Uma janela rara abre oportunidade para grupos de exatas e engenharias estruturarem pesquisas duradouras com forte impacto social no estado.
A FAPESP anunciou um novo edital para criar Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão voltados às áreas de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias. A chamada mira projetos ousados, com padrão internacional, transferência de conhecimento e ações educativas, e traz uma janela curta para a entrega de pré-propostas no início de 2026.
O que está em jogo
Os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) formam arranjos de longo prazo, integrando pesquisa de ponta, inovação com base científica e difusão junto a escolas, profissionais e sociedade. A iniciativa oferece estabilidade financeira, tempo para maturação tecnológica e metas claras de impacto.
Até R$ 8 milhões por ano por centro, por cinco anos, com possibilidade de renovação e duração total de até 11 anos.
A Fundação reservou R$ 200 milhões para o conjunto do programa nesta rodada. O desenho prevê avaliações periódicas para verificar desempenho, corrigir rota e decidir sobre continuidade.
Cronograma e elegibilidade
A janela para envio de pré-propostas é enxuta e estratégica para equipes já articuladas.
Período de pré-propostas: de 5 a 27 de janeiro de 2026. Áreas-alvo: Ciências Exatas e da Terra e Engenharias.
Existem travas importantes nesta chamada:
- Não valem temas que deem continuidade a CEPIDs em operação.
- Pesquisadores responsáveis por centros que participaram de mais de uma chamada anterior não podem submeter.
- As propostas precisam posicionar ambição científica, plano de inovação e difusão, com metas mensuráveis.
Quanto, quando e para quem: visão rápida
| Item | Detalhe |
|---|---|
| Financiamento por centro | Até R$ 8 milhões por ano |
| Duração | 5 anos iniciais, renováveis até 11 anos |
| Áreas | Exatas e da Terra; Engenharias |
| Pré-proposta | 5 a 27/01/2026 |
| Orçamento do programa | R$ 200 milhões |
| Vedações | Continuidade de CEPIDs vigentes; responsáveis com múltiplas participações prévias |
| Avaliação | Periódica, com decisão de continuidade |
Por que isso interessa a você
O formato de longo prazo permite consolidar equipes, adquirir equipamentos críticos e atrair talentos. A previsibilidade reduz a distância entre bancada e aplicação, acelerando parcerias com empresas, órgãos públicos e escolas técnicas. Para o diretor científico Marcio de Castro, o desenho de duração estendida tem sustentado avanços contínuos e ampliado a circulação do conhecimento em áreas estratégicas.
O que o edital pede, na prática
Pesquisa com padrão internacional
Os centros devem atacar problemas difíceis e relevantes para a fronteira do conhecimento nas áreas-alvo. A narrativa científica precisa demonstrar liderança, diferenciação, colaborações ativas e potencial de gerar resultados de referência global.
Inovação e transferência
O plano de inovação vai além de patentes. Inclui provas de conceito, plataformas abertas, software, protótipos, escalonamento, acordos de codesenvolvimento e contratos de transferência de tecnologia. Resultados mensuráveis, como licenças, testes em ambiente real e adoção por parceiros, contam pontos.
Educação e difusão
Os CEPIDs devem manter ações educativas regulares. Isso envolve formação continuada de professores, materiais didáticos, feiras científicas, bootcamps, oficinas, e conteúdo acessível para públicos diversos. O impacto precisa aparecer em indicadores de alcance e qualidade.
Tríplice missão do CEPID: pesquisa ambiciosa, inovação com entrega ao usuário e difusão consistente para formar gente e ampliar acesso ao conhecimento.
Aprendizados das rodadas anteriores
A trajetória do programa ajuda a calibrar expectativas. Em 2000, 11 centros inauguraram o modelo. Em 2011, 17 foram criados ou renovados. A partir de 2021, a FAPESP dividiu as chamadas por grandes áreas, em seis editais planejados. Este é o quinto, focado em Exatas e Engenharias; as edições passadas cobriram Saúde, Biológicas, Agronomia e Veterinária; e Humanas e Sociais, Arquitetura e Urbanismo, Economia e Administração. O recorte por áreas favorece massa crítica e especialização.
Como montar uma pré-proposta competitiva
- Defina um problema central claro, com perguntas de pesquisa encadeadas e metas anuais verificáveis.
- Desenhe uma governança leve e eficaz, com comitês científico e de inovação, e gestão de dados e de risco.
- Mapeie parceiros industriais, públicos e comunitários com compromissos concretos de uso dos resultados.
- Planeje difusão baseada em evidências, com público-alvo, métricas e calendário permanente.
- Componha equipe diversa e multidisciplinar, com estratégia de atração e retenção de talentos.
- Apresente gestão financeira realista, com alocação em pessoas, infraestrutura crítica e manutenção.
Exemplo de alocação de recursos
A seguir, um cenário ilustrativo para um centro com teto anual:
- 40% para pessoal e bolsas (pesquisadores, técnicos, alunos, mobilidade).
- 25% para equipamentos, laboratórios e upgrades de infraestrutura.
- 15% para provas de conceito, prototipagem e ensaios em ambiente relevante.
- 10% para programas de difusão e formação de professores.
- 10% para gestão, governança e sistemas de dados.
Essas proporções variam conforme o tema, a maturidade tecnológica e o tamanho do consórcio proponente.
Riscos a mitigar desde o início
- Subestimar o esforço de gestão e de avaliação contínua, o que compromete a renovação.
- Prometer entregas além da capacidade de execução anual.
- Confiar em parceiros sem definir responsabilidades, cronograma e indicadores.
- Negligenciar acessibilidade e inclusão nas atividades de difusão.
CEPIDs em contexto: o que muda no ecossistema
Centros dessa natureza criam infraestrutura compartilhada e redes de colaboração que permanecem após o ciclo de financiamento. No eixo de inovação, eles reduzem assimetrias tecnológicas, ajudam empresas a testar soluções de forma segura e impulsionam startups de base científica. Na formação, apoiam professores da educação básica e técnica, aproximando conteúdos de sala de aula da ciência contemporânea.
Prepare-se para o relógio
Quem pretende submeter precisa fechar arranjos institucionais, cartas de apoio e indicadores antes das festas de fim de ano. Planejar um ensaio de narrativa, com revisão por pares externos ao grupo, pode elevar a clareza da proposta. Uma planilha de marcos trimestrais, com donos e entregáveis, facilita o acompanhamento e alimenta as avaliações periódicas solicitadas pela Fundação.
Informações complementares úteis
Propostas de continuidade de CEPIDs vigentes não serão aceitas, o que abre espaço para ideias novas e lideranças emergentes. Equipes devem verificar, no regimento interno e nas instruções operacionais, como tratar propriedade intelectual conjunta, dados sensíveis, integridade científica, diversidade e inclusão. Um plano de gestão de dados, com padrões de interoperabilidade e reuso, fortalece o componente de difusão e transparência.
Para calibrar a ambição, vale checar o histórico de resultados de CEPIDs anteriores nas áreas afins e identificar lacunas reais. Um exercício simples: selecione três indicadores de impacto por eixo — ciência, inovação e difusão — e simule metas para 12, 36 e 60 meses. Esse quadro orienta a governança, dá foco ao orçamento e apoia as decisões de continuidade nas avaliações intermediárias.


