Memórias de banca, humor sem filtro e capas inesquecíveis voltaram a circular nas conversas. Muita gente já abriu gavetas e caixas.
A volta de uma velha conhecida reacendeu o interesse por sátira em papel. O movimento começou nos Estados Unidos e mexe com leitores daqui.
O que está de volta e onde
A Mad, referência de humor ácido, foi recolocada em circulação nos EUA a partir de 2019, após um período de hiato. O retorno ocorre sem calendário fixo. As edições chegam quando a equipe fecha um número. A distribuição acontece no mercado norte-americano, com presença em bancas selecionadas e venda direta.
Relançada nos EUA, a Mad opera com periodicidade irregular e foco em conteúdo clássico combinado a material novo.
O catálogo digital também ganhou fôlego. A marca passou a integrar o acervo de serviços de assinatura de quadrinhos nos Estados Unidos, o que mantém a revista visível para uma nova geração. Para o Brasil, não há confirmação de relançamento local. A circulação impressa segue restrita ao território norte-americano.
Memória que vende: por que a revista marcou os anos 80
No Brasil, a chegada em 1974 pela Vecchi antecipou o auge que viria na década seguinte. O humor era direto, com paródias de filmes, TV e política. O leitor via os costumes do país virarem piada de capa. Ota, como editor e cartunista, consolidou o tom irreverente da versão nacional e formou gerações de autores.
Os números mostram a dimensão do fenômeno. A tiragem bateu 200 mil exemplares por edição no pico e estabilizou por volta de 150 mil por um bom período. A queda veio no fim dos anos 90, quando a revista rodou a apenas 8 mil. Mudanças no varejo, no preço do papel e no hábito de leitura atingiram o impresso.
Metade do conteúdo da fase brasileira era produzido aqui, com piadas enraizadas na cultura pop e no jeitinho do país.
Tiragens, crises e recomeços
Com a falência da Vecchi no começo dos anos 80, a Record assumiu a publicação em 1984 e repôs a revista nas bancas. O fôlego durou quase duas décadas. Após os anos 2000, a pressão do digital e a concentração da distribuição reduziram espaço. Em 2016, a edição derradeira no Brasil fez graça com as Olimpíadas do Rio, e a roda parou.
| Ano | Marcos no Brasil e nos EUA |
|---|---|
| 1974 | Lançamento no Brasil pela Vecchi |
| Início dos 80 | Queda da Vecchi e interrupção local |
| 1984 | Record relança a revista no país |
| Fim dos 90 | Vendas caem e tiragens encolhem |
| 2016 | Última edição brasileira |
| 2019 | Retorno nos EUA com nova estratégia editorial |
O que muda com o retorno
O relançamento nos EUA respira nostalgia e reforça a curadoria de material histórico. Edições combinam republicações e conteúdo inédito, mantendo a caricatura de celebridades, as paródias de blockbusters e o sarcasmo político. A figura do emblemático mascote continua a estampar as capas, agora para um público híbrido: leitores de décadas passadas e jovens atraídos pela estética retrô.
Capas icônicas voltam a circular lá fora e reacendem a caça por edições antigas aqui dentro.
A presença digital amplia o alcance. Quem assina serviços de quadrinhos nos EUA acessa um arquivo extenso, com números clássicos e especiais temáticos. Esse movimento reforça o valor de catálogo e prolonga a vida da marca, mesmo sem uma operação editorial estável no papel.
Como ler no Brasil hoje
Sem tiragem local, o leitor brasileiro segue dois caminhos: edições antigas em pontos de memorabilia e importação de números lançados nos EUA. A primeira rota ganhou força com a onda de nostalgia. A segunda depende de lojas que trazem quadrinhos de fora ou de compras diretas em sites internacionais, sujeitas a prazos e tributos.
Onde garimpar e quanto pode custar
- Sebos e brechós: preços variam pelo estado de conservação e pela capa. Edições temáticas tendem a valorizar.
- Feiras de nostalgia: bons lotes, com negociação direta e chance de achar coleções completas.
- Bancas antigas e antiquários: menor volume, mas ocasionalmente surgem raridades.
- Importadoras especializadas: trazem números recentes dos EUA, com frete e prazo estendidos.
- Assinaturas digitais estrangeiras: acesso ao acervo clássico por assinatura, em leitura online.
Relatos recentes mostram achados curiosos. Um leitor contou que encontrou um número dos anos 90 em ótimo estado e riu das piadas endereçadas a um assinante recorrente da seção de cartas, alvo de sátiras dentro da própria revista. Esses episódios circulam em redes e ampliam o apelo da caça de colecionador.
O recado do passado para uma nova geração
A versão brasileira da Mad não era só espelho da matriz. O corpo de cartunistas locais injetou sotaque, gírias e caricaturas de artistas nacionais. A fórmula funcionou porque falava com quem estava na fila do cinema e com quem ligava a TV aberta. Esse DNA pode sustentar um eventual retorno aqui, caso licenças, distribuição e custos fechem a conta.
Se uma nova fase brasileira surgir, a curadoria terá um papel central. Reedições comentadas, dossiês sobre capas históricas e colaborações com humoristas atuais podem conectar o legado à conversa de hoje. Projetos com tiragem limitada e venda por subscrição também aparecem na mesa como alternativa a bancas raras e circuito encurtado.
O que observar nos próximos meses
A movimentação nos EUA serve de termômetro. Se as vendas responderem, cresce a chance de edições especiais, omnibuses e capas variantes. O apetite do público por nostalgia física também influencia, já que o papel virou item de afeto. Editoras brasileiras monitoram essa curva e avaliam janelas para licenciamento.
Sem plano oficial para o Brasil, o leitor que agir agora consegue montar coleção com custo mais previsível.
Dicas práticas para quem quer começar ou retomar a coleção
Defina um recorte. Capas de Copa, sátiras de novelas ou paródias de filmes rendem coleções temáticas objetivas. Proteja cada número com saco e backing board para evitar amarelamento e dobras. Compare edições similares: alguns números tiveram reimpressões, o que afeta preço.
Planeje a importação. Simule o frete antes de concluir a compra. Agrupar edições reduz custo por unidade. Acompanhe o câmbio. O valor do dólar altera o preço final. Guarde notas e embalagens em compras online para resolver trocas ou reclamações de avaria.
Para ampliar a conversa
Vale revisar o papel da sátira gráfica no Brasil. Do cartum político aos fanzines, o humor de traço formou leitores e influenciou redações. A Mad traduziu esse espírito no varejo de banca, servindo de ponte entre o cartaz de cinema e a caricatura semanal. Uma nova safra de autores pode revisitar esse método em formatos curtos, ajustes de algoritmo e impressão sob demanda.
Outra frente envolve clubes de assinatura independentes. Modelos com tiragens trimestrais, brindes e encontros virtuais criam comunidade, estabilizam caixa e diminuem risco. Se a marca voltar a operar aqui, um convívio entre banca, e-commerce e assinatura pode dar conta do público que quer rir em papel e do leitor que prefere a tela.


