Ferry entre Barra do Sul e São Francisco do Sul esfria: você vai gastar 35 km a mais neste verão?

Ferry entre Barra do Sul e São Francisco do Sul esfria: você vai gastar 35 km a mais neste verão?

Moradores e turistas do Litoral Norte aguardam mudanças na mobilidade entre praias enquanto o verão pressiona serviços e orçamentos locais.

O plano de uma travessia rápida por ferryboat entre Balneário Barra do Sul e o bairro Ervino, em São Francisco do Sul, perdeu ritmo. A proposta, retomada em agosto após reunião com o governo catarinense, segue sem calendário, sem definição de subsídio e sem pontos de embarque claros.

Projeto de ferryboat perde fôlego

A ideia não é nova. Desde a década passada, líderes locais defendem um ferry para encurtar o deslocamento entre as margens do canal do Linguado. A travessia prevista duraria cerca de 15 minutos e reduziria a dependência do trajeto rodoviário de 35 km pela BR-280 e acessos municipais. A pressa aumentou com a temporada de verão e o crescimento populacional recente em Barra do Sul, que praticamente dobrou desde 2010.

Travessia de 15 minutos no canal do Linguado prometia aliviar um caminho de 35 km pela BR-280.

Apesar do apoio político no discurso, a delegação do serviço aos municípios ainda não saiu do papel. Tampouco começou o licenciamento para as rampas e estruturas de embarque. A operação vinha sendo ventilada como alternativa temporária até que, algum dia, uma ponte seja viável — outro desejo antigo e sem cronograma.

Dinheiro curto e dúvidas operacionais

Subsídio sem fonte definida

Prefeituras informaram que não têm previsão orçamentária para bancar o subsídio tarifário necessário para tornar a travessia acessível a moradores e trabalhadores. A estratégia é tentar apoio financeiro do governo do Estado, mas não há acordo estabelecido nem modelo econômico desenhado. Sem subsídio, o valor de passagem tenderia a ficar elevado na alta temporada e pouco viável no inverno.

Sem orçamento municipal para subsídio, a engrenagem financeira travou e a operação não tem data para começar.

Embarque e desembarque ainda em disputa

O traçado original falava em ligar a Rua Djalma Cercal, em Barra do Sul, à Rua Itália, no Ervino, cruzando o canal do Linguado. Depois, a conversa migrou para outros pontos em Barra do Sul, sem conclusão. A indefinição atrasa o projeto de engenharia das rampas, o licenciamento ambiental e os estudos de acessibilidade e segurança.

Infraestrutura do canal e temporada à porta

Outro fator sensível é a necessidade de desassoreamento no canal. A dragagem periódica evita bancos de areia, aumenta a segurança e garante calado para embarcações em maré baixa. A cobrança por manutenção já aparece na pauta local. Sem isso, a janela operacional do ferry ficaria limitada e sujeita a interrupções.

No Ervino, que tem a praia certificada com Bandeira Azul e ganhou moradores de forma acelerada, a perspectiva de uma ligação rápida empolgou comerciantes e quem trabalha do outro lado da baía. Em Barra do Sul, onde a pesca ainda sustenta renda e tradição, a travessia facilitaria o reabastecimento, a prestação de serviços e o turismo de bate-volta.

O que muda para você, na prática

Sem ferry nesta temporada, a rotina seguirá pela estrada. Em dias de sol, o tráfego pela BR-280 aumenta, alongando as viagens. A ausência de opção aquaviária afeta quem se desloca para trabalho, estudo e serviços públicos. Para o visitante, o passeio improvisado entre as duas praias fica mais demorado e sujeito a congestionamentos.

