Mudanças no imposto podem alterar seu orçamento e a forma como rendimentos de investimentos são tributados a partir de 2026.
A ampliação da faixa de isenção do IR e uma nova cobrança sobre lucros e dividendos para alta renda movimentam cálculos e expectativas. Entenda como os valores atingem salários, como funcionam as simulações e o que muda para quem recebe acima de R$ 600 mil ao ano.
Isenção de até R$ 5 mil: o que esperar
O Senado aprovou o aumento da isenção do IR para rendas de até R$ 5.000 por mês, com previsão de vigência a partir de janeiro de 2026, após sanção presidencial. A medida também cria um desconto gradualmente menor para quem recebe entre R$ 5.001 e R$ 7.350 mensais.
A partir de 2026, quem recebe até R$ 5.000 por mês fica isento. Entre R$ 5.001 e R$ 7.350, o alívio existe, mas diminui conforme a renda sobe.
As simulações oficiais apontam ganhos concretos no contracheque. Para salário de R$ 5.000, o alívio mensal estimado é de R$ 312,89. Em 12 meses, mais o décimo terceiro, a economia projetada alcança R$ 4.067. Para salário de R$ 7.000, a projeção é de R$ 46,61 por mês e R$ 605,87 no ano com o 13º.
- Até R$ 3.036: já isento pela tabela atual; sem mudança.
- R$ 5.000: ganho de R$ 312,89/mês; até R$ 4.067 no ano com 13º.
- R$ 7.000: ganho de R$ 46,61/mês; R$ 605,87 no ano com 13º.
- Acima de R$ 7.350: não há redução; segue a tabela progressiva vigente.
O projeto não altera a tabela progressiva para rendas acima de R$ 7.350. Quem se enquadra nessa faixa mantém a tributação atual. Nada muda também para quem já está isento pela tabela vigente.
Como funciona a faixa de transição até R$ 7.350
Entre R$ 5.001 e R$ 7.350, o benefício é parcial e vai diminuindo à medida que o salário aumenta. A lógica é preservar maior alívio para quem está mais próximo de R$ 5.000 e reduzir o ganho adicional conforme a renda se aproxima de R$ 7.350.
O objetivo é ampliar a renda disponível dos trabalhadores, com foco no piso de R$ 5.000, sem mexer na tabela para salários mais altos.
Alta renda: dividendos passam a pagar até 10%
O texto aprovado cria uma cobrança mínima para pessoas físicas com renda anual acima de R$ 600 mil, focada em lucros e dividendos, hoje isentos. A alíquota é progressiva e chega a 10% para rendimentos a partir de R$ 1,2 milhão no ano.
Quem tem apenas salário continua fora dessa cobrança. O desconto em folha de até 27,5% segue valendo pela tabela progressiva.
| Renda anual | Base atingida | Como fica |
|---|---|---|
| Até R$ 600.000 | Lucros e dividendos | Isento |
| De R$ 600.001 a R$ 1.199.999 | Lucros e dividendos | Alíquota progressiva, crescente conforme a renda |
| A partir de R$ 1.200.000 | Lucros e dividendos | 10% de tributação |
Há uma regra operacional relevante: se, em qualquer mês, a distribuição de lucros ou dividendos para o mesmo sócio superar R$ 50 mil, aplica-se 10% naquele mês. No acerto anual, o total de rendimentos e os valores já recolhidos são considerados, o que pode gerar compensações ou restituição.
A conta que define o imposto devido é anual. Descontos mensais maiores que o necessário podem ser recuperados na declaração do ano seguinte.
O texto também permite excluir da base de cálculo alguns rendimentos isentos por lei, como LCI e LCA. E autoriza abater valores já pagos a título de IR ao longo do ano.
Quanto o governo deixa de arrecadar e quem passa a ser isento
O impacto estimado da isenção até R$ 5.000 em 2026 é de R$ 25,8 bilhões. Para compensar a queda de arrecadação, o Congresso manteve a tributação progressiva de até 10% sobre lucros e dividendos de alta renda.
Com a sanção, o país deve superar 26,6 milhões de contribuintes isentos em 2026, algo próximo de 65% dos declarantes. Esse contingente reúne três grupos:
- Mais de 15,2 milhões que já estão isentos hoje.
- Quase 2 milhões beneficiados pela lei que elevou a isenção a dois salários mínimos.
- Quase 10 milhões que entram na nova isenção até R$ 5.000.
Como simular seu ganho de forma prática
Você pode estimar o efeito da mudança com base no seu contracheque e nas projeções divulgadas:
- Se o seu salário é de até R$ 5.000, use como referência os exemplos de alívio mensal e anual com 13º.
- Se recebe entre R$ 5.001 e R$ 7.350, considere que o ganho existe, mas é menor quanto mais perto de R$ 7.350.
- Acima de R$ 7.350, mantenha as mesmas retenções de hoje.
- Inclua o décimo terceiro no cálculo anual para ter uma projeção mais fiel.
Para quem tem participação em empresas, o planejamento deve considerar a nova regra de R$ 50 mil por mês em lucros ou dividendos. Distribuições concentradas em um único mês podem elevar a retenção na fonte, com ajuste apenas no acerto anual. Distribuições mais regulares reduzem oscilações de caixa ao longo do ano, sem alterar o imposto efetivo ao final.
O que observar antes de 2026
- Calendário: a vigência está prevista para janeiro de 2026, após sanção e regulamentação.
- Fontes de renda: salário segue na tabela progressiva; lucros e dividendos entram na nova sistemática para alta renda.
- Investimentos: rendimentos de LCI e LCA permanecem fora da base da nova cobrança.
- Documentos: organize informes de rendimentos e comprovantes de distribuição para facilitar o acerto anual.
Perguntas que ajudam a decidir seus próximos passos
- Seu salário ficará abaixo, dentro ou acima da faixa de R$ 5.001 a R$ 7.350 em 2026?
- Você recebe lucros ou dividendos que, somados, superam R$ 600 mil por ano?
- Há meses com distribuição acima de R$ 50 mil para o mesmo sócio? Se sim, prepare-se para retenção de 10% no mês.
- Quais rendimentos isentos (como LCI e LCA) você possui e como eles impactam sua base tributável?
Para trabalhadores assalariados, o ganho imediato virá em forma de menor desconto mensal quando a nova isenção começar a valer. Para quem tem renda variável de empresas, o foco passa a ser o fluxo de dividendos no ano e o controle de retenções mensais, sempre com a reconciliação na declaração do ano seguinte. A expectativa é de mais previsibilidade para a maioria dos assalariados e uma nova rotina de planejamento para os de alta renda.


