Com a inflação corroendo o orçamento e mais gente buscando mobilidade, o preço para habilitar-se vira pauta urgente no Congresso.
Novos dados oficiais expõem quanto a formação em autoescola impacta a carteira de motorista em cada estado. Enquanto o governo prepara uma mudança regulatória que pode flexibilizar a exigência do curso, líderes partidários avaliaram as cifras e o potencial efeito no bolso de quem precisa dirigir.
Quanto a autoescola pesa no seu estado
A participação do curso de formação de condutores sobre o custo total da CNH varia fortemente pelo país. O recorte mais recente, levado por Renan Filho (Transportes) a líderes da Câmara, mostra extremos que chamam a atenção.
De 61,7% na Paraíba a 87,3% em Santa Catarina: a autoescola responde pela fatia dominante do valor da CNH em praticamente todo o Brasil.
Santa Catarina aparece no topo da lista. Lá, o curso sai por R$ 3.404,36, o equivalente a 87,3% do total de R$ 3.899,40. Já no Rio Grande do Sul, o preço final da habilitação é o mais alto do país, R$ 5.148,05, dos quais R$ 4.437,77 (86,2%) correspondem à formação. Na outra ponta, Paraíba (61,7%), Rondônia (63,9%) e Espírito Santo (64,8%) exibem as menores parcelas relativas ao curso.
Valores e percentuais em estados-chave
| Estado | Peso da autoescola na CNH | Valor do curso (R$) | Custo total da CNH (R$) |
|---|---|---|---|
| Santa Catarina | 87,3% | 3.404,36 | 3.899,40 |
| Rio Grande do Sul | 86,2% | 4.437,77 | 5.148,05 |
| São Paulo | 74,2% | — | — |
| Rio de Janeiro | 75,8% | — | — |
| Espírito Santo | 64,8% | — | — |
| Rondônia | 63,9% | — | — |
| Paraíba | 61,7% | — | — |
O que está na mesa: tirar a obrigatoriedade
O governo Lula discute desde o meio do ano uma mudança que permitiria obter a CNH sem a obrigatoriedade de frequentar autoescola. A medida depende de resolução do Contran e foi apresentada a líderes partidários para costurar apoio político. A expectativa dentro do Executivo é publicar a regra ainda em novembro.
Pelo desenho em discussão, continuariam valendo as avaliações do Detran, com provas teóricas e práticas, exames médico e psicotécnico e taxas de expediente. O que mudaria é a possibilidade de o candidato se preparar fora do CFC, caso opte por isso.
Discute-se reduzir custo e exigências sem mexer na aferição de habilidade ao volante. O exame continua; a rota até ele pode mudar.
Por que os percentuais variam
As diferenças entre estados ocorrem por múltiplos fatores. Especialistas e gestores citam elementos que ajudam a explicar os números:
- Carga horária e metodologia: horas-aula exigidas e o uso de simuladores elevam ou reduzem a fatura.
- Custo operacional: aluguel, combustível, manutenção de frota e salários variam conforme a economia local.
- Concorrência: mercados com mais CFCs tendem a ter preços mais disputados.
- Taxas estaduais: o que se paga aos Detrans altera o peso do curso sobre o total.
- Tecnologia e fiscalização: investimento em telemetria, câmeras e controle de aula tem custo.
O impacto no seu bolso
Os exemplos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul ajudam a enxergar a conta. Se o curso deixar de ser obrigatório e o candidato escolher um caminho alternativo de preparação, permanece a soma de taxas e exames. O “restante” da CNH, fora a autoescola, hoje está em:
- Santa Catarina: R$ 495,04 (R$ 3.899,40 – R$ 3.404,36)
- Rio Grande do Sul: R$ 710,28 (R$ 5.148,05 – R$ 4.437,77)
Esses valores incluem despesas como exame médico e psicotécnico, provas, emissão e outras cobranças administrativas. Eles mudam por estado e podem sofrer reajustes ao longo do ano.
Onde o curso pesa acima de 80%, qualquer flexibilização tende a gerar maior economia relativa para o candidato.
Como se preparar para a mudança
- Acompanhe o calendário do Contran e do seu Detran para não perder prazos de adaptação.
- Se você tem urgência, avalie iniciar o processo já; se pode esperar, simule benefícios com a possível nova regra.
- Compare CFCs perto de casa: metodologia, taxa de aprovação, política de reposição de aulas e valor final.
- Guarde margem no orçamento para taxas fixas e possíveis reprovações, que geram custos adicionais.
- Se optar por estudo autônomo, planeje conteúdo, prática em ambiente controlado e cronograma até o exame.
Ranking por participação da autoescola
Maiores pesos
- Santa Catarina – 87,3%
- Rio Grande do Sul – 86,2%
- Acre – 84,5%
- Bahia – 84,2%
- Pernambuco – 84,0%
Menores pesos
- Paraíba – 61,7%
- Rondônia – 63,9%
- Espírito Santo – 64,8%
- Alagoas – 65,2%
- Pará – 65,8%
O debate que vem pela frente
A proposta mexe com um setor que emprega e treina milhões de candidatos. Donos de CFCs defendem que a formação estruturada reduz reprovações e acidentes de trânsito. Quem apoia a flexibilização argumenta que a prova oficial mede a habilidade e que a concorrência na preparação, inclusive com cursos mais baratos ou autoinstrução guiada, pode baixar preços sem reduzir qualidade.
Nos estados onde a autoescola supera 80% do valor, famílias de baixa renda sentem o peso no orçamento. Em contrapartida, gestores de trânsito alertam que reduzir barreiras precisa vir acompanhado de estratégias de segurança: monitoramento de aprovação, educação contínua e punição a fraudes.
Simulação prática para o leitor
Considere sua realidade. Se você mora em um estado com peso próximo a 75% e o valor total da CNH na sua cidade hoje é de R$ 4.000, o curso representaria por volta de R$ 3.000. Caso a regra permita caminhos alternativos e você opte por não contratar um CFC, a economia potencial ficaria nessa ordem de grandeza, descontadas as taxas e exames que seguirão devidos. Se decidir manter o CFC, a concorrência pode pressionar pacotes para baixo. Coloque no papel ambos os cenários.
Outro ponto prático: organize a documentação, acompanhe vagas para prova, e tente agendar exames em dias próximos para reduzir deslocamentos. Uma sequência bem planejada reduz custos indiretos como transporte e horas de trabalho perdidas.
O que observar no contrato da autoescola
- Pacote fechado x aula avulsa: peça o preço por hora e compare.
- Reprovação: confirme políticas de remarcação e taxas extras.
- Veículos: verifique manutenção e disponibilidade nos horários de pico.
- Transparência: solicite planilha com todas as cobranças, inclusive taxas do Detran.
Enquanto a decisão regulatória não sai, informação vale dinheiro: entenda a composição do preço, simule caminhos e escolha o que cabe no seu bolso.