Critério Rodovia (BR-280) Ferryboat proposto
Distância 35 km Travessia direta no canal
Tempo médio 45 a 60 minutos, variando com o trânsito 15 minutos (estimado)
Custo ao usuário Combustível e desgaste do veículo Tarifa com possível subsídio (a definir)

Pontos críticos a resolver

  • Modelo de concessão e quem paga o subsídio da tarifa.
  • Escolha definitiva dos pontos de embarque e desembarque.
  • Licenciamento ambiental e projeto de rampas e acessos.
  • Plano de dragagem e manutenção do canal do Linguado.
  • Regras de segurança, capacidade de carga e horários de operação.
  • Integração com ônibus municipais e estacionamentos de apoio.

Linha do tempo recente e contexto regional

Em agosto, prefeituras e governo estadual recolocaram o tema na mesa. A sinalização política abriu espaço para estudos, mas as amarras financeiras e técnicas logo apareceram. Em Santa Catarina, travessias similares funcionam quando contam com contratos claros, fiscalização e equilíbrio entre tarifa, sazonalidade e volume de passageiros. Em áreas litorâneas, a operação precisa lidar com vento, maré e variação de demanda entre verão e inverno.

Riscos e oportunidades do projeto

Impactos econômicos e sociais

Um ferry regular reduziria custos de deslocamento e tempo de viagem, aumentando a circulação entre comércios e serviços das duas cidades. Para trabalhadores, encurtaria trajetos e daria previsibilidade. Para o turismo, criaria um produto adicional e ajudaria a distribuir visitantes.

Desafios regulatórios e ambientais

A travessia exige licenças e estudos de impacto sobre fauna, correntes e assoreamento. O desenho das rampas deve considerar acessibilidade, circulação de pedestres e veículos, e rotas de emergência. A operação em área certificada por Bandeira Azul pede atenção a qualidade da água, resíduos e paisagem.

Sem licenças, rampas e dragagem, o ferry não é apenas difícil: é impossível de operar de forma segura e contínua.

Como as prefeituras podem avançar

Um caminho prático começa com um termo de cooperação com o Estado para dividir custos e responsabilidades. Em paralelo, a modelagem econômica deve simular cenários por estação — alta, média e baixa — com metas de demanda, teto tarifário e gatilhos de subsídio. A consulta pública daria transparência e ajudaria a escolher os pontos de embarque com menor impacto urbano.

Também vale desenhar um plano-piloto por 90 dias, em cronograma fora do pico, para testar rotas, filas, bilhetagem e sinalização. O piloto precisa de indicadores: tempo de espera, taxa de ocupação, custo por viagem, índice de satisfação e incidentes. Com dados reais, a concessão definitiva fica mais robusta.

O que o morador pode esperar e como se planejar

Enquanto a travessia não começa, vale ajustar rotas e horários na BR-280. Viagens cedo ou à noite reduzem congestionamentos. Empresas locais podem organizar vans compartilhadas entre Ervino e Barra do Sul e criar pontos de encontro em estacionamentos amplos. Pescadores e prestadores que dependem do deslocamento diário podem coordenar cargas para reduzir idas e vindas.

Em períodos de maré cheia e eventos na orla, a tendência é de trânsito mais lento. Aplicativos de mapa ajudam a monitorar gargalos no acesso urbano de cada cidade. Para quem vem de fora, planejar a visita em dias de semana diminui o tempo no volante e aumenta a chance de aproveitar a praia.

Termos e noções que ajudam a entender o debate

Subsídio tarifário: mecanismo público que cobre parte do custo por passageiro para manter a passagem em valor social. Sem ele, a operação sazonal pode ficar cara no inverno. Dragagem: remoção de sedimentos do leito para garantir profundidade e segurança náutica; precisa de licenças e monitoramento. Calado: profundidade necessária para que a embarcação navegue sem risco de encalhe.

Uma simulação simples mostra o potencial de ganho de tempo: quem faz o trajeto cinco vezes por semana e gasta 50 minutos por viagem na BR-280 pode dedicar mais de 8 horas por mês apenas ao trânsito. Com uma travessia de 15 minutos, o tempo mensal cairia pela metade, mesmo considerando filas de embarque moderadas.

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