Curitibanos, vocês topariam andar no bonde sem trilhos? 280 lugares e ímãs a cada 1 metro na via

Curitibanos, vocês topariam andar no bonde sem trilhos? 280 lugares e ímãs a cada 1 metro na via

Nos próximos dias, novas marcas discretas vão surgir no asfalto da Região Metropolitana de Curitiba. Muita gente vai estranhar.

Elas não são buracos nem reparos: são os marcadores magnéticos que vão orientar o Bonde Urbano Digital, o veículo de pneus que promete rodar guiado por “trilhos virtuais” entre Pinhais e Piraquara. O governo estadual fala em iniciar a operação ainda neste ano, após uma fase de testes e ajustes em campo.

O que muda na rua

Os ímãs começam a ser instalados em uma das faixas de rolamento do corredor previsto para o bonde sem trilhos. A via não será exclusiva, ou seja, carros e motos continuarão circulando nesse mesmo espaço. A diferença é que, sob o asfalto, haverá uma linha invisível que o veículo vai seguir com auxílio de sensores.

Marcadores magnéticos serão enterrados a 7 centímetros de profundidade, espaçados a cada 1 metro, inclusive em terminais.

Segundo a Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná (Amep), cada marcador funciona como um ponto de referência para o sistema de orientação autônoma do veículo. Ao ler a “rota” magnética, o bonde corrige o curso em tempo real, mantendo precisão na trajetória sem depender de trilhos de aço.

Como funciona o bonde sem trilhos

O Bonde Urbano Digital combina pneus de alta capacidade com um pacote de sensores, radares e câmeras. Essa eletrônica faz o rastreamento automático da via e ativa proteções quando detecta obstáculos, mudanças de faixa ou risco de colisão. O modelo foi desenvolvido pela chinesa CRRC Corporation, empresa que lidera projetos de bonde guiado por via virtual em vários países.

  • Comprimento do veículo: 30 metros
  • Capacidade máxima: 280 passageiros
  • Operação bidirecional: não precisa manobrar para inverter o sentido
  • Velocidade máxima projetada: até 70 km/h
  • Climatização: ar-condicionado em todos os módulos

Com 30 metros e 280 lugares, o bonde sem trilhos oferece lotação de VLT, mas opera sobre pneus.

Tecnologia e fabricante

A CRRC popularizou um conceito conhecido no mercado como “trilhos virtuais”, que alia marcadores no pavimento a visão computacional. Em vez de uma obra pesada com dormentes e dormentes, a infraestrutura depende de preparação de asfalto e implantação de marcadores. Esse desenho reduz prazos de instalação e permite ajustes de traçado com menor custo de engenharia civil.

Trecho e cronograma

O teste inicial ocorrerá entre Pinhais e Piraquara, em traçado metropolitano ainda em implantação. A Amep programou a instalação dos ímãs em sequência, seguida por calibração do sistema e testes dinâmicos sem passageiros. Depois, virão viagens assistidas com público limitado até a plena operação.

  • Fase 1: implantação dos ímãs na via e nos terminais
  • Fase 2: calibração e verificação de leitura magnética
  • Fase 3: testes de rodagem sem passageiros
  • Fase 4: viagens assistidas com monitores
  • Fase 5: operação comercial prevista para este ano

Como a faixa não será exclusiva, o plano de sinalização terá papel central: placas, pintura e reforço de lombofaixas nos trechos críticos devem orientar motoristas e motociclistas a manter distância e respeitar as paradas do bonde.

Impactos para quem dirige e para os passageiros

Para quem dirige, a principal mudança é conviver com um veículo longo que segue trajetória altamente estável. O bonde não “sobe” na calçada e não “fecha” esquinas com movimentos bruscos, o que ajuda a prever seu caminho. Em cruzamentos, a sinalização deve priorizar a passagem do veículo para manter regularidade.

