Concessão do bloco 1 no RS : você vai pagar mais 23 pedágios ou ganhar 213 km de duplicações?

Concessão do bloco 1 no RS : você vai pagar mais 23 pedágios ou ganhar 213 km de duplicações?

Chapo — Moradores do Vale do Sinos e turistas da Serra aguardam mudanças nas estradas e no bolso nos próximos anos mesmo.

A consulta pública já começou e abre uma disputa que mexe com rotas, tarifas e prazos. O plano redesenha a mobilidade entre a Região Metropolitana e a Serra, promete obras robustas e instala pedágio por trecho percorrido. O contrato deve sair em dezembro de 2026, com a concessão iniciando em 2027.

O que está em jogo

O Bloco 1 reúne oito rodovias estaduais em uma faixa densamente povoada, do litoral Norte (Balneário Pinhal) à Serra (São Francisco de Paula). O pacote inclui a nova RS-010, ligação expressa entre Porto Alegre e Campo Bom, e intervenções em rotas estratégicas como RS-239, RS-115, RS-020, RS-235 e outras conexões turísticas e industriais.

O governo sustenta que a rede atual trava a competitividade regional. Levantamento da CNT classifica apenas 5,1% das vias estaduais como ótimas, enquanto a maioria dos trechos segue ruim ou péssima, o que amplia o risco de acidentes e encarece o transporte. A memória de pedágios sem contrapartida de obras, ainda dos anos 1990, alimenta a resistência. Agora, a promessa atrela tarifa a obras medíveis e prazos definidos.

R$ 6,41 bilhões em 30 anos, com R$ 4,9 bilhões nos 10 primeiros: esse é o compromisso mínimo de investimento.

Quem ganha e quem perde

Empresas de logística e o turismo tendem a ganhar tempo com duplicações e faixas adicionais. Moradores que percorrem pequenos trechos pagarão menos do que viagens longas, graças à cobrança por quilômetro. Já rotas hoje com uma única praça de pedágio podem ficar mais caras com múltiplos pórticos no modelo free flow.

As obras prometidas e os prazos

A concessão prevê intervenções que alteram o fluxo metropolitano, aumentam capacidade de tráfego e inserem serviços operacionais (guincho, ambulância, monitoramento por câmeras, bases de atendimento e pontos de parada para caminhoneiros). Os números mostram a dimensão do projeto.

Intervenção Extensão / meta Prazo indicativo
RS-010 (Rodovia do Progresso) 41 km, pista dupla Obras iniciadas até 2030
RS-115 (Taquara–Gramado) Duplicação total do trecho Até o 5º ano da concessão
RS-020 16 km duplicados Até 2030
RS-115 9 km adicionais de duplicação Até 2030
RS-235 6 km duplicados Até 2030
Duplicações totais 213,7 km Cronograma escalonado
Terceiras faixas 12,5 km Cronograma escalonado
Faixas adicionais 21,7 km Cronograma escalonado
Acostamentos 363,4 km Cronograma escalonado
Vias marginais 88,4 km Cronograma escalonado
Passarelas 31 unidades Instalação por prioridade
Obras de arte especiais 170 (viadutos e rotatórias) Instalação por prioridade

O pacote mira gargalos históricos: mais fluidez no Vale do Sinos, acesso mais seguro à Serra e alternativa à BR-116 em cheias.

Como vai funcionar o pedágio

2027 será o ano de transição. As seis praças atuais continuam ativas, com tarifa unificada de R$ 6,30 para carros. Em 2028, o sistema muda de vez: 23 pontos de cobrança totalmente automáticos substituem as praças físicas. A tarifa passa a considerar o trecho percorrido.

Neste desenho, o custo de referência é de R$ 0,21 por quilômetro para veículos de passeio, sujeito a redução no leilão se houver disputa entre proponentes. Motos passam a contribuir, geralmente pagando metade da tarifa de carros.

  • RS-010 terá três pórticos: estimativas atuais de R$ 3,22 (Cachoeirinha), R$ 4,06 (Sapucaia do Sul) e R$ 4,13 (Campo Bom).
  • Na RS-239, o trecho BR-116 (Novo Hamburgo)–Centro de Taquara saltaria de R$ 3,25 para R$ 12,76.
  • No primeiro ano, quem roda pouco trecho tende a pagar menos; viagens longas acumulam mais pórticos.

Serão 23 pórticos no free flow, com cobrança por trecho percorrido e leitura de tag ou placa do veículo.

