Degas e tinta vermelha no museu: você aceitaria 18 meses de prisão por um protesto climático?

Degas e tinta vermelha no museu: você aceitaria 18 meses de prisão por um protesto climático?

Uma intervenção em uma escultura célebre reacende a tensão entre urgência climática e preservação do patrimônio artístico.

O caso ocorreu na Galeria Nacional de Arte, em Washington, e levou dois ativistas a responder na Justiça por danos e conspiração, com condenações e multa.

Quem são os ativistas e o que aconteceu

Em 2023, Tim Martin e Joanna Smith, ligados ao grupo Declare Emergency, mancharam com tinta vermelha e preta o vidro de proteção da escultura Pequena Dançarina de Catorze Anos, de Edgard Degas, em exibição na Galeria Nacional de Arte, em Washington. A ação visava chamar atenção para a crise climática, sem atingir diretamente a peça, protegida por vidro. O episódio interrompeu a visitação e mobilizou segurança e equipe técnica do museu para limpeza e avaliação da estrutura.

A Justiça tratou o caso como mais do que um ato performático. Promotores acusaram Martin de conspirar para cometer um crime contra os Estados Unidos e de danificar patrimônio artístico. A defesa sustentou que ele não pretendia destruir a escultura, mas provocar debate público sobre mudanças climáticas.

Sentenças: 18 meses de prisão para Tim Martin e 2 meses para Joanna Smith, além de mais de US$ 4 mil em reparação.

As acusações e a decisão judicial

O tribunal condenou Martin a 18 meses de prisão. Smith, que firmou acordo judicial, recebeu 2 meses. Ambos tiveram de arcar com mais de US$ 4 mil para reparar danos à estrutura de proteção atingida pela tinta. A decisão reforça uma tendência recente: manifestações que interferem em acervos de museus geram processos criminais com pena de prisão, além de cobrança de custas e restituição.

Segundo a denúncia, a ação foi planejada para maximizar impacto e visibilidade, o que sustentou a acusação de conspiração. A defesa tentou enquadrar o ato como desobediência civil não violenta, sem intenção de dano permanente, argumento que não impediu as condenações.

O que diz o Declare Emergency

O Declare Emergency se define como um movimento de “ação climática resoluta e não-violenta”. Em seus canais, o grupo afirma que busca pressionar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a declarar formalmente estado de emergência climática e a usar a autoridade executiva para enfrentar o colapso ambiental. A organização também prometeu amparo jurídico e financeiro aos ativistas processados.

“Continuaremos a fornecer apoio vital aos nossos colegas ativistas que enfrentam o sistema jurídico”, diz a organização, citando Tim Martin, Kroegeor Greene, Donald Zepeda, Will Regan e outros.

Por que as obras viraram alvo

Intervenções em museus tornaram-se um atalho para atrair cobertura global. Em 2022, atos coordenados atingiram instituições da Europa e dos EUA. A lógica dos coletivos é simples: o choque simbólico rende audiência e desloca o debate para a inércia política diante da crise climática.

  • Um Van Gogh levou sopa de tomate.
  • Um Monet recebeu purê de batata.
  • Um Andy Warhol apareceu rabiscado.

Essas ações não destruíram as obras, protegidas por vidros e protocolos de conservação, mas causaram transtornos, gastos e reforço de segurança. Museus atualizaram barreiras físicas, treinaram equipes e revisaram planos de contingência para solventes e substâncias viscosas.

Como os museus reagiram e quanto isso custa

Instituições passaram a adotar medidas cumulativas para reduzir riscos e tempo de resposta a incidentes. O objetivo é conter danos colaterais e manter a visitação segura.

  • Vidros de maior espessura e molduras seladas.
  • Monitoramento mais intenso nas salas com obras icônicas.
  • Checagem reforçada de bolsas e materiais líquidos.
  • Treinamento de guardas para imobilização e isolamento de área.
  • Planos de limpeza imediata com insumos adequados para tintas e adesivos.
  • Revisão de apólices de seguro e franquias específicas para vandalismo.

Casos que marcaram o debate recente

Ano Ação Obra afetada Local
2022 Sopa de tomate Van Gogh Europa
2022 Purê de batata Monet Europa
2022 Rabiscos Andy Warhol Europa
2023 Tinta vermelha e preta Pequena Dançarina, de Edgard Degas Washington, EUA

Liberdade de expressão, dano e efeito político

O caso Martin e Smith revive um dilema: protestos que mexem com ícones culturais geram atenção, mas também repulsa. Juridicamente, ações que tocam patrimônio protegido podem caracterizar conspiração, dano e interrupção de atividade pública. Isso abre margem para penas de prisão e ressarcimento.

Movimentos climáticos apostam que a visibilidade compensa o desgaste. Já museus e gestores culturais argumentam que campanhas podem ocorrer sem risco ao acervo. Esse embate cria um campo de disputa simbólica que extrapola as galerias e chega ao centro da política ambiental.

Condenações com prisão e obrigação de ressarcimento indicam que a Justiça pretende desestimular atos que toquem acervos protegidos.

O que o leitor precisa saber antes de protestar

  • Interferir em obra protegida, mesmo sem dano permanente, pode levar a condenação criminal.
  • Planejamento e coordenação ampliam a chance de enquadramento por conspiração.
  • Custos de limpeza e reparo recaem sobre os envolvidos, com cobrança de restituição.
  • Há alternativas eficazes e legais para pressionar governos e empresas.

Como agir pelo clima sem risco ao patrimônio

Quem quer participar da mobilização climática pode adotar estratégias que combinam impacto e segurança. Ações de rua autorizadas, pressão legislativa e campanhas criativas em espaços públicos geram notícia e não colocam em risco peças únicas.

  • Organizar vigílias, marchas e intervenções com autorização prévia.
  • Protocolar demandas em gabinetes e conselhos municipais.
  • Produzir performances em praças e parques, com materiais inofensivos.
  • Ampliar o alcance por redes sociais, com dados verificáveis e narrativas humanas.
  • Dialogar com museus para eventos educativos sobre clima e cultura.

Estado de emergência climática: o que mudaria

O Declare Emergency defende uma declaração formal de emergência climática. Essa medida, no contexto dos Estados Unidos, pode agilizar compras públicas, destravar verbas e priorizar programas energeticamente limpos dentro de limites legais. Governos locais que adotaram instrumentos similares conseguiram acelerar a troca de frota, modernizar edifícios públicos e ampliar geração renovável distribuída. A extensão e a velocidade dependem de legislação vigente, orçamento e controle judicial.

Para o leitor, vale calcular riscos e ganhos de cada estratégia de ativismo. A legislação pune dano e conspiração, como mostram as penas de Tim Martin e Joanna Smith e o ressarcimento superior a US$ 4 mil. Participar de ações com planejamento jurídico e foco em políticas públicas amplia a chance de resultados concretos sem expor pessoas e obras a perdas desnecessárias.

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