Dois frigoríficos parados em MS em 7 dias: 400 empregos, dívida de R$ 120 mi e risco no seu bolso?

Dois frigoríficos parados em MS em 7 dias: 400 empregos, dívida de R$ 120 mi e risco no seu bolso?

Em poucos dias, decisões no setor de proteína animal mexem com rotinas de cidades, trabalhadores e pecuaristas em Mato Grosso do Sul.

O fechamento de uma planta em Nioaque e o pedido de recuperação judicial em Sidrolândia acenderam um alerta na cadeia da carne bovina. As medidas afetam empregos, pagamentos a fornecedores e a confiança do mercado local, enquanto empresas tentam reequilibrar custos e operações.

O que mudou em Nioaque

A BMG Foods encerrou as atividades do frigorífico em Nioaque, a cerca de 200 km de Campo Grande. A empresa informou que a medida faz parte de uma reorganização interna e que vai concentrar a operação na unidade de São Gabriel do Oeste. A planta de Nioaque empregava cerca de 400 pessoas. Segundo a companhia, a maioria já migrou para outras unidades.

A unidade de Nioaque não possuía habilitação para exportar, especialmente para a China, o que reduziu a competitividade da operação.

O diretor institucional, Márcio Scarlassara, citou critérios de eficiência e sustentabilidade operacional para justificar a escolha. A prefeitura de Nioaque disse manter conversas com órgãos estaduais e instituições de fomento para mitigar impactos econômicos e apoiar realocações.

Por que a habilitação para exportar pesa tanto

Sem licença para mercados exigentes, como o chinês, o frigorífico depende do consumo doméstico. Esse mercado anda pressionado por renda apertada e maior sensibilidade a preço. Com menos canais, a planta perde margem e volume, enquanto unidades habilitadas capturam melhor remuneração externa.

Exportar para a China demanda habilitação específica; sem ela, a indústria vende menos e recebe menos por cada carcaça.

Na prática, a habilitação influencia desde o preço pago ao boi até o aproveitamento de subprodutos. Plantas habilitadas diluem custos com mix mais rentável, algo difícil para unidades focadas no mercado interno.

O que acontece em Sidrolândia

Na mesma semana, o Balbinos Agroindustrial, instalado em Sidrolândia, a cerca de 70 km da capital, entrou com pedido de recuperação judicial. A empresa acumula prejuízo de R$ 120 milhões, segundo balanços, e enfrenta endividamento bancário, aumento de custos e queda no consumo interno. Pecuaristas relataram atrasos em pagamentos.

O frigorífico afirma empregar 350 trabalhadores diretos e 250 indiretos e tenta preservar postos e manter o abate durante o processo legal. A ação busca suspender execuções e desbloquear caixa para viabilizar um plano de reestruturação.

Com a recuperação judicial, credores aguardam proposta de pagamento; sem acordo, cresce o risco para a cadeia local.

Panorama em números

  • Nioaque (BMG Foods): cerca de 400 empregados ligados à unidade; operações concentradas em São Gabriel do Oeste.
  • Sidrolândia (Balbinos): 350 empregos diretos e 250 indiretos; prejuízo acumulado de R$ 120 milhões.
  • Fator decisivo: falta de habilitação para exportar na planta de Nioaque, com reflexo no acesso ao mercado chinês.
  • Impacto local: trabalhadores, pecuaristas, transportadores e serviços terceirizados sentem o primeiro choque de caixa.

Comparativo das situações

Unidade Situação Empregos Ponto crítico Próximo passo
BMG Foods (Nioaque) Encerramento das atividades Aprox. 400 Sem habilitação para exportar Concentrar operação em São Gabriel do Oeste
Balbinos (Sidrolândia) Recuperação judicial 350 diretos + 250 indiretos Prejuízo de R$ 120 milhões Negociar com credores e manter abates

Efeitos para quem vive da pecuária e para o consumidor

O produtor sente primeiro a redução de escala de abate e o alongamento de prazos de pagamento. Sem previsibilidade, ele segura oferta, posterga venda e aumenta custo com boi no cocho. Transportadores perdem fretes regulares e encaram rotas mais longas para outras plantas.

No varejo, o consumidor pode não perceber mudanças imediatas. Se a transferência de abates para unidades distantes persistir, o frete e a oferta local podem pressionar alguns cortes. A intensidade desse efeito depende do ritmo de realocação de produção e da demanda nas capitais.

Direitos trabalhistas e pagamentos a fornecedores

A BMG Foods afirmou que vai cumprir direitos dos trabalhadores e honrar compromissos com pecuaristas. Em recuperação judicial, a legislação dá prazo para o Balbinos apresentar plano aos credores. Os criadores devem formalizar créditos para entrar no quadro de pagamentos e avaliar garantias já contratadas.

Quem vendeu gado sem trava de preço ou sem garantias precisa organizar notas, contratos e prazos para habilitar o crédito no processo.

Como funciona a recuperação judicial, em linhas práticas

A empresa pede proteção legal para suspender cobranças e propõe um plano de pagamento. O juiz analisa, credores votam e, se aprovado, a companhia executa o cronograma. O objetivo é ganhar fôlego para manter empregos e restabelecer a atividade. Se não houver acordo ou se o plano for descumprido, o risco de falência aumenta.

Custos, margens e o peso da China

Os custos subiram com energia, logística, mão de obra e insumos. Ao mesmo tempo, a receita oscila com o consumo interno mais sensível e a competição acirrada. Sem habilitação para a China, a planta perde um dos canais mais pagadores do mundo. Esse descompasso empurra empresas para readequações e decisões duras, como concentrar operações.

O que observar nas próximas semanas

  • Reabsorção de funcionários em outras plantas e programas municipais de recolocação.
  • Agenda de pagamentos a pecuaristas e eventuais acordos bilaterais para liquidação de débitos.
  • Escalas de abate nas unidades habilitadas e impacto no preço do boi gordo regional.
  • Detalhes do plano de recuperação do Balbinos, prazos e condições oferecidas aos credores.

Informações úteis para quem foi afetado

Trabalhadores podem consultar rescisões, saldo de FGTS e elegibilidade ao seguro-desemprego em canais oficiais do governo. Em realocações, a empresa deve formalizar novas condições contratuais. Para pecuaristas, vale priorizar contratos com garantia, como CPR, e verificar a situação cadastral do comprador. Operadores de transporte podem buscar consórcios locais para redirecionar carga para outras plantas.

Exemplo prático para o produtor

Quem tem lote pronto para abate pode simular três cenários: vender a prazo para indústria com risco, vender à vista para planta mais distante com custo adicional de transporte ou manter o boi no cocho por mais 15 dias. A decisão deve considerar dieta final, ganho de peso esperado, custo diário, prêmio por tipificação e a segurança de recebimento. Um contrato a termo reduz incerteza e ajuda a travar margem.

Segurança de recebimento, previsibilidade de escala e custo total logístico valem mais do que um preço bruto aparentemente melhor.

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