Velas e pétalas coloridas moldam lembranças que atravessam fronteiras. Entre calaveras e cheiros de copal, a saudade vira festa pública.
O Dia dos Mortos ganha cada vez mais espaço nas ruas do México e das comunidades latinas nos Estados Unidos. As imagens deste período mostram como fé, arte e afeto se encontram em altares, procissões e rostos pintados, em rituais que celebram quem partiu sem abrir mão da vida no presente.
O que as imagens revelam
As fotografias do Dia dos Mortos registram caminhos de cempasúchil, altares com retratos de família, caveiras sorridentes e vestidos que rodopiam. Cada cor carrega um sentido: o laranja das flores guia os espíritos, o roxo marca o luto, o branco sugere pureza. A luz das velas desenha silhuetas e prolonga encontros até a madrugada.
Mais do que ornamento, cada objeto tem função afetiva e simbólica: mostrar que a memória continua ativa e partilhada.
Em primeiro plano, surgem as ofrendas — mesas em camadas com fotos, sal, água, pan de muerto, papel picado e frutas. Em segundo plano, vielas e praças tomam forma com murais, música e aromas de copal. As cenas variam, mas o eixo permanece: lembrar com alegria e cuidado.
Tradição que cruza fronteiras
No México, a prática é reconhecida como patrimônio cultural imaterial e ocupa bairros inteiros com desfiles, missas e vigílias em cemitérios. Nos EUA, a herança mexicana se combina com experiências locais e novas causas. Em ambos os lados, a estética das catrinas virou marca visual da temporada, ganhando leitura contemporânea sem romper a raiz indígena e católica.
México: rituais que iluminam a noite
As imagens mexicanas costumam focar em cidades com forte tradição. Em Pátzcuaro e na ilha de Janitzio, famílias decoram túmulos e conduzem barcas durante a noite. Em Oaxaca, comparsas ocupam as ruas com bandas e fantasias. Na Cidade do México, a Mega Procesión de las Catrinas reúne milhares de pessoas em maquiagem e trajes elegantes. Em San Andrés Mixquic, a vigília no cemitério transforma o lugar em mar de luzes.
- Altar doméstico com retratos antigos, pan de muerto e copal em brasa.
- Tapetes de pétalas formando setas que “guiam” a visita dos antepassados.
- Catrinas com chapéus de pluma e vestidos longos, posando para famílias.
- Bandas de metais em procissões que cruzam mercados e praças históricas.
- Crianças com o rosto pintado, carregando flores e pequenas velas.
Estados Unidos: memória em novos cenários
Nos EUA, a câmera encontra altares comunitários em praças, escolas e museus. Em Los Angeles, o Hollywood Forever celebra com desfiles, música e artesanato. Em San Antonio, barcos decorados levam caveiras e flores pelo River Walk. Em Chicago, o bairro de Pilsen ergue ofrendas públicas e murais que dialogam com a migração. Em Tucson, uma procissão inspirada na tradição amplia o gesto de lembrar com temas contemporâneos.
Altares bilíngues reúnem fotos de avós, vítimas de violência e profissionais de saúde, combinando memória familiar com pautas comunitárias.
As imagens mostram adaptações: elementos nativos convivem com motivos latinos diversos, criando pontes culturais. A maquiagem de caveira vira oficina educativa. Oficinas de papel picado dividem espaço com exposições sobre identidade e pertencimento.
Cores, símbolos e significados
| Símbolo | México nas fotos | EUA nas fotos |
|---|---|---|
| Cempasúchil | Tapetes densos, arcos florais sobre túmulos e portas | Arranjos em parques, arcos em eventos e memoriais urbanos |
| La Catrina | Maquiagem sofisticada e vestidos de gala em procissões | Interpretações pop, oficinas de face painting e concursos |
| Calaveras de açúcar | Nomes de familiares escritos no topo | Versões artesanais e didáticas para escolas e museus |
| Papel picado | Fileiras coloridas cruzando quintais e mercados | Painéis fotogênicos em festivais e vitrines comerciais |
| Pan de muerto | Presente em ofrendas e cafés da madrugada | Padarias latinas com sabores regionais e releituras |
| Velas e copal | Vigílias nos cemitérios até o amanhecer | Áreas designadas para segurança, sem perder a atmosfera |
Como fotografar com respeito
O registro dessas cenas pede cuidado, porque muitas são momentos íntimos. Fotografar sem perturbar preserva a experiência de quem participa.
- Peça permissão antes de fazer retratos, especialmente de crianças e idosos.
- Evite flash em vigílias e espaços religiosos.
- Não toque nas ofrendas; contribua com uma flor ou vela quando apropriado.
- Mantenha distância das cerimônias e siga orientações de familiares e organizadores.
- Compartilhe créditos de artesãos e coletivos quando publicar as imagens.
Quando e onde ver
As celebrações se concentram entre 31 de outubro e 2 de novembro. No México, a Cidade do México, Oaxaca, Pátzcuaro, Janitzio e Mixquic oferecem cenas marcantes em ruas e cemitérios. Nos EUA, Los Angeles, San Antonio, Tucson, Chicago, Albuquerque e o bairro da Mission, em San Francisco, costumam realizar eventos públicos, com desfiles, instalações e altares comunitários.
Leituras da tradição
As imagens mais fortes raramente mostram tristeza explícita. Elas enfatizam a permanência de vínculos. A maquiagem de caveira não representa horror. Ela simboliza igualdade diante da morte e elegância diante do destino. A flor de cempasúchil sinaliza caminho. O papel picado dá movimento ao ar. O alimento colocado no altar é convite para conversar com a memória.
Não se trata de “celebrar a morte”, e sim de celebrar a vida compartilhada com quem já partiu.
Glossário rápido
- Ofrenda: altar com objetos do falecido, comida, fotos e velas.
- Cempasúchil: flor alaranjada (tagetes) associada ao caminho dos mortos.
- Pan de muerto: pão doce com enfeites que lembram ossos.
- La Catrina: figura esquelética elegante, criada por José Guadalupe Posada.
- Calavera: caveira estilizada em açúcar, cerâmica ou pintura.
- Copal: resina aromática que perfuma vigílias e altares.
Dicas extras para quem vai participar
Leve água e uma blusa leve para a madrugada, porque as vigílias podem durar horas. Combine ponto de encontro com amigos e avalie rotas de transporte alternativas, já que ruas podem fechar. Se você montar seu próprio altar, escolha fotos nítidas, uma vela em recipiente estável e flores frescas; mantenha crianças afastadas do fogo e descarte restos orgânicos ao final da noite.
Para quem trabalha com imagem, planeje horários de luz: fim da tarde para tons quentes nas pétalas e início da noite para velas e contornos. Prefira lentes discretas e ISO alto em vez de flash. Quando possível, converse com famílias e entendimentos locais; essa interlocução abre portas e ajuda a registrar cenas sem invadir espaços de devoção.


