Fiocruz lança 2ª edição de curso gratuito: 23 mil já fizeram, você do SUS precisa se inscrever?

Fiocruz lança 2ª edição de curso gratuito: 23 mil já fizeram, você do SUS precisa se inscrever?

Racismo ainda atravessa atendimentos, decisões de gestão e aulas na saúde pública. Uma formação gratuita propõe ferramentas para mudar rotinas.

A Fiocruz abre a 2ª edição do curso online Letramento racial para trabalhadores do SUS e recoloca o tema no centro do cuidado. A proposta reúne profissionais e estudantes, com materiais acessíveis e interativos, para transformar práticas em serviços, ensino e gestão.

Por que o curso retorna em 2025

O racismo estrutura a sociedade brasileira e também aparece no cotidiano do SUS. Ele influencia quem chega às unidades, como é acolhido e que desfecho terá. Políticas públicas pedem compromisso antirracista, mas a mudança só ganha corpo quando trabalhadores e gestores revisam condutas, protocolos e linguagem.

Nesse cenário, a Fiocruz retoma o curso de letramento racial. A primeira edição teve quase 23 mil participantes, espalhados por todas as regiões do país. O interesse mostra a urgência do tema e a disposição para confrontar práticas naturalizadas.

Gratuito, online e autoinstrucional, o curso amplia o debate sobre racismo institucional, equidade racial e práticas transformadoras no SUS.

O que muda nesta 2ª edição

A nova oferta reforça a abordagem crítica entre racismo e saúde, com ênfase em rotinas de cuidado, gestão e formação. A trilha integra recursos abertos, atividades de reflexão e casos práticos.

  • Racismo estrutural, institucional e interpessoal: como se manifestam na saúde.
  • Equidade racial como princípio do SUS e diretrizes para aplicá-la no dia a dia.
  • Práticas antirracistas em acolhimento, comunicação, vigilância e educação permanente.
  • Uso qualificado do quesito raça/cor e produção de indicadores.
  • Ferramentas para revisão de protocolos e fluxos, com foco em segurança do paciente.
  • Materiais multimídia, estudos de caso e atividades autoguiadas.

Público-alvo e formato

A formação prioriza trabalhadores do SUS e estudantes de saúde, mas aceita qualquer interessado. O percurso é flexível. O participante estuda no próprio ritmo e acessa conteúdos do Campus Virtual Fiocruz sem barreiras geográficas ou de horário.

O letramento racial atua como ferramenta pedagógica para produzir conhecimento e orientar práticas de cuidado guiadas pela equidade.

Aula aberta e livro reforçam o tema

O lançamento da edição 2025 veio acompanhado da aula aberta Racismo e antirracismo no SUS nesta terça (4/11). A mesa reuniu pesquisadores e ativistas com mediação de Sandra Vaz (UFF). A Fiocruz também apresentou o livro Letramento racial para trabalhadores do SUS, de Marcos Araújo (UFBA), Daniel Campos (UFRJ), Letícia Batista (EPSJV/Fiocruz) e Regimarina Reis (EPSJV/Fiocruz), com prefácio de Emiliano David (Uerj) e Ingrid D’avilla (EPSJV/Fiocruz).

O jornalista Leonardo Azevedo, com trajetória reconhecida na pauta antirracista na instituição e homenageado no encontro Trajetórias Negras Fiocruz 2025, participou da primeira edição e enfatiza a utilidade do curso também para quem atua fora das unidades de saúde.

Do conteúdo à prática: como aplicar no seu serviço

O curso convida cada equipe a revisar processos e ambientes. Gestores, profissionais de referência, residentes e preceptores podem transformar o cotidiano ao adotar medidas concretas. A seguir, algumas frentes imediatas de atuação inspiradas nos temas da formação.

