Mantiqueira de Minas vence com 91,68 pontos: você já provou o café que vai a leilão em dezembro?

Mantiqueira de Minas vence com 91,68 pontos: você já provou o café que vai a leilão em dezembro?

Uma xícara premiada nasce nas montanhas e chama atenção de compradores de fora. Você vai querer saber por quê.

O Brasil voltou ao foco dos cafés especiais. No Cup of Excellence 2025, um microlote da Mantiqueira de Minas conquistou notas altíssimas e colocou o Sul de Minas no centro das conversas entre torrefadores e baristas do mundo inteiro.

O que é o Cup of Excellence

O Cup of Excellence é a principal vitrine para cafés especiais. Juízes de vários países avaliam amostras às cegas, em rodadas sucessivas de degustação. A ficha técnica considera fragrância, acidez, doçura, corpo, uniformidade e equilíbrio. A escala vai até 100. Abaixo de 86 pontos, o lote não entra na lista vencedora. Acima de 90, recebe a cobiçada distinção presidencial, sinal de raridade sensorial.

Nesta edição brasileira, a competição reuniu categorias por método de preparo do grão. Houve provas para cafés de fermentação induzida (Experimental), secos com casca (Via Seca, também chamados de naturais) e processados por via úmida, como descascados, despolpados ou desmucilados.

Campeão geral: Fazenda Rio Verde, Conceição do Rio Verde (MG). Categoria Experimental. Nota 91,68.

Quem levou as primeiras posições

Produtores do Sul de Minas ocuparam 22 colocações entre os melhores do país. A vitória da Mantiqueira de Minas veio acompanhada por pódios em diferentes categorias, reforçando a consistência da região em qualidade e diversidade de perfis sensoriais.

Categoria Colocação Produtor Município Pontuação
Experimental Fazenda Rio Verde Conceição do Rio Verde (MG) 91,68
Experimental José Carlos dos Reis (Fazenda Rancho Grande) Três Pontas (MG) 91,11
Experimental Sebastião Daniel da Silva (Sítio São Sebastião) Cristina (MG) 90,29
Via seca Paulo Fernando Chaves de Brito (Fazenda Aracaçu) Três Pontas (MG) 90,79
Via úmida Marcelo Carvalho Ferraz (Fazenda Boa Vista) Dom Viçoso (MG) 90,82

Como funcionam as categorias

Experimental reúne processos com fermentação dirigida, muitas vezes com leveduras selecionadas e controle de temperatura e oxigênio. Via Seca concentra cafés secos com a casca ao sol, o que tende a acentuar doçura e corpo. Via Úmida abarca descascados, despolpados ou desmucilados, com ênfase em limpeza de xícara e acidez definida.

  • Altitudes elevadas favorecem acidez vibrante e aromas nítidos.
  • Colheita seletiva eleva uniformidade e doçura.
  • Processos bem conduzidos reduzem defeitos e ampliam complexidade.
  • Rastreabilidade agrega valor e confiança ao comprador.

Produtores do Sul de Minas somaram 22 colocações no ranking do Cup of Excellence 2025.

Por que a Mantiqueira de Minas se destaca

O maciço da Mantiqueira oferece amplitude térmica, solos bem drenados e altitudes que chegam a 1.500 metros. Essas condições retardam o amadurecimento e concentram açúcares no fruto. O resultado aparece na xícara: doçura persistente, acidez cítrica ou málica e finalização limpa. Pequenos e médios produtores mantêm manejo cuidadoso, com lotes separados por talhão, variedade e dia de colheita.

Na região, é comum a presença de catuaí, bourbon, catucaí e arara, entre outras cultivares. Cada variedade reage de modo diferente ao processo. O produtor decide o caminho ao provar amostras e ajustar perfis. Essa atenção ao detalhe sustenta a reputação da Mantiqueira há anos e explica por que tantos municípios vizinhos aparecem entre os premiados.

O que muda com o leilão de dezembro

Os lotes vencedores seguem para leilão internacional. Torrefações de Ásia, Europa, Estados Unidos e Oriente Médio disputam microlotes raros. O formato é on-line, com janela curta de lances. Quando a nota ultrapassa 90 pontos, a disputa costuma ficar intensa. Historicamente, alguns cafés já superaram a marca de 100 dólares por libra, valor muito acima do mercado convencional.

Para o produtor, a venda abre portas, gera relacionamento e reforça a marca da fazenda. Para o comprador, o pacote inclui qualidade comprovada em cupping profissional e documentação de origem. A logística exige cuidado: o microlote fica em sacas com barreira de oxigênio e segue com armazenagem monitorada para preservar os aromas até a torra.

  • O que o comprador leva: microlote numerado, pontuação oficial e histórico do processamento.
  • O que o produtor ganha: prêmio direto, visibilidade e acesso a mercados especializados.
  • O que o consumidor sente: perfis raros, como notas florais, frutadas maduras e acidez cristalina.

Quem é a lenda da excelência homenageada

Durante o evento, Luiz Paulo Dias Pereira Filho, de Carmo de Minas, recebeu o título de “Lenda da Excelência”. O reconhecimento vai para produtores que marcaram presença repetidas vezes nas fases finais do concurso. No caso dele, foram 23 participações decisivas. A partir de agora, ele não concorre mais, o que reforça seu papel como referência e mentor para novas gerações de cafeicultores de qualidade.

Como você pode sentir essa xícara

Quer aproveitar o momento e preparar um café de alto nível em casa? A base é simples: frescor, proporção e água limpa. Dê preferência a torra recente, moa na hora e use balança. Abaixo, um guia rápido para método filtrado.

  • Descanso pós-torra: 5 a 14 dias, dependendo do perfil do grão.
  • Moagem: média a média-fina para filtros de papel.
  • Proporção: 1:15 (por exemplo, 20 g de café para 300 g de água).
  • Água: 92–96 °C, sempre filtrada.
  • Fluxo: pré-infusão de 30–45 segundos, seguida de duas a três vertidas controladas.
  • Tempo total: 2:30 a 3:30, ajustando moagem conforme o escoamento.

Quem organiza e por que isso importa para o setor

O concurso no Brasil é organizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Alliance for Coffee Excellence (ACE). Esse arranjo conecta fazendas, compradores e torrefadores, gera métricas comparáveis e cria um calendário anual que movimenta o comércio de microlotes e o turismo rural.

Glossário rápido para você acompanhar as conversas

  • Fermentação induzida: uso de leveduras e variáveis controladas para orientar o metabolismo do fruto e do mucilagem.
  • Via seca: secagem do café com a casca, geralmente em terreiro ou camas suspensas; costuma trazer doçura alta e corpo denso.
  • Via úmida: retirada de casca e/ou mucilagem antes da secagem; tende a enfatizar acidez e limpeza sensorial.
  • Microlote: pequena parcela do café separada por talhão, variedade ou processo, com rastreabilidade completa.
  • Pontuação CoE: escala sensorial de 0 a 100; cafés vencedores partem de 86 pontos, e acima de 90 entram na faixa presidencial.

Para quem pensa em investir nesses cafés, vale simular diferentes moagens e receitas com pequenas doses para entender a extração. Anote tempo, proporção e sensações na boca. Esse diário acelera o acerto do ponto e ajuda a comparar safras, processos e origens com precisão.

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