Investidores se mobilizam contra resort em Olímpia : você pagaria R$ 22 mil e ficaria sem retorno?

Investidores se mobilizam contra resort em Olímpia : você pagaria R$ 22 mil e ficaria sem retorno?

Enquanto turistas se divertem no Noroeste paulista, relatos de contratos confusos e promessas sedutoras circulam entre famílias e pequenos poupadores.

Nos bastidores do turismo de Olímpia (SP), centenas de compradores de cotas de multipropriedade tentam reaver valores e condições prometidas. O alvo das queixas é um empreendimento ligado ao Solar das Águas Park Resort, com ações que se acumulam e expõem um mercado ainda pouco compreendido pelo público.

O que está em disputa

Investidores alegam ter adquirido frações imobiliárias ligadas a apartamentos do Solar das Águas Park Resort, em Olímpia, acreditando unir lazer e renda. As ofertas, segundo relatos, foram feitas por equipes de vendas vinculadas à WGSA 02 Empreendimentos Imobiliários LTDA. A estratégia mirava turistas em momentos de descanso, com convites para apresentações e brindes.

Ao menos mil processos envolvendo a empresa constam nos registros do Tribunal de Justiça de São Paulo, com pedidos que vão de rescisão contratual a devolução de valores.

Uma das queixas mais recorrentes cita a promessa de uso dos quartos por determinados períodos, somada a participação em um “pool” de locação que garantiria retorno financeiro. Na prática, muitos compradores relatam dificuldade para utilizar as unidades, frustração com a renda esperada e cobrança de condomínio antes da plena conclusão das obras.

Como funcionavam as ofertas

Os vendedores procuravam turistas em parques aquáticos, vias de acesso e restaurantes da cidade. O script incluía promessa de valorização, facilidade de revenda e pagamentos diluídos. Em alguns casos, famílias ouviram que, além de usufruir férias anuais, receberiam parte da receita gerada pelas hospedagens.

Abordagem agressiva, promessa de “investimento seguro” e brindes para assistir a palestras formam o conjunto de relatos que chega às petições e audiências.

Promessas de uso e renda

A ideia de “duas em uma” — lazer e retorno — seduz. Mas a renda de locação depende de ocupação, tarifas praticadas, taxas de administração e sazonalidade. Parte dos compradores afirma que a projeção apresentada não se confirmou. Um morador de Registro (SP) diz ter aplicado cerca de R$ 22 mil, e, após dificuldades de contato e descumprimentos alegados, pediu a rescisão.

Números e a frente judicial

Levantamentos em bases públicas do Judiciário mostram um movimento volumoso. Em Olímpia, advogados locais ingressaram com dezenas de ações. Há notícias de demandas em outras comarcas. As teses incluem propaganda enganosa, vício de consentimento, rescisão com devolução de parte dos valores e questionamento de multas contratuais.

Nos autos, a empresa e seus representantes argumentam impactos da pandemia de Covid-19 e do cenário econômico para justificar atrasos e dificuldades. Consumidores, por sua vez, dizem que o problema começou antes ou que as promessas de renda e uso não tinham lastro. Em parte dos processos, juízes registram a dificuldade em localizar bens e valores para cumprir ressarcimentos, o que prolonga a espera.

Sem fluxo de caixa, ações ficam em compasso de espera: decisões reconhecem o direito, mas o dinheiro não aparece com rapidez.

Quem é o grupo e onde estão as frações

A WGSA 02 Empreendimentos Imobiliários LTDA tem origem em Goiás e reúne projetos em diferentes praças, segundo documentos judiciais. Em Olímpia, as frações se vinculam ao Solar das Águas Park Resort, marca voltada ao público que busca hospedagem próxima aos parques aquáticos da cidade. A vitrine turística ajuda a ampliar a base de compradores — muitos deles atraídos em visitas rápidas, sem tempo para analisar minúcias contratuais.

Multipropriedade sob a lupa

A multipropriedade no Brasil ganhou moldura legal com a Lei 13.777/2018. O modelo reparte o uso do imóvel em frações de tempo, com rateio de despesas. Quando há “pool” de locação, a administradora centraliza reservas e distribui receita entre os cotistas participantes, após taxas e despesas. Não se trata de renda fixa.

Promessa na venda O que costuma ocorrer
Renda “garantida” todo mês Receita varia com ocupação, preço e taxas; pode não cobrir condomínio
Uso fácil em qualquer data Calendário e regras limitam trocas, feriados e alta temporada
Valorização rápida e revenda simples Mercado secundário é restrito; revenda pode levar tempo e desconto

Riscos e cuidados ao avaliar a compra

  • Leia o regulamento de multipropriedade, o contrato e o regulamento do “pool”.
  • Simule cenários pessimistas de ocupação e tarifas antes de acreditar em projeções.
  • Cheque CNPJ, certidões e histórico de processos no tribunal do seu estado.
  • Entenda todas as taxas: condomínio, administração, fundo de reserva, IPTU, limpeza.
  • Evite decidir em apresentações longas e sob pressão; leve o contrato para casa.
  • Guarde prints, e-mails e folders que descrevem as promessas de venda.

Se você já comprou e quer rescindir

O Código de Defesa do Consumidor assegura direito de arrependimento de 7 dias para compras fora do estabelecimento, a contar da assinatura ou do recebimento do contrato. Passado o prazo, ainda é possível discutir cláusulas, multas e devoluções na Justiça, com base em propaganda enganosa ou descumprimento de oferta, quando comprovados.

Organize documentos: proposta, contrato, boletos, registros de cobrança, conversas e materiais publicitários. Busque orientação técnica. Em muitos casos, decisões autorizam a rescisão com restituição parcial, descontadas despesas, mas a efetiva devolução depende da capacidade financeira do devedor e de atos de execução.

Multipropriedade não é renda garantida; envolve custos recorrentes e depende de gestão, ocupação e sazonalidade do destino.

Por que Olímpia virou terreno fértil

Olímpia se consolidou como polo de parques aquáticos e hospedagem temática, atraindo famílias de várias regiões. O fluxo constante de visitantes cria uma vitrine para ofertas de multipropriedade. A promessa de passar férias em um lugar de alta demanda parece lógica. O risco aumenta quando a euforia da viagem pesa mais que a análise financeira fria.

Quanto realmente pode render

Considere um exemplo didático: diária média de R$ 400, ocupação efetiva de 50% do ano e taxa de administração de 30%. A receita bruta por unidade chega a cerca de R$ 73 mil anuais (365 x 0,5 x 400). Descontando administração (R$ 21,9 mil), tributos e despesas operacionais, a cifra encolhe. Dividida entre os participantes do “pool”, a parcela por fração pode não cobrir condomínio e demais encargos. O ponto de equilíbrio raramente aparece nos materiais comerciais.

Antes de assinar, faça sua própria simulação, use valores conservadores e compare com alternativas de investimento de risco semelhante. Se a meta principal for férias, encare a compra como consumo, não como aplicação financeira. Essa mudança de perspectiva reduz frustrações e ajuda a calibrar expectativas.

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