Uma casa recente no interior paulista reacende a vontade de viver entre brisa, sombra e água. O desenho surpreende e muda rotinas.
Em Vinhedo, um projeto da Apiacás Arquitetos transforma um lote plano e amplo em cenário de convivência a céu aberto. A proposta gira em torno de passagens cobertas, pátios, piscina e uma fogueira circular que reúne família e amigos sob o mesmo gesto arquitetônico.
Arquitetura que convida o exterior
Laje-marquise como gesto principal
O partido nasce de uma laje contínua que atravessa o terreno como uma marquise de geometria irregular. Esse elemento organiza o conjunto, cria sombra generosa e costura volumes fechados e vazios estratégicos.
A marquise desenha uma sequência fluida de cheios e vazios: salas, varandas, pátios, piscina e áreas de descanso ao ar livre.
Ao caminhar, a sensação é de estar sempre sob a mesma “asa” protetora, com aberturas que dosam luz e ventilação. O desenho dispensa excessos e aposta na clareza volumétrica.
Circulações abertas e pátios
As ligações entre os ambientes funcionam como varandas-circulações. São passagens cobertas e laterais abertas, sem caixilhos nem paredes. Isso dilui fronteiras e convida o exterior a participar da vida interna.
O conjunto forma pequenos pátios e claustros. No centro do pátio principal, um círculo rebaixado acolhe a fogueira. Ela vira ponto de encontro na meia-estação e equilibra o protagonismo da piscina nos dias quentes.
Ao priorizar circulações abertas, a casa assume o clima brasileiro como aliado: sombra, ventilação cruzada e transições suaves.
Programa que muda com você
Painéis ripados e usos flexíveis
Voltado para a rua, o primeiro bloco reúne hall, garagem e sauna. Painéis de madeira ripada contornam esse volume e operam com diferentes aberturas: portões basculantes na garagem, porta de pedestre e painéis pivotantes para o lado da piscina.
Quando fechados, esses painéis alinham-se e viram um único plano discreto. Quando abertos, revelam usos diversos e ampliam a área social. O morador controla privacidade, entrada de luz e permeabilidade visual com um gesto.
Estar, piscina e cozinha integrados
O estar principal se abre integralmente para a piscina. No lado oposto, a cozinha se conecta ao setor íntimo por uma circulação envidraçada, protegida e transparente. O bloco dos quartos gira sutilmente para ganhar melhor orientação solar, sem perder a lógica dos pátios.
Esse arranjo hierarquiza atividades diárias: receber, descansar, cozinhar e relaxar. A casa se estende para o quintal e a rotina passa a incluir sombra, água e fogo como partes do mesmo cenário.
Materiais, clima e manutenção
Concreto, vidro e madeira em diálogo
Três materiais conduzem a obra: concreto, vidro e madeira. O concreto garante inércia térmica, textura e durabilidade. O vidro abre a visão transversal, reforça a integração e potencializa a ventilação. A madeira ripada, com operação fina, regula luz e permeabilidade.
O resultado contém massa e leveza ao mesmo tempo. Paredes sólidas ancoram os volumes. Planos translúcidos e vãos generosos dão ritmo às fachadas.
Vegetação como quarto material
O projeto prevê que a vegetação amadureça e atravesse os espaços, costurando as transições entre dentro e fora. Sombras de árvores resfriam pisos, trepadeiras suavizam planos duros e jardins filtram ventos. A casa ganha camadas com o passar dos anos.
Com plantas crescendo sobre pátios e varandas, o desenho fica mais macio, reduz a demanda por ar-condicionado e valoriza o tempo como parte da obra.
Como essa lógica afeta o seu dia a dia
Ao adotar circulações abertas e pátios, a moradia muda hábitos e custos. O morador usa menos iluminação artificial durante o dia, ventila a casa sem esforço e amplia a área de uso sem aumentar a construção fechada. A fogueira no pátio cria um segundo estar noturno, enquanto a piscina vira extensão da sala.
- Conforto térmico: sombras profundas, brises ripados e ventilação cruzada estabilizam a temperatura.
- Privacidade modulável: painéis de madeira controlam vistas para a rua e para a piscina.
- Flexibilidade: garagem pode virar área de apoio para eventos, com painéis pivotantes abertos.
- Baixo consumo: mais luz natural e ar em movimento reduzem uso de equipamentos.
- Manutenção: madeira exige inspeção periódica, seladores adequados e drenagem correta junto aos pátios.
Dados do projeto
| Arquitetos | Apiacás Arquitetos |
| Cidade | Vinhedo (SP) |
| Área construída | 333 m² |
| Ano | 2022 |
| Fotografias | Alessandro Kusuki |
Por que a marquise muda tudo
A laje-marquise resolve clima e uso. Ela cria sombra contínua nos percursos, protege da chuva e conecta volumes independentes. Essa faixa coberta libera espaços entre blocos para respirar, receber paisagismo e organizar as atividades em sequência. A leitura espacial fica intuitiva e a circulação, mais agradável.
O que observar antes de aplicar no seu terreno
Quem pensa em adotar um modelo com pátios e circulações abertas deve analisar insolação, ventos dominantes e vizinhança. Em lotes com muito ruído, vale trabalhar trechos com caixilhos fecháveis e jardins densos como anteparo. Em regiões de inverno mais rigoroso, a fogueira e pisos aquecidos externos ajudam a manter o pátio em uso.
Riscos e vantagens que pesam no bolso
Vantagens: menos dependência de ar-condicionado, mais qualidade de ar e maior uso das áreas externas. Riscos: manutenção da madeira e da drenagem. Painéis precisam de ferragens resistentes, revestimentos com proteção UV e revisão das dobradiças. Pátios devem ter caimento correto para evitar empoçamentos e manchas.
Exemplo de rotina com esse desenho
De manhã, a luz entra filtrada pelos ripados enquanto o ar cruza a casa pelos vãos laterais. À tarde, a marquise resguarda o estar enquanto a piscina recebe sol controlado. À noite, a fogueira acende o pátio central e cria um segundo núcleo de reunião sem precisar da sala.
Informações complementares para quem pretende adotar soluções abertas
Termo a observar: “varandas-circulações”. Elas funcionam como corredores que também são espaços de estar. Para dimensionar, garanta largura mínima confortável para duas pessoas caminharem lado a lado e preveja tomadas, pontos de luz e ralos ocultos. Um bom projeto de paisagismo aumenta a sensação térmica de conforto e bloqueia vistas indesejadas.
Simulação útil: estime a economia energética somando horas de uso natural versus horas com climatização. Em climas quentes, soluções como a marquise e os ripados tendem a reduzir picos de carga elétrica vespertinos. Isso alivia a conta e alonga a vida útil de equipamentos.


