Fazendas e laticínios no Paraná enfrentam margens apertadas, importações elevadas e decisões que mexem com o caixa do mês.
Com base no andamento do mercado e nas contas do Conseleite/PR, o pagamento de novembro/25 ganha um norte. A diretoria atualizou a projeção para o leite entregue em outubro/25, usando preços de derivados e o mix de vendas das indústrias participantes. O sinal serve para orientar contratos, bonificações e planejamento de curto prazo.
O que muda para quem entrega leite no Paraná
O Conseleite-Paraná se reuniu em 28 de outubro de 2025, na sede da FAEP, em Curitiba, e validou a referência que baliza o pagamento de novembro/25. O colegiado avaliou os valores de referência realizados em setembro/25 e projetou outubro/25 com a metodologia já conhecida: preços médios dos derivados e o mix de comercialização reportados pelas indústrias que integram o painel.
Pagamento de novembro/25 reflete o leite entregue em outubro/25 e o desempenho do mix de derivados no varejo e no atacado.
Referência e padrão de qualidade
O “leite padrão” usado como base de cálculo considera composição e higiene específicas. Quem supera esses números tende a disputar bonificações; quem fica abaixo, enfrenta descontos.
- Gordura: 3,50%
- Proteína: 3,10%
- CCS: até 500 mil células/mL
- CBT: até 300 mil ufc/mL
Para o leite pasteurizado, a projeção para outubro/25 ficou em R$ 4,2740 por litro.
Esse preço do pasteurizado compõe a cesta de derivados usada no modelo. Ele não equivale ao valor pago ao produtor, mas influencia a referência da matéria-prima.
Oferta alta pressiona preços no campo
A colheita de primavera empurra a produção, melhora o pasto e reduz o custo por litro. A captação nas fazendas sobe. As importações seguem volumosas na comparação com a demanda doméstica. O consumo interno permanece estável. Com prateleiras abastecidas e concorrência acirrada, as indústrias negociam com mais folga e seguram o preço ao produtor.
O efeito mix: o que pesa na conta
Quando o mix favorece produtos de menor valor agregado ou promoções, a receita média das indústrias recua. O reflexo cai no preço de referência da matéria-prima. Já quando queijos, leites UHT e pasteurizado sustentam preços melhores, a referência tende a reagir.
| Data da reunião | 28/10/2025 |
|---|---|
| Base do pagamento | Leite entregue em outubro/25, pago em novembro/25 |
| Produto do mix | Leite pasteurizado |
| Valor projetado | R$ 4,2740 por litro |
| Padrão de qualidade | 3,50% gordura; 3,10% proteína; CCS 500 mil; CBT 300 mil ufc/mL |
Como se posicionar para novembro
O cenário apertado exige gestão. Pequenos ajustes na qualidade e nos custos podem compensar parte da pressão de preços.
Movimentos práticos para a fazenda
- Foco nos sólidos: ajuste de dieta para elevar gordura e proteína sem sacrificar sanidade.
- Higiene e ordenha: rotinas firmes reduzem CCS e CBT, liberam bonificações e evitam penalidades.
- Frete e logística: agrupe volumes, revise rotas e horários para diminuir custo por litro entregue.
- Estoque de ração: avalie compras antecipadas de milho e farelo, de olho no câmbio e no clima.
- Negociação: alinhe com o laticínio como a qualidade acima do padrão entra na fórmula de preço.
Simulações rápidas para orientar decisões
Sem um valor de referência público para o leite cru nesta rodada, use percentuais para testar cenários com seu laticínio:
- Se o bônus por sólidos for de 3% e sua composição superar o padrão, a receita sobe na mesma proporção.
- Uma queda de 100 mil células/mL na CCS pode destravar bonificações graduais previstas em contrato.
- Economia de R$ 0,08 por litro no frete compensa recuos moderados do preço no campo.
Quem entrega dentro do padrão e captura bonificações por qualidade tende a amortecer a pressão de baixa.
Sinais do mercado que merecem vigilância
Alguns fatores podem mudar a direção do preço no curto prazo. Acompanhe, compare com sua realidade e ajuste o planejamento.
O que observar nas próximas semanas
- Clima na primavera: chuva consistente favorece pasto, mas excesso compromete conforto e sanidade do úbere.
- Câmbio: variações no real alteram a competitividade de importados e o custo de insumos.
- Importações: entradas elevadas mantêm pressão no atacado; recuos aliviam a indústria e a matéria-prima.
- Varejo: promoções de fim de ano mexem no giro de UHT, queijos e iogurtes e reorientam o mix.
- Custos de ração: milho e soja definem a margem no cocho; trave compras quando a relação de troca ficar favorável.
Como ler a referência do Conseleite no seu contrato
A referência do Conseleite orienta, mas cada indústria aplica regras próprias. Verifique a fórmula do seu contrato. Veja como entram qualidade, volume, sazonalidade e logística. Alguns compradores adotam defasagem de um mês no repasse do indicador. Outros usam janelas quinzenais. Alinhe expectativas, especialmente em períodos de oferta crescente.
Exemplo prático de conversa com o laticínio
- Qual é a base: referência do Conseleite-PR ou negociação spot?
- Quais bonificações e penalidades por gordura, proteína, CCS e CBT?
- Há prêmio por volume ou fidelidade no último trimestre?
- Como o frete entra na composição do preço por litro?
- Qual é a data de corte para ajustar o preço de novembro/25?
Transparência na fórmula e disciplina na qualidade reduzem surpresa no fechamento do mês.
Para ampliar o controle, crie um painel simples com produção diária, composição de sólidos, CCS/CBT, custo de ração por litro e frete por litro. Atualize toda semana. Compare com a referência indicada e projete três cenários: base, otimista e conservador. Essa rotina ajuda a decidir compras de insumos, ritmo de produção e momento de negociar volume.
Se você pensa em expandir produção, simule a relação de troca: quantos litros sua fazenda precisa vender, no preço de referência atual, para pagar uma tonelada de milho ou de concentrado. Quando a relação encurta, a margem respira. Quando alonga, ajuste o cocho, proteja o caixa e mantenha a qualidade para segurar bonificações.


