Entre o vaivém das ondas e a alta temporada, moradores e turistas pressionam por praias mais limpas, seguras e bem cuidadas.
Com a proximidade do verão, Guarujá acelera planos para ampliar padrões de qualidade na orla. A cidade quer manter a certificação da Praia do Tombo e habilitar uma segunda faixa de areia no cobiçado selo internacional Bandeira Azul, referência global em gestão costeira e balneabilidade.
O que está em jogo
O selo Bandeira Azul aumenta a visibilidade do destino, atrai viajantes exigentes e eleva a régua de serviços públicos. Para conquistar ou renovar o reconhecimento, a praia precisa cumprir critérios rígidos de água própria, gestão de resíduos, acessibilidade, segurança, educação ambiental e governança.
Guarujá vê chance de transformar essa pressão em ganhos permanentes: mais qualidade de vida para quem mora e mais confiança para quem visita. A administração local e a comunidade costeira precisam sustentar padrões no dia a dia, não só na temporada.
A meta é clara: dobrar o selo na cidade, saindo de uma praia certificada para duas sem perder a consistência nas exigências.
Como funciona a Bandeira Azul
O programa, coordenado pela Foundation for Environmental Education (FEE) e operado no Brasil pelo Instituto Ambientes em Rede, avalia cada praia a partir de um conjunto de 34 critérios, distribuídos em quatro eixos. O processo inclui candidatura, análise documental, auditorias de campo e monitoramento contínuo.
Quais critérios contam
- Qualidade da água: monitoramento regular, controle de esgoto e balneabilidade adequada durante toda a temporada.
- Gestão ambiental: limpeza constante da areia e do costão, pontos de coleta seletiva, proteção de fauna e flora locais.
- Educação ambiental: atividades com escolas, visitantes e comércio, painéis informativos e campanhas públicas.
- Segurança e serviços: guarda-vidas treinados, equipamentos de primeiros socorros, acessos e estruturas inclusivas, sanitários limpos.
| Critério | Exemplo prático no dia a dia |
|---|---|
| Balneabilidade | Coletas semanais e divulgação dos resultados em painéis na praia |
| Gestão de resíduos | Lixeiras a cada 50 a 100 metros e plano de coleta reforçada nos fins de semana |
| Acessibilidade | Rampa acessível, esteiras sobre a areia e cadeira anfíbia sob demanda |
| Segurança | Postos de guarda-vidas sinalizados, kits de resgate e comunicação por rádio |
| Educação | Oficinas mensais sobre maré, correntes de retorno e descarte de resíduos |
O que muda para moradores e visitantes
A certificação não se limita à bandeira no mastro. Ela puxa investimentos e rotinas que elevam a experiência de toda a orla. Comerciantes organizam logística de resíduos, ambulantes recebem orientação, banhistas encontram informações claras e quem vive perto sente a diferença na limpeza e no ordenamento.
- Sinalização de risco de correntes, qualidade da água e regras de convivência.
- Postos de guarda-vidas com equipamentos e rotas de emergência definidas.
- Banheiros operando em horário estendido e manutenção programada.
- Acessos adaptados, esteiras e apoio ao banho assistido para pessoas com deficiência.
- Calendário fixo de ações de educação ambiental com escolas e hotéis.
- Rotas de coleta de lixo e pontos de entrega voluntária em locais estratégicos.
O selo não é vitalício: auditorias anuais podem baixar a bandeira se a praia deixar de cumprir as regras.
Desafios no caminho
Conquistar a segunda bandeira pede constância. O mar muda, a maré sobe, a cidade lota nos feriados e o sistema precisa responder. Eventos climáticos, ligações clandestinas de esgoto e o volume de plásticos no verão são variáveis que podem comprometer indicadores de balneabilidade e gestão.
O município tende a priorizar ações de saneamento, fiscalização de ligações irregulares, reforço da limpeza e comunicação ativa com o público. A participação de condomínios, quiosques, marinas e clubes de praia ajuda a manter rotas de coleta e campanhas de redução de descartáveis.
Cronograma típico e próximos passos
Em geral, a praia candidata passa por uma fase de pré-avaliação, com envio de documentos e plano de ação. Em seguida, vêm auditorias de campo e ajustes finais antes da temporada. O comitê internacional analisa os dossiês nacionais e confirma a lista de praias habilitadas para o período do Hemisfério Sul.
- Preparação: diagnóstico de lacunas, obras pontuais e treinamento de equipes.
- Documentação: registros de monitoramento, planos de contingência e relatórios de educação ambiental.
- Auditoria: verificação presencial, entrevistas e checagem de infraestrutura.
- Operação: manutenção diária dos padrões e comunicação transparente ao público.
Como a comunidade pode participar
Moradores e frequentadores podem registrar problemas de esgoto, apoiar mutirões de limpeza e cobrar a manutenção dos equipamentos públicos. Escolas, surfistas e operadoras de turismo costumam liderar ações de educação ambiental e monitoramento participativo.
Quem vive de frente para o mar ajuda mantendo calçadas e ralos limpos, evitando varrer resíduos para as bocas de lobo e acolhendo rotas de coleta seletiva. Pequenos hábitos reduzem a pressão sobre drenagem e canaletas que escoam para a praia.
Termos e ideias para você acompanhar melhor
Balneabilidade
É a qualidade da água para banho. As análises medem indicadores microbiológicos. Quando os níveis passam dos limites, a água fica imprópria e as placas precisam informar com clareza.
Planos de contingência
Mapeiam riscos como ressacas, derramamentos e picos de chuva. Definem responsáveis, contatos, rotas e ações rápidas para reduzir danos à saúde e ao ambiente.
Ganhos e riscos do selo
Ganhos: reputação internacional, aumento da permanência média do turista, atração de eventos esportivos e valorização imobiliária próxima à orla. Riscos: perder a certificação se os padrões caírem, o que cobra cuidado constante com saneamento e gestão de resíduos.
Dicas práticas para quem usa a praia
- Verifique as placas de balneabilidade antes de entrar no mar e evite áreas com água turva após chuvas intensas.
- Leve sua garrafa reutilizável e recuse descartáveis quando possível.
- Use lixeiras fechadas nas saídas de praia; se estiverem cheias, traga o resíduo de volta.
- Respeite áreas de ninho de aves marinhas e trechos de restinga cercados.
- Em caso de acidentes, busque o posto de guarda-vidas mais próximo e informe o ocorrido para registro.
Para manter duas Bandeiras Azuis hasteadas, a cidade precisa que cada visitante jogue junto: menos lixo, mais cuidado e atenção às regras.
Se a segunda praia avançar na candidatura, Guarujá tende a consolidar um modelo de orla com metas, indicadores e transparência sobre a qualidade do mar. Esse caminho rende benefícios duradouros, mas exige disciplina: desde o emissário submarino até a lixeira do quiosque, tudo conta. A temporada passa; a gestão fica.


