo com placa de Rio Claro notificado em 29 de outubro segue encostado à guia, sem condições de rodar.
- Vila Formosa — Rua Carlos Duarte de Oliveira: automóvel com lataria amassada e pneus vazios permanece no mesmo local há semanas.
- Jardim Estoril — Rua Mário Mazzottini: carro perdeu rodas, para-brisa e capô; interior acumula água e entulho.
A presença prolongada desses veículos favorece criadouros de mosquitos, dificulta a varrição e intensifica furtos de peças, dando início a um ciclo de sucateamento que degrada a paisagem urbana.
Saúde, segurança e trânsito afetados
Além do incômodo visual, os carros parados tensionam questões de saúde e segurança. A água acumulada vira foco para mosquitos vetores de doenças. Já a carroceria aberta atrai lixo, serve de esconderijo e aumenta risco de incêndio espontâneo em dias muito quentes.
No trânsito, eles ocupam vagas e podem bloquear a visão de pedestres e motoristas, especialmente em esquinas. Em vias estreitas, o obstáculo força manobras perigosas e cria conflitos entre vizinhos.
Como denunciar e agilizar a fiscalização
Qualquer pessoa pode acionar a Emdec para registrar veículos abandonados em via pública. O atendimento ocorre pelos telefones 118 e 156. Para acelerar a verificação, vale anotar informações básicas.
- Endereço exato e ponto de referência.
- Cor, modelo e, se visível, placa do veículo.
- Tempo aproximado parado e sinais de inaptidão para rodar.
- Risco imediato à segurança ou à saúde, como água acumulada.
A participação dos moradores ajuda a mapear áreas críticas e reduz a permanência de carros que viram fonte de sujeira e de doenças.
Por que os abandonos crescem e o que o morador pode fazer
Especialistas apontam múltiplas causas: dificuldades financeiras para arcar com conserto e impostos, custos de estacionamento, mudança de endereço sem desmobilizar o veículo antigo e até tentativas de descarte irregular após acidentes. Há, ainda, carros usados em crimes e largados para despistar investigações.
Quem convive com um “carcaça” na porta de casa não deve empurrar o veículo por conta própria nem remover peças. Além de perigoso, isso pode caracterizar infração. O caminho é documentar o problema com fotos, anotar o endereço e abrir protocolo pelos canais oficiais.
Custos, prazos e riscos para o proprietário
Deixar um carro apodrecer na via pública sai caro. Além de multa e remoção, o dono arca com guincho e diárias de pátio, além de pendências como IPVA e licenciamento atrasados. Se o veículo tiver restrição judicial ou vínculo com ocorrência policial, o caso se complica e prolonga o tempo de retenção.
Quem pretende regularizar precisa levar documento do carro e do proprietário, quitar débitos e taxas e, se for leilão, acompanhar os editais. Em muitos casos, consertar e retirar antes do guincho custa menos do que pagar semanas de diárias.
Quando a polícia entra no caso
Se houver suspeita de roubo, furto ou fraude, a Polícia Civil recebe o veículo para perícia, identifica a vítima e providencia a restituição do bem ou da posse à seguradora. A verificação evita que um objeto de crime seja leiloado ou volte às ruas sem a devida checagem.