Para quem usa transporte coletivo, a expectativa é de embarque nivelado, portas múltiplas e fluxo rápido de passageiros. A climatização integral tende a melhorar o conforto, e a operação bidirecional reduz tempos de virada em pontos finais. Como o veículo pode trafegar a até 70 km/h quando as condições permitem, os tempos de viagem podem cair em corredores com paradas bem espaçadas.

Os terminais ganharão os mesmos marcadores magnéticos, garantindo precisão milimétrica de parada para facilitar o embarque.

Segurança e manutenção

O pacote de sensores, câmeras e radares forma camadas redundantes de proteção. Quando o sistema detecta objeto na frente, ele aciona alertas e pode intervir no comando para evitar incidentes. O guia magnético ajuda a manter a rota mesmo em condições de baixa visibilidade, como neblina e chuva.

No pavimento, equipes precisarão inspecionar periodicamente a integridade dos marcadores e do asfalto. Buracos, remendos mal feitos ou acúmulo de detritos podem reduzir a leitura magnética e exigem resposta rápida. A profundidade de 7 centímetros protege o dispositivo contra desgaste e ações do tempo, mas não dispensa um plano de manutenção de rotina.

Perguntas que você pode ter

  • Vai precisar de faixa exclusiva? Não. A via será compartilhada, com reforço de sinalização.
  • Qual a capacidade? Até 280 passageiros por veículo.
  • Qual a velocidade? Até 70 km/h, conforme condições da via e da operação.
  • Quando começa a rodar? A meta oficial é iniciar ainda neste ano, após testes.
  • Onde serão instalados os ímãs? Em uma das faixas do trajeto e nos terminais ao longo do corredor.

Contexto: tendência global dos trilhos virtuais

Bondes sobre pneus com guia eletrônico surgiram como alternativa intermediária entre BRT e VLT. Eles prometem a capacidade de um trem leve, com implantação semelhante à de um corredor de ônibus de alta qualidade. Cidades chinesas usam essa solução em linhas com grande demanda, enquanto outras capitais testam o conceito em corredores específicos para reduzir custos de infraestrutura.

A adoção metropolitana em Curitiba pode servir de laboratório no país para avaliar desempenho em pista mista, interoperabilidade com terminais e custo de ciclo de vida. Se os resultados confirmarem regularidade e conforto, o formato ganha força para corredores com demanda alta e orçamento limitado para trilhos convencionais.

Números que ajudam você a dimensionar o projeto

Espaçamento dos ímãs 1 metro entre marcadores
Profundidade de instalação 7 centímetros
Extensão do veículo 30 metros
Capacidade por viagem Até 280 passageiros
Velocidade máxima Até 70 km/h
Trajeto de testes Pinhais–Piraquara

O que observar nas próximas semanas

Com a instalação em andamento, motoristas podem notar equipes abrindo valas estreitas e fechando rapidamente os pontos de inserção dos marcadores. Sinais temporários e cones vão orientar desvios pontuais. Em terminais, intervenções semelhantes preparam o alinhamento das plataformas para paradas precisas.

Para dimensionar a escala: em um quilômetro de corredor, cabem cerca de 1.000 marcadores por faixa guiada. Em trechos longos, o número sobe rapidamente, o que exige logística de obra bem planejada e acompanhamento para não travar o trânsito local.

O que ainda pode avançar

Testes abertos com passageiros, programas de treinamento para operadores e simuladores de cenários extremos tendem a vir na sequência. Ajustes finos de software, como calibração do reconhecimento magnético e integração com radares, costumam melhorar suavidade de curva, conforto e consumo de pneus.

Também vale acompanhar como a operação mista vai funcionar em horários de pico. A priorização semafórica em cruzamentos e o desenho das paradas farão diferença direta no tempo porta a porta do usuário. Se esses pontos ficarem bem resolvidos, o bonde sem trilhos pode se tornar uma nova referência de corredor metropolitano de alta capacidade.

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