Preços internacionais em queda e dólar instável redesenham o tabuleiro do leite. A movimentação de outubro já acendeu alertas.
O comércio exterior de lácteos voltou a mexer com margens e preços no Brasil. Com compras externas em alta e vendas menores, o saldo do mês recuou e reacendeu a disputa entre produto nacional e mercosulino nas prateleiras.
Balança volta ao vermelho
Em outubro, o déficit da balança comercial de lácteos atingiu 203,7 milhões de litros em equivalente-leite. O número resulta da combinação de importações maiores e exportações mais fracas na comparação mensal.
Saldo negativo em outubro: 203,7 milhões de litros em equivalente-leite, puxado por compras externas mais firmes.
As importações somaram 208,1 milhões de litros em equivalente-leite, alta de 8,2% frente a setembro e 2,3% acima de outubro do ano passado. No acumulado de janeiro a outubro de 2025, o país ainda importa menos que em 2024, com queda de 4,1%.
Do lado das vendas externas, o Brasil exportou 4,4 milhões de litros em equivalente-leite, queda de 23% ante setembro. Na comparação anual, o patamar ficou semelhante ao de outubro de 2024. No acumulado do ano até outubro, as exportações recuam 26,2% frente a 2024.
Mesmo com recuo de 4,1% no acumulado do ano, as importações já rondam níveis do segundo semestre de 2024.
O que puxou a curva em outubro
Exportações: retração concentrada em itens-chave
A comparação com setembro mostra movimentos bem diferentes entre os produtos.
- Leite UHT: forte ajuste, com queda de cerca de 67% após o pico do mês anterior.
- Soro de leite: redução próxima de 7%, afetando um dos pilares do volume exportado.
- Doce de leite: salto de 96%, chegando a 40 toneladas, ainda um volume pequeno, mas em expansão.
- Manteigas: avanço leve de 2%, mantendo o ritmo do mês anterior.
- Leite condensado: recuo de 5% no mês.
- Queijos: queda mais intensa, perto de 34% frente a setembro.
Importações: leite em pó lidera a alta
O avanço das compras externas se concentrou nos derivados utilizados como insumo industrial.
- Leite em pó integral: aumento de 14% na comparação mensal.
- Leite em pó desnatado: alta de 20%, reforçando a demanda de recombinação.
- Soro de leite: crescimento de 15%, seguindo o mesmo sinal do mês passado.
- Queijos: queda de 15% no volume importado.
- Manteigas: retração forte, perto de 59% na comparação mensal.
Preços e câmbio: por que isso mexe no seu bolso
O último leilão do GDT mostrou nova queda de preços globais, o que pressiona cotações no Mercosul e melhora a competitividade de Argentina e Uruguai contra o produto brasileiro. Esse quadro reaqueceu as importações por aqui, mesmo com o acumulado do ano ainda em baixa.
Ao mesmo tempo, o dólar segue volátil e mantém o setor em compasso de atenção. Um câmbio mais alto encarece o importado e protege a indústria local. Um câmbio mais baixo faz o produto externo ganhar fôlego e comprime margens domésticas.
Com oferta forte na região e câmbio oscilando, o Brasil volta a comprar perto dos volumes do fim de 2024.
Números de outubro em uma página
| Indicador | Out/2025 | Vs set/2025 | Vs out/2024 | Jan–out/2025 vs 2024 |
|---|---|---|---|---|
| Exportações (eq. leite) | 4,4 milhões L | -23% | estável | -26,2% |
| Importações (eq. leite) | 208,1 milhões L | +8,2% | +2,3% | -4,1% |
| Saldo (eq. leite) | -203,7 milhões L | — | — | — |
Como cada elo pode reagir
Produtores: foco no custo e no calendário
- Acompanhe preços de milho, farelo e energia, que definem o custo do litro produzido.
- Calibre o pico de produção com as janelas de negociação e bonificações de qualidade.
- Avalie contratos com gatilhos de preço e prazos mais longos para diluir volatilidade.
- Reforce indicadores de sólidos e CCS para capturar prêmios e evitar descontos.
Indústrias: compras, mix e repasse
- Balanceie recombinação com leite spot, considerando o câmbio e as curvas do leite em pó.
- Ajuste o mix entre queijos, UHT e ingredientes de acordo com a margem por canal.
- Trave parte do câmbio via NDF quando fizer sentido para suavizar o custo do importado.
- Mapeie origens no Mercosul e diversifique fornecedores para reduzir risco de ruptura.
Riscos e oportunidades no curto prazo
Se a temporada chuvosa sustentar maior oferta doméstica, os preços internos podem seguir pressionados, reduzindo o apetite por importações. Ainda assim, a competitividade do Mercosul deve manter o fluxo de entrada nos portos em nível elevado. Um choque no dólar mudaria o jogo rapidamente.
Para o varejo, um cenário de custos mais estáveis abre espaço para promoções táticas em UHT e queijos. Para o consumidor, isso tende a significar preços menos pressionados no curtíssimo prazo, com maior sensibilidade ao câmbio do que à oferta global isoladamente.
O que observar nas próximas semanas
- Próximos resultados do GDT e sua leitura sobre leite em pó integral e desnatado.
- Paridade de importação versus preço spot nacional nas principais praças.
- Tendência do câmbio e eventos macro que afetem o apetite por risco.
- Fluxo de embarques da Argentina e do Uruguai e prazos de entrega.
Para quem precisa planejar 2025, um caminho prático combina metas de custo por litro, travas parciais de insumo e câmbio, e contratos flexíveis que permitam reagir rápido. Pequenos ajustes mensais, guiados por dados de comércio exterior e indicadores de margem, costumam gerar ganhos maiores do que grandes mudanças tardias.


