À sombra das pirâmides, um novo gigante cultural promete mexer com sua curiosidade e com o futuro do turismo egípcio.
Depois de duas décadas de obras, o Grand Egyptian Museum abre as portas ao lado das pirâmides de Gizé com uma promessa rara: reunir, em um único espaço, a narrativa completa do Egito Antigo, da formação do Estado faraônico ao período romano. O projeto, orçado em cerca de US$ 1 bilhão, nasce para receber multidões e reposicionar o país no mapa do turismo global.
O que muda para quem visita Gizé
O museu chega como peça-chave de uma estratégia nacional para reaquecer o turismo, setor vital para a economia egípcia. A abertura oficial acontece neste sábado (1º) e encerra uma história marcada por interrupções — o planejamento começou em 2005, enfrentou o abalo político pós-2011, parou na pandemia e retomou ritmo em meio a novos focos de tensão na região.
Maior museu dedicado a uma única civilização, o Grand Egyptian Museum reúne mais de 50 mil peças do Egito Antigo.
Construído a poucos passos do planalto de Gizé, o complexo foi desenhado para conversar com a paisagem milenar. Logo no saguão, uma escultura de Ramessés II, com 11 metros de altura, define a escala do que o visitante encontrará. A partir dali, uma escadaria monumental de seis níveis, ladeada por estátuas, guia o público até as principais galerias e a um mirante com vista franca para as pirâmides.
Arquitetura pensada para o cenário das pirâmides
Assinado pelo escritório Heneghan Peng Architects, o edifício triangular usa linhas e ângulos que remetem ao entorno. A conexão com o sítio arqueológico não é apenas estética: uma passarela liga o museu ao complexo de Gizé, com opção de trajeto a pé ou em veículos elétricos. O desenho privilegia circulação ampla e áreas de descanso, antecipando picos de fluxo ao longo do dia.
- 24 mil m² de galerias permanentes organizadas por temas e cronologia;
- Museu infantil com conteúdo adaptado e oficinas;
- Auditórios para eventos e mostras temporárias;
- Áreas comerciais e serviços de apoio ao visitante;
- Centro de conservação responsável pela restauração de peças-chave do acervo.
Tutancâmon como você nunca viu
Pela primeira vez, os cerca de 5 mil objetos retirados da tumba de Tutancâmon, descoberta em 1922, ocupam salas inteiramente dedicadas ao jovem faraó. O conjunto permite percorrer do luto ao ritual, do cotidiano ao poder simbólico de um monarca que reinou pouco, mas atravessou séculos na imaginação popular.
Pela primeira vez, o acervo completo de Tutancâmon — máscara, sarcófago, leitos e bigas — fica reunido no mesmo endereço.
Entre os itens mais cobiçados estão o sarcófago de ouro, a máscara mortuária em ouro e lápis-lazúli, leitos cerimoniais de madeira e as bigas usadas em rituais e desfiles. A montagem aposta em leitura clara, com vitrines que permitem ver detalhes de marcenaria, incrustações e técnicas de ourivesaria.
No mesmo eixo de atrações, o barco solar de Quéops, com 43 metros de comprimento, surge como aula condensada sobre crenças funerárias e o papel do faraó na travessia para a vida após a morte. A operação que levou a embarcação do poço original à nova casa, realizada em 2021, virou estudo de caso em logística e conservação.
Fluxo de visitantes e efeitos na economia
As autoridades projetam entre 15 mil e 20 mil visitantes por dia. Em 2024, o Egito registrou 15,7 milhões de turistas e estabeleceu uma meta ambiciosa para 2032: dobrar esse número. Para dar conta da demanda, o entorno do museu passou por obras viárias, ganhou uma nova estação de metrô e conta com o Aeroporto Internacional Esfinge, a cerca de 40 minutos, como porta adicional de chegada.
Com novas vias, metrô e aeroporto dedicado, o acesso ao museu se integra ao roteiro do planalto de Gizé.
| Indicador | Número |
|---|---|
| Investimento estimado | US$ 1 bilhão |
| Acervo em exibição | 50 mil peças+ |
| Visitantes esperados por dia | 15 mil a 20 mil |
| Turistas no país em 2024 | 15,7 milhões |
| Meta para 2032 | Dobrar o total anual de visitantes |
| Salas dedicadas a Tutancâmon | 2 |
| Comprimento do barco solar de Quéops | 43 metros |
| Áreas permanentes | 24 mil m² |
Por que isso interessa a você
O novo museu muda a experiência de quem visita o Cairo. Em um único dia, o viajante pode ver as pirâmides e caminhar até as galerias, reduzindo deslocamentos e otimizando tempo. A oferta de transporte público e a passarela dedicada tendem a facilitar o trajeto de famílias e grupos. Para o setor, a atração cria empregos, estimula serviços e alonga a permanência média, com efeito direto na renda local.
Como aproveitar a visita sem correrias
Reserve tempo generoso para os conjuntos mais densos. Tutancâmon, por si só, pede atenção a detalhes e painéis que explicam o contexto arqueológico. Calçados confortáveis ajudam a encarar a escadaria monumental e a circulação entre alas distantes. Garrafa d’água e proteção solar fazem diferença, especialmente para quem pretende subir ao mirante com vista para as pirâmides.
O mirante oferece uma das vistas mais fotogênicas do planalto: pirâmides ao fundo e o museu em primeiro plano.
Para famílias, o museu infantil funciona como pausa pedagógica. Oficinas e conteúdos adaptados oferecem uma janela para a cultura faraônica sem sobrecarregar as crianças. Já quem viaja em grupo pode dividir o roteiro: enquanto parte segue para Tutancâmon, outra visita o barco solar e as galerias temáticas, e todos se encontram no mirante.
O que observar além dos “cartazes” principais
Algumas áreas merecem atenção de quem gosta de bastidores. O centro de conservação, por exemplo, reflete a virada tecnológica que permite limpar, estabilizar e montar peças frágeis de madeira, tecido ou metal. O percurso pelas estátuas da escadaria também conta uma história: estilos, materiais e deuses que mudam com o passar dos dinastias.
- Repare nas inscrições e nos pigmentos preservados em relevos de pedra;
- Acompanhe a evolução do culto real entre o Império Antigo e o Novo;
- Compare técnicas de marcenaria nos objetos de Tutancâmon e em mobiliário de outras épocas;
- Observe como o desenho do prédio enquadra as pirâmides em diferentes pontos do percurso.
Riscos e oportunidades do novo circuito
O aumento de fluxo traz dilemas conhecidos: filas, pressão sobre o sítio arqueológico e impactos no trânsito local. A gestão do público, com escalonamento de horários e rotas internas claras, tende a reduzir gargalos. O ganho potencial é robusto: mais receita, agenda cultural variada e um corredor turístico capaz de distribuir melhor os visitantes entre museus, sítios e serviços.
Para quem planeja viagem, vale monitorar períodos de menor movimento, geralmente fora de férias escolares. A combinação de museu, planalto de Gizé e bairros históricos do Cairo cria um roteiro equilibrado entre arqueologia, arquitetura e vida urbana. Quem tiver tempo pode estender a visita a centros de conservação e a mostras temporárias, que devem renovar parte do conteúdo ao longo do ano.


