Chapo — Moradores do Vale do Sinos e turistas da Serra aguardam mudanças nas estradas e no bolso nos próximos anos mesmo.
A consulta pública já começou e abre uma disputa que mexe com rotas, tarifas e prazos. O plano redesenha a mobilidade entre a Região Metropolitana e a Serra, promete obras robustas e instala pedágio por trecho percorrido. O contrato deve sair em dezembro de 2026, com a concessão iniciando em 2027.
O que está em jogo
O Bloco 1 reúne oito rodovias estaduais em uma faixa densamente povoada, do litoral Norte (Balneário Pinhal) à Serra (São Francisco de Paula). O pacote inclui a nova RS-010, ligação expressa entre Porto Alegre e Campo Bom, e intervenções em rotas estratégicas como RS-239, RS-115, RS-020, RS-235 e outras conexões turísticas e industriais.
O governo sustenta que a rede atual trava a competitividade regional. Levantamento da CNT classifica apenas 5,1% das vias estaduais como ótimas, enquanto a maioria dos trechos segue ruim ou péssima, o que amplia o risco de acidentes e encarece o transporte. A memória de pedágios sem contrapartida de obras, ainda dos anos 1990, alimenta a resistência. Agora, a promessa atrela tarifa a obras medíveis e prazos definidos.
R$ 6,41 bilhões em 30 anos, com R$ 4,9 bilhões nos 10 primeiros: esse é o compromisso mínimo de investimento.
Quem ganha e quem perde
Empresas de logística e o turismo tendem a ganhar tempo com duplicações e faixas adicionais. Moradores que percorrem pequenos trechos pagarão menos do que viagens longas, graças à cobrança por quilômetro. Já rotas hoje com uma única praça de pedágio podem ficar mais caras com múltiplos pórticos no modelo free flow.
As obras prometidas e os prazos
A concessão prevê intervenções que alteram o fluxo metropolitano, aumentam capacidade de tráfego e inserem serviços operacionais (guincho, ambulância, monitoramento por câmeras, bases de atendimento e pontos de parada para caminhoneiros). Os números mostram a dimensão do projeto.
| Intervenção | Extensão / meta | Prazo indicativo |
|---|---|---|
| RS-010 (Rodovia do Progresso) | 41 km, pista dupla | Obras iniciadas até 2030 |
| RS-115 (Taquara–Gramado) | Duplicação total do trecho | Até o 5º ano da concessão |
| RS-020 | 16 km duplicados | Até 2030 |
| RS-115 | 9 km adicionais de duplicação | Até 2030 |
| RS-235 | 6 km duplicados | Até 2030 |
| Duplicações totais | 213,7 km | Cronograma escalonado |
| Terceiras faixas | 12,5 km | Cronograma escalonado |
| Faixas adicionais | 21,7 km | Cronograma escalonado |
| Acostamentos | 363,4 km | Cronograma escalonado |
| Vias marginais | 88,4 km | Cronograma escalonado |
| Passarelas | 31 unidades | Instalação por prioridade |
| Obras de arte especiais | 170 (viadutos e rotatórias) | Instalação por prioridade |
O pacote mira gargalos históricos: mais fluidez no Vale do Sinos, acesso mais seguro à Serra e alternativa à BR-116 em cheias.
Como vai funcionar o pedágio
2027 será o ano de transição. As seis praças atuais continuam ativas, com tarifa unificada de R$ 6,30 para carros. Em 2028, o sistema muda de vez: 23 pontos de cobrança totalmente automáticos substituem as praças físicas. A tarifa passa a considerar o trecho percorrido.
Neste desenho, o custo de referência é de R$ 0,21 por quilômetro para veículos de passeio, sujeito a redução no leilão se houver disputa entre proponentes. Motos passam a contribuir, geralmente pagando metade da tarifa de carros.
- RS-010 terá três pórticos: estimativas atuais de R$ 3,22 (Cachoeirinha), R$ 4,06 (Sapucaia do Sul) e R$ 4,13 (Campo Bom).
- Na RS-239, o trecho BR-116 (Novo Hamburgo)–Centro de Taquara saltaria de R$ 3,25 para R$ 12,76.
- No primeiro ano, quem roda pouco trecho tende a pagar menos; viagens longas acumulam mais pórticos.
Serão 23 pórticos no free flow, com cobrança por trecho percorrido e leitura de tag ou placa do veículo.