Como você paga

O motorista usa tag para débito automático ou segue pela leitura de placa com cobrança posterior em canais de pagamento autorizados. O sistema elimina cancelas e reduz filas, mas exige atenção ao cadastro e aos prazos de quitação para evitar encargos.

De onde vem o dinheiro e por que o aporte público

O investimento privado soma R$ 6,41 bilhões ao longo de 30 anos. Além disso, o governo pretende aportar R$ 1,5 bilhão do Funrigs ao Bloco 1 (e mais R$ 1,5 bilhão ao Bloco 2) para reforçar a resiliência após as cheias de 2023 e 2024. A nova RS-010 cria alternativa à BR-116, que ficou submersa em vários pontos, e a RS-115 receberá obras para conter deslizamentos em encostas.

Sem o aporte do Funrigs, a tarifa de referência subiria de R$ 0,21/km para R$ 0,32/km, segundo o governo.

O cronograma que afeta você

O processo soma etapas técnicas e participação social. A agenda, se mantida, aponta para contrato assinado no fim de 2026 e início operacional em 2027.

  • Consulta pública: em curso, com possibilidade de sugestões formais.
  • Audiências públicas: ao menos três encontros nas áreas mais impactadas.
  • Análise do TCE: envio do projeto ainda neste ano para agilizar apontamentos.
  • Edital: previsão para março de 2026, já com ajustes das contribuições.
  • Leilão (B3): estimado para junho de 2026.
  • Homologação: agosto de 2026.
  • Assinatura do contrato: dezembro de 2026.
  • Início da concessão: 2027.

O ano eleitoral pode tensionar o debate. Lideranças de diferentes espectros criticam o aumento do número de pedágios, e municípios dos vales do Sinos e do Paranhana contestam o desenho que instala pórticos na região enquanto a RS-118 segue sem cobrança. Mudanças pontuais no escopo — como retirada de obras para aliviar tarifas — podem ocorrer, a exemplo do que já aconteceu no Bloco 2.

Quanto pesa no seu bolso

Faça as contas pelo modelo proposto. Se a sua rota diária somar R$ 12,76 em um sentido, como no exemplo BR-116 (Novo Hamburgo)–Taquara pela RS-239, o gasto mensal numa rotina de 20 dias úteis, ida e volta, ficaria em torno de R$ 510,40. Já para a RS-010, a soma dos três pórticos (R$ 3,22 + R$ 4,06 + R$ 4,13) resulta em R$ 11,41 por sentido; oito viagens no mês (quatro idas e voltas) custariam cerca de R$ 91,28.

Quem roda trechos curtos entre pórticos deve perceber valores menores por viagem. Já condutores de longa distância podem buscar rotas alternativas ou reorganizar deslocamentos para agrupar tarefas e reduzir passagens pelos pórticos.

Dicas práticas para o dia a dia

  • Instale uma tag veicular para evitar atrasos no pagamento e monitorar gastos.
  • Planeje paradas e horários para aproveitar vias menos congestionadas após as duplicações.
  • Compartilhe trajetos em caronas e viagens de trabalho quando possível.
  • Revise pneus e suspensão: pavimento melhor reduz custo de manutenção, mas direção agressiva aumenta consumo.

Por que a polêmica não deve arrefecer

O histórico pesa: por anos, usuários pagaram pedágio e viram poucas obras. A atual proposta promete 213,7 km de duplicações, 170 estruturas e serviços operacionais contínuos. Ao mesmo tempo, 23 pontos de cobrança mudam a lógica do bolso de quem já se acostumou com uma única praça. O debate real se dará sobre preço por quilômetro, cronograma de obras e prioridades por região.

Mais obra entregue no início da concessão reduz custo social de acidentes, tempo perdido e combustível jogado no trânsito parado.

Termos que valem acompanhar: free flow (cobrança automática por pórticos), aporte do Funrigs (recurso público para reduzir tarifa e aumentar resiliência), obra prioritária (intervenção que entra cedo no cronograma) e nível de serviço (indicadores de fluidez e segurança que a concessionária precisa cumprir). Uma boa prática para o motorista é simular rotas com os pórticos projetados, estimar gasto mensal e guardar comprovantes de passagens para contestação quando necessário.

Se você pretende comprar veículo ou mudar endereço em 2026/2027, considere o impacto de pedágio e tempo de viagem no orçamento. Empresas podem recalibrar rotas logísticas, programar janelas de carga/descarga e avaliar ganhos de produtividade com as duplicações, que tendem a reduzir acidentes e atrasos em corredores críticos.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *