Erosão avança na Praia da Macumba: você vai perder 15 metros de areia neste verão carioca?

Erosão avança na Praia da Macumba: você vai perder 15 metros de areia neste verão carioca?

No canto surfista do Recreio, a paisagem mudou rápido. A faixa de areia encolheu, o mar subiu e a comunidade está inquieta.

Quem chega à Praia da Macumba encontra menos espaço para a canga e ondas batendo mais perto dos quiosques. O recuo da areia acendeu o alerta local e reacendeu a discussão sobre como conviver com uma orla cada vez mais pressionada por ressacas, marés mais altas e obras mal planejadas.

O que está acontecendo com a faixa de areia

A erosão costeira ganhou força na Macumba. Ventos de sul, frentes frias e ressacas do Atlântico Sul aceleraram o transporte de sedimentos. As ondas passaram a arrancar areia da parte superior da praia e a empilhar esse material mais ao largo, em bancos submarinos. O resultado no olho do visitante é imediato: menos faixa seca, degraus na areia e mar batendo alto em dias de pico.

A areia não some para sempre: ela se desloca no perfil da praia. A questão é quando e quanto volta.

A orientação da enseada, a proximidade do Pontal e a dinâmica do fundo raso criam um corredor de energia de ondas que, em certos períodos, concentra o ataque do mar em trechos específicos. Se somarmos maré de sizígia e séries longas de ondulação, o recuo avança vários metros em poucos dias.

Por que a Macumba é mais vulnerável agora

  • Marés mais altas e séries de sul mais frequentes comprimem a zona de espraiamento.
  • Déficit de sedimentos vindo de trechos a barlavento reduz o “estoque” de areia.
  • Supressão de vegetação de restinga e pisos rígidos perto da duna tiram a “almofada” natural.
  • Obras pontuais ao longo da orla vizinha alteram correntes litorâneas e o balanço de areia.

Sinais que você pode observar na praia

Sem instrumentos, dá para perceber o estágio da erosão com alguns indícios simples.

  • Degraus de areia, com até meio metro de altura, na transição entre a faixa seca e a molhada.
  • Raízes e moitas de restinga expostas, inclinadas em direção ao mar.
  • Água alcançando base de quiosques ou passarelas durante a maré cheia.
  • Trechos com areia escura e mais grossa, sinal de “limpeza” do fino pela energia das ondas.
  • Canaletas paralelas à linha d’água, típicas de retirada de sedimento.

Riscos para banhistas e para a economia local

O encolhimento da faixa de areia empurra banhistas, ambulantes e surfistas para a mesma área. A disputa por espaço cresce, assim como o risco de acidentes com pranchas e mergulhos em canaletas. A erosão também afeta o faturamento de quiosques, que perdem mesas, sombra e circulação. Escolas de surf ajustam horários e pontos de entrada para evitar correntes de retorno mais fortes.

Durante ressacas, prefira horários de maré baixa, mantenha distância da arrebentação e siga a orientação dos guarda-vidas.

O que pode ser feito já

Ações de curto prazo

  • Recuar mobiliário de praia e estruturas temporárias para liberar a zona de espraiamento.
  • Instalar passagens elevadas sobre a duna e proteger a restinga com cercas de contenção.
  • Ampliar a sinalização de correntes, horários de maré e pontos de risco na areia.
  • Planejar eventos e campeonatos com janelas flexíveis, evitando picos de maré e ressaca.
  • Colocar sacarias de areia apenas como proteção emergencial, com cronograma de retirada.

Opções estruturais e seus prós e contras

Solução Prazo Vantagens Riscos/limitações
Realimentação de praia (engorda) Médio Repõe areia e alarga a faixa seca rapidamente Exige manutenção periódica e monitoramento de impactos
Revegetação de restinga e duna Médio a longo Cria barreira natural e estabiliza a duna Precisa de área livre e fiscalização contra pisoteio
Espigões permeáveis/submersos Longo Reduz energia de onda e retém sedimento localmente Pode deslocar erosão para trechos vizinhos
Enrocamento (rochas) Longo Protege estruturas críticas em eventos extremos Reflete ondas e diminui a praia diante da obra
Recuo planejado Longo Adapta ocupação à dinâmica costeira Demanda acordo com comerciantes e moradores

Quando a areia volta

Em fases de ondas menores e ventos de leste, a praia tende a recuperar parte da faixa seca. O retorno pode levar semanas, às vezes meses, dependendo da sequência de frentes frias e da disponibilidade de sedimento. Se novas ressacas chegarem antes da recomposição, o balanço segue negativo e a praia permanece estreita por mais tempo.

Como a comunidade pode agir agora

Cuidados práticos para quem frequenta

  • Cheque a tábua de marés e evite a faixa próxima às escarpas de areia.
  • Entre e saia do mar longe de canaletas e de áreas com muitas pranchas.
  • Respeite cercas da restinga; pisoteio acelera a erosão da duna.
  • Leve seu lixo de volta; resíduos soltos fragilizam a vegetação e entopem saídas de água.

Contribuições de moradores e comerciantes

  • Manter estruturas móveis, prontas para recuo temporário em avisos de ressaca.
  • Adotar pisos drenantes e afastados da duna frontal.
  • Participar de programas de monitoramento comunitário com fotos georreferenciadas.

Perguntas que você sempre teve sobre erosão na orla

A praia está “acabando”?

A faixa visível diminui em eventos de alta energia, mas a areia circula. Sem reposição e manejo, o déficit se acumula e o recuo avança para a duna e para o calçadão. Gestão integrada decide o destino a médio prazo.

Obra dura resolve de vez?

Estrutura rígida protege um ponto, mas redistribui a energia. Sem estudo de modelagem e plano regional de sedimentos, o problema migra para o vizinho. Soluções híbridas, com natureza e engenharia, costumam funcionar melhor.

Informações complementares para ampliar sua leitura da praia

Ressaca é a chegada de ondas acima do padrão, geralmente com período maior e direção de sul/sudeste, que elevam o nível d’água junto à costa. Maré de sizígia, quando sol e lua se alinham, amplia a variação de altura. A soma dos dois fenômenos cria o cenário mais crítico. Aprender a ler essas janelas ajuda a planejar o banho e o treino de surf.

Quer medir o recuo sem instrumentos? Marque um ponto fixo (poste, quiosque), conte passos até a linha d’água na maré baixa e repita o procedimento, no mesmo horário, semana a semana. Use um aplicativo de GPS para registrar a trajetória. Essa série simples ajuda a comunidade a cobrar ações com base em dados.

Correntes de retorno ficam mais fortes quando a praia apresenta degraus e canaletas. Se sentir o arrasto para fora, não nade contra. Siga paralelo à praia por alguns metros até sair da corrente e volte em diagonal para a areia. Ensinar esse procedimento a crianças e visitantes salva vidas.

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