  • Implantar acolhimento sem viés: padronize perguntas, garanta privacidade e registre queixas de discriminação.
  • Qualificar o quesito raça/cor: treine a equipe para autodeclaração e use os dados para orientar ações.
  • Revisar protocolos de risco: inclua condições prevalentes na população negra e evite critérios que reproduzem desigualdades.
  • Fortalecer comunicação inclusiva: repense vocabulário, imagens e narrativas em cartazes, redes e materiais educativos.
  • Promover diversidade nas equipes e espaços decisórios: amplie vozes e trajetórias negras em comissões e comitês.
  • Criar fluxos de denúncia e resposta: documente, investigue e repare situações de racismo com prazos e responsáveis definidos.
  • Garantir educação permanente: rodas de conversa, estudos de caso e formação continuada com foco antirracista.

Racismo institucional se enfrenta com formação contínua, indicadores transparentes e orçamento dedicado à equidade.

Por que o letramento racial importa no SUS

O SUS tem diretrizes que garantem universalidade, integralidade e equidade. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra reconhece que desigualdades raciais impactam acesso, qualidade do cuidado e resultados em saúde. Sem enfrentar o racismo, a rede perpetua barreiras.

Na prática, mulheres negras sofrem mais violência obstétrica e têm pior acesso a métodos contraceptivos e pré-natal adequado. Homens negros recebem menos exames preventivos e abordagens tardias para condições crônicas. Populações quilombolas e periféricas enfrentam deslocamentos mais longos e oferta irregular de serviços. Esses cenários não se explicam por escolhas individuais. Eles revelam decisões institucionais, fluxos de atendimento e linguagens que, repetidas, produzem desigualdade.

O letramento racial ajuda equipes a identificar mecanismos de discriminação, seja na triagem, na regulação de vagas, na fila para exames, no desenho de campanhas ou na pesquisa. A formação fornece linguagem comum, critérios de análise e repertório de ações para reduzir danos e melhorar desfechos.

Quem organiza e como acessar

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) organiza a 2ª edição em parceria com o Campus Virtual Fiocruz. A iniciativa integra o edital Inova Educação – Recursos Educacionais Abertos, da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz). As inscrições são gratuitas. O curso usa uma plataforma aberta, com conteúdos acessíveis e trilhas que favorecem estudo autônomo.

Dicas para tirar mais proveito do curso

  • Monte um grupo de estudo com colegas de diferentes setores e turnos.
  • Traga um caso real da unidade para analisar os vieses presentes nas etapas do atendimento.
  • Revise um protocolo local sob a lente da equidade racial e proponha mudanças mensuráveis.
  • Defina um indicador simples de acompanhamento, como taxa de preenchimento do quesito raça/cor.
  • Combine devolutivas periódicas com a gestão para dar escala ao que funciona.

Informações que ampliam o debate

O termo letramento racial descreve um conjunto de conhecimentos e habilidades para reconhecer o racismo nas suas várias formas, analisar seus efeitos e agir para corrigi-los. Ele envolve domínio de conceitos, leitura crítica de dados e práticas de comunicação e cuidado que respeitam identidades e contextos.

Um exercício útil para equipes é a simulação de jornada do usuário. Desenhe o caminho de uma pessoa negra desde a chegada à unidade até a alta. Liste barreiras e soluções em cada etapa, como horário de funcionamento, acesso ao transporte, mediação de conflitos, materiais educativos e retorno programado. Essa simulação revela gargalos e orienta intervenções de baixo custo.

Outra frente é a comunicação. Profissionais de jornalismo e educação em saúde podem revisar pautas e materiais para ampliar a presença de pessoas negras em temas variados, não apenas quando o assunto é racismo. Revisar títulos, imagens e metáforas evita estigmas e ajuda a construir confiança.

Equipes que investem em letramento racial colhem ganhos concretos: acolhimento mais qualificado, queda de retrabalho, melhor adesão a tratamentos e ambiente de trabalho mais seguro. A formação da Fiocruz oferece base conceitual e repertório prático para iniciar ou fortalecer essa virada nas unidades do SUS.

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