Sol forte, represas minguando e reuniões de emergência. A rotina do paulistano volta a girar em torno da água.
Em 2025, a Sabesp elevou a captação em meio à estiagem e viu os reservatórios caírem. O movimento já desperta medidas de contenção e debate sobre consumo, perdas e limites operacionais.
O que mudou em 2025
De janeiro a setembro, a retirada média de água na Grande São Paulo chegou a 71,9 m³/s, acima do período pré-crise de 2010 a 2013, quando a média girava em 69 m³/s. Em fevereiro, o pico atingiu 73 m³/s. O patamar supera com folga o observado entre 2014 e 2016, fase em que a captação caiu para 58 m³/s, e também o pós-crise de 2017 a 2022, marcado por 62,3 m³/s.
71,9 m³/s de média entre janeiro e setembro de 2025. É o maior volume da série recente e reflete mais gente e mais demanda.
Picos, calor e consumo
O maior volume veio no início do ano, quando as chuvas já ficavam abaixo da média e o calor acelerava o consumo. Esse comportamento pressiona o sistema em dois pontos. Aumenta a água entregue à rede e acelera a queda dos reservatórios, que recebem menos aporte.
Reservatórios em níveis críticos
O Sistema Cantareira marcou 24% de armazenamento em outubro. O conjunto entrou na Faixa 3, chamada de alerta, em setembro, com cerca de 35% do volume. Em outubro, o Cantareira avançou para a Faixa 4, de restrição, e passou a limitar a retirada a 23 m³/s.
Cantareira na faixa de restrição e limite de 23 m³/s: sinal de atenção para a oferta na Grande São Paulo.
Para reduzir o risco, o governo estadual autorizou captação suplementar do Paraíba do Sul até dezembro, com vazão média de 7,6 m³/s. O objetivo é aliviar a pressão sobre os mananciais mais estressados e dar fôlego ao sistema integrado.
Chuva abaixo do esperado
Os dados mostram uma estação chuvosa mais fraca, cerca de 5% inferior à média. No período seco, estimativas apontam deficit entre 20% e 45% na precipitação, a depender da bacia. Com menos recarga e maior entrega, o nível cai mais rápido. Projeções indicam que, se chover na média até março de 2026, os reservatórios tendem a encerrar a estação em patamar semelhante ao de março de 2025, sem ganho expressivo.
O que está por trás da demanda
O crescimento da captação conversa com a pressão demográfica e com a expansão da rede. Mas há outro componente relevante: as perdas no trajeto da água, que somam vazamentos, fraudes e medições irregulares. Especialistas lembram que a “demanda” resulta da soma entre o que o cliente consome e o que se perde no caminho.
- Mais moradores atendidos e novas ligações elevam o volume distribuído.
- Perdas físicas em adutoras, redes e reservatórios aumentam a retirada necessária.
- Perdas aparentes, como fraudes e medições incorretas, distorcem o consumo registrado.
- Calor acima da média acelera usos residenciais e comerciais.
Regras, limites e o que foi feito
Após a crise de 2014-2016, a companhia adotou gestão de pressão à noite para reduzir vazamentos. Em agosto de 2025, a reguladora estadual reforçou a orientação e determinou intensificação do controle. A estratégia poupa água nos horários de menor consumo e diminui rompimentos de rede.
| Período | Regra estimada (m³/s) | Média praticada (m³/s) | Situação |
|---|---|---|---|
| Abr–Ago/2025 | 31,0 | 31,9 | Operação com atenção após estação chuvosa encerrar em 58% |
| Agosto/2025 | 27,0 | 31,8 | Faixa de alerta, com extração além do teto recomendado |
Controle de pressão noturna e gestão integrada evitaram perdas maiores e economizaram bilhões de litros.
Plano de contingência em marcha
Diante do risco de nova crise, o governo apresentou um plano com três eixos. Redução de pressão por até 16 horas em áreas selecionadas. Uso do volume morto em represas, como última alternativa. E rodízio de abastecimento em cenário extremo, se a tendência de queda se prolongar.
O que isso muda no dia a dia
Regiões com maior perda e redes antigas tendem a sentir mais a queda de pressão à noite. Predinhos sem caixa d’água suficiente podem ver torneiras fracas em horários de pico. Comércio que depende de lavagem e refrigeração deve programar estoques e escalas.
- Garanta caixa d’água com autonomia de 24 horas e manutenção em dia.
- Agende lavagens fora do período de baixa pressão.
- Revise boias e torneiras para eliminar gotejamentos.
- Condomínios: crie comunicados de horários críticos e treine zeladoria.
O que diz a Sabesp
A empresa afirma que opera o Sistema Integrado Metropolitano dentro dos parâmetros da Arsesp, da SP Águas e da ANA. A variação da captação seria compatível com o crescimento da população atendida e com ajustes operacionais feitos ao longo dos últimos anos. Segundo a companhia, a gestão de pressão noturna foi reforçada em 2025 por determinação regulatória.
Mais de 25 bilhões de litros poupados desde agosto. Equivalem a dois meses do consumo de São Bernardo, Santo André, Mauá e Diadema.
A Sabesp destaca que o sistema é integrado. Ao combinar diferentes mananciais, a operação compensa quedas pontuais e dá resiliência ao abastecimento para 21 milhões de pessoas na região metropolitana.
Para onde olhar nas próximas semanas
O comportamento das chuvas entre novembro e março decide o fôlego do sistema. Se a precipitação ficar na média, o cenário tende à estabilidade com reservatórios em patamares semelhantes aos de março deste ano. Se ficar abaixo, os níveis seguem pressionados, o que aumenta a chance de medidas mais duras e acelera o uso de fontes suplementares, como a água do Paraíba do Sul.
Perdas: reais, aparentes e custo na sua conta
Perdas reais, causadas por vazamentos, desperdiçam água tratada e elevam o custo unitário do que chega à sua torneira. Perdas aparentes, por fraudes e erros de medição, distorcem a cobrança e forçam a retirada de um volume maior do que seria necessário. Combater as duas frentes reduz a necessidade de captação e ajuda a preservar os reservatórios.
Como se preparar e reduzir risco
Empresas podem simular cenários de baixa pressão, testar autonomia de reservatórios internos e revisar planos de contingência. Residências ganham ao instalar arejadores, regular pressão de chuveiros e adotar reuso simples para regas. Em condomínios, um mutirão de detecção de vazamentos internos costuma recuperar milhares de litros por mês.
Se o rodízio entrar no radar, a melhor estratégia inclui escalonar atividades que exigem grande volume de água, priorizar armazenamentos seguros e evitar improvisos. No curto prazo, a continuidade do plano de pressão, a importação de água do Paraíba do Sul e uma estação chuvosa colaborativa podem equilibrar a curva. O ponto de atenção segue o mesmo: reduzir perdas e gerir a demanda para preservar os mananciais quando a chuva falha.


