Uma xícara premiada nasce nas montanhas e chama atenção de compradores de fora. Você vai querer saber por quê.
O Brasil voltou ao foco dos cafés especiais. No Cup of Excellence 2025, um microlote da Mantiqueira de Minas conquistou notas altíssimas e colocou o Sul de Minas no centro das conversas entre torrefadores e baristas do mundo inteiro.
O que é o Cup of Excellence
O Cup of Excellence é a principal vitrine para cafés especiais. Juízes de vários países avaliam amostras às cegas, em rodadas sucessivas de degustação. A ficha técnica considera fragrância, acidez, doçura, corpo, uniformidade e equilíbrio. A escala vai até 100. Abaixo de 86 pontos, o lote não entra na lista vencedora. Acima de 90, recebe a cobiçada distinção presidencial, sinal de raridade sensorial.
Nesta edição brasileira, a competição reuniu categorias por método de preparo do grão. Houve provas para cafés de fermentação induzida (Experimental), secos com casca (Via Seca, também chamados de naturais) e processados por via úmida, como descascados, despolpados ou desmucilados.
Campeão geral: Fazenda Rio Verde, Conceição do Rio Verde (MG). Categoria Experimental. Nota 91,68.
Quem levou as primeiras posições
Produtores do Sul de Minas ocuparam 22 colocações entre os melhores do país. A vitória da Mantiqueira de Minas veio acompanhada por pódios em diferentes categorias, reforçando a consistência da região em qualidade e diversidade de perfis sensoriais.
| Categoria | Colocação | Produtor | Município | Pontuação |
|---|---|---|---|---|
| Experimental | 1º | Fazenda Rio Verde | Conceição do Rio Verde (MG) | 91,68 |
| Experimental | 2º | José Carlos dos Reis (Fazenda Rancho Grande) | Três Pontas (MG) | 91,11 |
| Experimental | 3º | Sebastião Daniel da Silva (Sítio São Sebastião) | Cristina (MG) | 90,29 |
| Via seca | 1º | Paulo Fernando Chaves de Brito (Fazenda Aracaçu) | Três Pontas (MG) | 90,79 |
| Via úmida | 2º | Marcelo Carvalho Ferraz (Fazenda Boa Vista) | Dom Viçoso (MG) | 90,82 |
Como funcionam as categorias
Experimental reúne processos com fermentação dirigida, muitas vezes com leveduras selecionadas e controle de temperatura e oxigênio. Via Seca concentra cafés secos com a casca ao sol, o que tende a acentuar doçura e corpo. Via Úmida abarca descascados, despolpados ou desmucilados, com ênfase em limpeza de xícara e acidez definida.
- Altitudes elevadas favorecem acidez vibrante e aromas nítidos.
- Colheita seletiva eleva uniformidade e doçura.
- Processos bem conduzidos reduzem defeitos e ampliam complexidade.
- Rastreabilidade agrega valor e confiança ao comprador.
Produtores do Sul de Minas somaram 22 colocações no ranking do Cup of Excellence 2025.
Por que a Mantiqueira de Minas se destaca
O maciço da Mantiqueira oferece amplitude térmica, solos bem drenados e altitudes que chegam a 1.500 metros. Essas condições retardam o amadurecimento e concentram açúcares no fruto. O resultado aparece na xícara: doçura persistente, acidez cítrica ou málica e finalização limpa. Pequenos e médios produtores mantêm manejo cuidadoso, com lotes separados por talhão, variedade e dia de colheita.
Na região, é comum a presença de catuaí, bourbon, catucaí e arara, entre outras cultivares. Cada variedade reage de modo diferente ao processo. O produtor decide o caminho ao provar amostras e ajustar perfis. Essa atenção ao detalhe sustenta a reputação da Mantiqueira há anos e explica por que tantos municípios vizinhos aparecem entre os premiados.
O que muda com o leilão de dezembro
Os lotes vencedores seguem para leilão internacional. Torrefações de Ásia, Europa, Estados Unidos e Oriente Médio disputam microlotes raros. O formato é on-line, com janela curta de lances. Quando a nota ultrapassa 90 pontos, a disputa costuma ficar intensa. Historicamente, alguns cafés já superaram a marca de 100 dólares por libra, valor muito acima do mercado convencional.
Para o produtor, a venda abre portas, gera relacionamento e reforça a marca da fazenda. Para o comprador, o pacote inclui qualidade comprovada em cupping profissional e documentação de origem. A logística exige cuidado: o microlote fica em sacas com barreira de oxigênio e segue com armazenagem monitorada para preservar os aromas até a torra.
- O que o comprador leva: microlote numerado, pontuação oficial e histórico do processamento.
- O que o produtor ganha: prêmio direto, visibilidade e acesso a mercados especializados.
- O que o consumidor sente: perfis raros, como notas florais, frutadas maduras e acidez cristalina.
Quem é a lenda da excelência homenageada
Durante o evento, Luiz Paulo Dias Pereira Filho, de Carmo de Minas, recebeu o título de “Lenda da Excelência”. O reconhecimento vai para produtores que marcaram presença repetidas vezes nas fases finais do concurso. No caso dele, foram 23 participações decisivas. A partir de agora, ele não concorre mais, o que reforça seu papel como referência e mentor para novas gerações de cafeicultores de qualidade.
Como você pode sentir essa xícara
Quer aproveitar o momento e preparar um café de alto nível em casa? A base é simples: frescor, proporção e água limpa. Dê preferência a torra recente, moa na hora e use balança. Abaixo, um guia rápido para método filtrado.
- Descanso pós-torra: 5 a 14 dias, dependendo do perfil do grão.
- Moagem: média a média-fina para filtros de papel.
- Proporção: 1:15 (por exemplo, 20 g de café para 300 g de água).
- Água: 92–96 °C, sempre filtrada.
- Fluxo: pré-infusão de 30–45 segundos, seguida de duas a três vertidas controladas.
- Tempo total: 2:30 a 3:30, ajustando moagem conforme o escoamento.
Quem organiza e por que isso importa para o setor
O concurso no Brasil é organizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Alliance for Coffee Excellence (ACE). Esse arranjo conecta fazendas, compradores e torrefadores, gera métricas comparáveis e cria um calendário anual que movimenta o comércio de microlotes e o turismo rural.
Glossário rápido para você acompanhar as conversas
- Fermentação induzida: uso de leveduras e variáveis controladas para orientar o metabolismo do fruto e do mucilagem.
- Via seca: secagem do café com a casca, geralmente em terreiro ou camas suspensas; costuma trazer doçura alta e corpo denso.
- Via úmida: retirada de casca e/ou mucilagem antes da secagem; tende a enfatizar acidez e limpeza sensorial.
- Microlote: pequena parcela do café separada por talhão, variedade ou processo, com rastreabilidade completa.
- Pontuação CoE: escala sensorial de 0 a 100; cafés vencedores partem de 86 pontos, e acima de 90 entram na faixa presidencial.
Para quem pensa em investir nesses cafés, vale simular diferentes moagens e receitas com pequenas doses para entender a extração. Anote tempo, proporção e sensações na boca. Esse diário acelera o acerto do ponto e ajuda a comparar safras, processos e origens com precisão.