Como você paga
O motorista usa tag para débito automático ou segue pela leitura de placa com cobrança posterior em canais de pagamento autorizados. O sistema elimina cancelas e reduz filas, mas exige atenção ao cadastro e aos prazos de quitação para evitar encargos.
De onde vem o dinheiro e por que o aporte público
O investimento privado soma R$ 6,41 bilhões ao longo de 30 anos. Além disso, o governo pretende aportar R$ 1,5 bilhão do Funrigs ao Bloco 1 (e mais R$ 1,5 bilhão ao Bloco 2) para reforçar a resiliência após as cheias de 2023 e 2024. A nova RS-010 cria alternativa à BR-116, que ficou submersa em vários pontos, e a RS-115 receberá obras para conter deslizamentos em encostas.
Sem o aporte do Funrigs, a tarifa de referência subiria de R$ 0,21/km para R$ 0,32/km, segundo o governo.
O cronograma que afeta você
O processo soma etapas técnicas e participação social. A agenda, se mantida, aponta para contrato assinado no fim de 2026 e início operacional em 2027.
- Consulta pública: em curso, com possibilidade de sugestões formais.
- Audiências públicas: ao menos três encontros nas áreas mais impactadas.
- Análise do TCE: envio do projeto ainda neste ano para agilizar apontamentos.
- Edital: previsão para março de 2026, já com ajustes das contribuições.
- Leilão (B3): estimado para junho de 2026.
- Homologação: agosto de 2026.
- Assinatura do contrato: dezembro de 2026.
- Início da concessão: 2027.
O ano eleitoral pode tensionar o debate. Lideranças de diferentes espectros criticam o aumento do número de pedágios, e municípios dos vales do Sinos e do Paranhana contestam o desenho que instala pórticos na região enquanto a RS-118 segue sem cobrança. Mudanças pontuais no escopo — como retirada de obras para aliviar tarifas — podem ocorrer, a exemplo do que já aconteceu no Bloco 2.
Quanto pesa no seu bolso
Faça as contas pelo modelo proposto. Se a sua rota diária somar R$ 12,76 em um sentido, como no exemplo BR-116 (Novo Hamburgo)–Taquara pela RS-239, o gasto mensal numa rotina de 20 dias úteis, ida e volta, ficaria em torno de R$ 510,40. Já para a RS-010, a soma dos três pórticos (R$ 3,22 + R$ 4,06 + R$ 4,13) resulta em R$ 11,41 por sentido; oito viagens no mês (quatro idas e voltas) custariam cerca de R$ 91,28.
Quem roda trechos curtos entre pórticos deve perceber valores menores por viagem. Já condutores de longa distância podem buscar rotas alternativas ou reorganizar deslocamentos para agrupar tarefas e reduzir passagens pelos pórticos.
Dicas práticas para o dia a dia
- Instale uma tag veicular para evitar atrasos no pagamento e monitorar gastos.
- Planeje paradas e horários para aproveitar vias menos congestionadas após as duplicações.
- Compartilhe trajetos em caronas e viagens de trabalho quando possível.
- Revise pneus e suspensão: pavimento melhor reduz custo de manutenção, mas direção agressiva aumenta consumo.
Por que a polêmica não deve arrefecer
O histórico pesa: por anos, usuários pagaram pedágio e viram poucas obras. A atual proposta promete 213,7 km de duplicações, 170 estruturas e serviços operacionais contínuos. Ao mesmo tempo, 23 pontos de cobrança mudam a lógica do bolso de quem já se acostumou com uma única praça. O debate real se dará sobre preço por quilômetro, cronograma de obras e prioridades por região.
Mais obra entregue no início da concessão reduz custo social de acidentes, tempo perdido e combustível jogado no trânsito parado.
Termos que valem acompanhar: free flow (cobrança automática por pórticos), aporte do Funrigs (recurso público para reduzir tarifa e aumentar resiliência), obra prioritária (intervenção que entra cedo no cronograma) e nível de serviço (indicadores de fluidez e segurança que a concessionária precisa cumprir). Uma boa prática para o motorista é simular rotas com os pórticos projetados, estimar gasto mensal e guardar comprovantes de passagens para contestação quando necessário.
Se você pretende comprar veículo ou mudar endereço em 2026/2027, considere o impacto de pedágio e tempo de viagem no orçamento. Empresas podem recalibrar rotas logísticas, programar janelas de carga/descarga e avaliar ganhos de produtividade com as duplicações, que tendem a reduzir acidentes e atrasos em corredores críticos.


