No Rio, uma operação policial reacende disputas, revela conexões invisíveis e levanta perguntas que tocam seu cotidiano.
A cúpula da Segurança Pública do Rio começou a detalhar resultados de uma ação em larga escala. Entre os mortos, surgem nomes considerados peças-chave do Comando Vermelho em outros estados. As forças apontam os complexos da Penha e do Alemão como centro de decisões e treinamento da facção. O principal alvo, Edgar Alves de Andrade, o Doca, escapou.
O que está por trás da ofensiva
Autoridades fluminenses relatam que a megaoperação atingiu quadros estratégicos do crime organizado. O mapa do poder no Rio se conectaria a redes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O objetivo declarado mira a estrutura interestadual do Comando Vermelho, com pressão sobre rotas, chefias locais e logística de armas e drogas.
Penha e Alemão operam como QG nacional do CV, com decisões e treinamento armados que irradiam para outros estados, segundo a Polícia Civil.
Ao centralizar treinos e padronizar métodos, a facção tenta manter coesão e disciplina em bases fora do Rio. Essa engrenagem influi no preço de drogas, no fluxo de armas e na disputa por territórios em capitais e cidades médias.
Quem são os mortos identificados
Entre os mortos, a polícia lista nove nomes vinculados a comandos regionais. Há perfis com condenações antigas, foragidos e investigados recentes. Em um caso, há divergência pública sobre a posição ocupada no estado de origem.
| Nome/alcunha | Estado | Papel apontado | Situação anterior |
|---|---|---|---|
| Douglas Conceição de Souza (“Chico Rato”) | AM | Atuação em Manaus; ligação histórica com a antiga FDN e ascensão no CV | Condenado a 40 anos por duplo homicídio; regime semiaberto por porte de arma; respondia por outro homicídio |
| Francisco Myller M. da Cunha (“Gringo”) | AM | Articulação em Eirunepé/Manaus | Foragido desde abril de 2024 por homicídio e organização criminosa |
| Alisson Lemos Rocha (“Russo”/“Gordinho do Valão”) | ES | Liderança local na Serra, segundo investigações capixabas | Investigado por homicídio em 2025; polícia do RJ o citou como chefe em Vitória; polícia do ES contesta a posição |
| Danilo Ferreira do Amor Divino (“Mazola”/“Dani”) | BA | Chefia do tráfico em Feira de Santana | Apontado por autoridades do RJ como liderança da praça |
| Diogo Garcez Santos Silva (“DG”) | BA | Atuação em Feira de Santana | Passagens por associação para o tráfico e porte ilegal de arma |
| Fábio Francisco Santana Sales (“FB”) | BA | Atuação no interior baiano | Passagem por ameaça registrada em Alagoinhas |
| Wesley Martins (“PP”) | PA | Integrante procurado em Belém | Procurado pela polícia do Pará; imagem dele com artista circulou em redes, sem contexto verificado |
| Fernando Henrique dos Santos | GO | Atuação criminosa recorrente na década | Primeira prisão em 2014; registros de novos crimes até 2020; estava foragido |
| Marcos Vinicius (“Rodinha”) | GO | Comando local em Itaberaí e Goiânia, segundo o RJ | Condenado a 8 anos e 7 meses; solto em 2024 por nulidade de provas; antecedentes por roubo e tráfico |
O alvo que fugiu do cerco
O traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, era o principal objetivo da ação. Ele desponta como a maior liderança do CV em liberdade. Na hierarquia, fica abaixo de Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar, ambos em presídios federais. A fuga preserva capacidade de coordenação e pode acelerar substituições em áreas onde chefes morreram.
Doca segue em liberdade. O cerco se intensifica, com prioridade máxima para interceptar sua rede de apoio.
Impactos imediatos para moradores
Grandes operações alteram rotinas. O policiamento permanece reforçado próximo a acessos aos complexos. Rotas de ônibus e serviços públicos podem sofrer ajustes. Disputas por espaços deixados por lideranças mortas tendem a acender tensões pontuais.
- Verifique atualizações de trânsito antes de sair para o trabalho ou escola.
- Evite vias internas de comunidades com ocorrência recente de confrontos.
- Use canais oficiais para denúncias anônimas, com horários e pontos de referência precisos.
- Escolas e unidades de saúde podem operar com horários adaptados em áreas críticas.
Repercussão nos estados
Mortes de operadores experientes exigem recomposição rápida. Facções rivais podem testar fronteiras em bairros disputados. A coordenação entre secretarias estaduais e a Polícia Federal tende a acelerar diligências. Investigadores acompanham sinais de migração de quadros para cidades médias com menos presença policial.
As decisões tomadas no Rio influenciam preços, abastecimento e violência letal em capitais como Manaus, Belém e Salvador.
Método, treinamento e rede
A Polícia Civil descreve a formação de quadros nos complexos, com padronização de táticas de ataque, defesa de território e comunicação. O uso de armamento de grosso calibre e rádios dedicados reforça a autonomia local. A facção adota uma lógica de “franquia”, na qual regras comuns convivem com autonomia operacional nas praças regionais.
Essa engenharia operacional cria resiliência. Quando um líder cai, outro assume com manual de procedimentos e rotas já testadas. O desafio policial passa por descapitalizar a estrutura. Isso envolve apreender armas, cortar o fluxo de dinheiro e reduzir a capacidade de corromper agentes públicos.
Checagens e pontos de atenção
Em ao menos um caso, há divergência entre o que diz a polícia do Rio e a avaliação da polícia capixaba sobre a hierarquia de “Russo”. Esse tipo de inconsistência pede validação cruzada com inquéritos locais. Identificações finais dependem de perícias, exames balísticos e confronto de dados com investigações abertas.
Listas preliminares podem mudar após exames e confirmações oficiais. A transparência no balanço reduz boatos e revitimizações.
O que esperar nos próximos dias
Devem ocorrer novas prisões de foragidos ligados às bases fluminenses. Perícias vão conectar armas apreendidas a crimes anteriores. Autoridades prometem patrulhamento contínuo em acessos a comunidades, com ações integradas de inteligência. Secretarias nos estados de origem dos mortos monitoram possíveis retaliações e movimentos de sucessão.
Informações complementares para entender o cenário
QG, ou quartel-general, designa o núcleo que concentra decisões, logística e treinamento. A expressão aparece nas investigações para indicar o papel dos complexos na coordenação nacional. Regime semiaberto permite trabalho externo com restrições e retorno para dormir em unidade prisional. Mandado de prisão preventiva busca interromper riscos concretos de fuga, ameaça a testemunhas ou continuidade delitiva durante o inquérito.
No curto prazo, a morte de lideranças pode gerar “efeito substituição”. Novos nomes tentam ocupar lacunas com ações violentas para demonstrar força. Por outro lado, há “janelas” para operações cirúrgicas e políticas públicas que esvaziem a base de apoio do crime. Programas de proteção a jovens em risco, reordenamento urbano e policiamento orientado por dados reduzem reincidência e ampliam a presença do Estado onde o CV recruta.


