COP30: presidente visita quilombo no Pará, colhe açaí com robô e defende crédito; que muda pra você?

COP30: presidente visita quilombo no Pará, colhe açaí com robô e defende crédito; que muda pra você?

Enquanto Belém se prepara para a COP30, uma ida ao interior do Pará expõe encontros entre tradição, tecnologia e florestas em pé.

A visita presidencial a um quilombo de Acará, a 120 km da capital, trouxe açaí recém-colhido, robô nas palmeiras e um recado direto sobre renda e preservação. O gesto simbólico vira vitrine de um debate que chega com a conferência do clima: quem vive na Amazônia precisa ganhar com a floresta viva.

No quilombo, política com cheiro de açaí

Lula esteve no quilombo Itacoã-Miri e participou do manejo do açaí junto à comunidade. Ele ajudou a debulhar cachos e provou o suco preparado no local. Moradores relataram rotinas, desafios e soluções criadas ao longo dos anos. A conversa girou em torno de políticas para fortalecer modos de vida tradicionais.

O presidente reforçou que proteger a mata depende de gerar renda e dar condições de trabalho a quem mora nela. A mensagem mira o curto prazo, com a COP30 batendo à porta de Belém, e também o longo prazo, com foco em bioeconomia.

Itacoã-Miri, a 120 km de Belém, virou palco de um recado simples: preservar precisa pagar as contas de quem preserva.

O roteiro antes da COP30

A agenda no Pará pretende aproximar a conferência do clima da realidade das comunidades amazônicas. O Planalto usa encontros em territórios quilombolas e assentamentos extrativistas para mostrar soluções que nascem na base e pedem escala.

Tecnologia que sobe no açaizal

Depois do quilombo, Lula seguiu ao assentamento agroextrativista da Ilha Grande. Lá, viu um robô desenvolvido para escalar açaizeiros e facilitar a colheita no topo, ponto onde os cachos ganham peso e ficam mais difíceis de alcançar com segurança.

Extrativistas apontam o equipamento como alternativa à peconha, a alça tradicional de subida. O objetivo consiste em reduzir acidentes e manter a produção em períodos de maior demanda.

Produzir e cuidar da floresta ao mesmo tempo deixou de ser slogan e virou método: tecnologia apropriada, risco menor e renda local.

Menos quedas, mais tempo produtivo

O robô não elimina o conhecimento tradicional. Ele soma. A técnica de manejo continua vital, mas ferramentas com foco em segurança ajudam a evitar afastamentos por lesão e perdas em safra. O Pará lidera a produção nacional de açaí e sente impacto direto quando o extrativista se afasta do trabalho.

Aspecto Subida tradicional (peconha) Robô de colheita
Segurança Risco de queda presente Risco reduzido com operação treinada
Exigência física Alta, com esforço repetitivo Média, com foco em controle do equipamento
Investimento inicial Baixo Médio, com necessidade de manutenção
Aprendizado Domínio da peconha Treinamento básico de operação

Políticas para quem mantém a mata em pé

Lula destacou a combinação entre preservação e renda. O governo fala em crédito direcionado, assistência técnica e acesso a mercados institucionais para quilombolas e agricultores familiares.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, acompanharam a agenda. Eles sinalizaram prioridade para ampliar o alcance de instrumentos já existentes, com foco em comunidades tradicionais.

Pergunta central do dia: como garantir renda a quem preserva? A resposta passa por crédito, assistência e mercado.

O que pode virar política efetiva

  • Linhas de crédito voltadas à agricultura familiar e a territórios quilombolas, com juros diferenciados e prazos adequados à safra do açaí.
  • Assistência técnica e extensão rural para manejo, segurança na colheita e agregação de valor ao fruto.
  • Mecanização apropriada: equipamentos leves, EPIs, robôs de escalada e manutenção local.
  • Acesso a compras públicas, como merenda escolar e programas de aquisição de alimentos, garantindo escoamento de produção.
  • Formação de cooperativas para negociação de preço, logística e crédito coletivo.

Itacoã-Miri, pioneiro e referência

Itacoã-Miri figura entre os primeiros quilombos titulados do Pará, com título desde 2003 e reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares em 2014. Abriga 96 famílias e articula cultura, educação e bioeconomia.

96 famílias, título desde 2003, memória viva e projetos que geram renda com a floresta de pé.

Projetos que criam valor

  • Flores do Quilombo: biojoias produzidas por mulheres com matérias-primas da floresta.
  • Refloresta: sistemas agroflorestais com espécies nativas, combinando alimento e recomposição de áreas.
  • Ponto de Memória: acervo, história oral e educação patrimonial.
  • Infraestrutura social: escola, posto de saúde e centro cultural com energia solar.

Próximos passos na semana da COP30

A COP30 começa em Belém neste mesmo período, e o governo quer levar exemplos concretos à mesa de negociações. A pauta local entra com nome e sobrenome: quilombos, assentamentos extrativistas e cadeias da bioeconomia, como o açaí. O recado busca alinhar recursos internacionais e políticas domésticas à realidade amazônica.

Guia rápido para o produtor da floresta

  • Crédito: procure o sindicato rural, a Emater local ou um banco público para mapear linhas ativas de agricultura familiar.
  • Documentação: leve a titulação do território ou declaração de pertencimento, cadastro de produtor e comprovação de residência.
  • Assistência técnica: solicite diagnóstico de segurança na colheita e plano de manejo do açaí para evitar perdas em safra.
  • Organização: a formação de cooperativa facilita a compra de equipamentos, reduz custo de manutenção e melhora preço de venda.
  • Mercado: avalie contratos com programas de alimentação escolar e compras governamentais para garantir previsibilidade.

Riscos, vantagens e como combinar ferramentas

Equipamentos de escalada reduzem acidentes e preservam tempo produtivo. O custo inicial pede planejamento e, em muitos casos, compra compartilhada. Manutenção local e treinamento evitam paradas em safra. O manejo tradicional continua valioso para selecionar palmeiras, entender tempos de maturação e reconhecer áreas sensíveis.

Comunidades podem testar modelos híbridos: parte da colheita com peconha, parte com robô em palmeiras mais altas ou inclinadas. Famílias que trabalham em áreas de várzea, por exemplo, ganham com equipamentos mais estáveis. Já em capoeiras novas, onde as palmeiras são mais finas, o conhecimento do apanhador segue decisivo.

Por que isso interessa a você

Quem vive nas cidades sente a pauta no preço do açaí, na qualidade do produto e no impacto climático global. Quem vive na floresta percebe no corpo a diferença entre um dia seguro de trabalho e um tombo que afasta da renda. A visita presidencial, às vésperas da COP30, joga luz sobre essa ponte. A bioeconomia só avança quando a inovação chega à mão de quem colhe, sem apagar a cultura de quem sempre esteve lá.

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