Em noites de incerteza, um bar do centro ajusta a rota e convida o público a repensar o que vai ao copo.
Casos de adulteração abalaram a confiança e atingiram o caixa de bares na capital. O Orfeu, em São Paulo, reagiu com um menu que troca o foco dos destilados para vinhos, cervejas e licores, enquanto a clientela busca segurança sem abrir mão de sabor e preço justo.
O que mudou no balcão do Orfeu
O Orfeu redesenhou a carta de coquetéis para um cenário em que a palavra-chave virou prudência. A casa elevou vinhos e cervejas a protagonistas. Licores também ganharam espaço, já que não aparecem nos relatos recentes de falsificação. A equipe manteve a veia autoral e afagou o paladar do cliente com composições menos expostas ao risco e com perfis aromáticos variados.
Coquetéis à base de vinho e licores assumem o centro do palco enquanto o público evita destilados puros.
Por que o público fugiu dos destilados
A adulteração com metanol em São Paulo gerou uma retração imediata no consumo de destilados. Dados da Apressa, em parceria com a ZigPay, mostram queda de 27% no faturamento do setor entre 22 de setembro e 4 de outubro. Gin, vodka, cachaça e whisky lideraram a baixa. Já espumantes, vinhos e RTDs (drinks prontos) avançaram, por transmitirem maior sensação de controle e rastreabilidade.
Entre 22/9 e 4/10, bares perderam 27% de faturamento com destilados; vinhos, espumantes e RTDs cresceram.
A nova carta, drink a drink
O cardápio autoral mira frescor, doçura moderada, amargor elegante e preços acessíveis. A seguir, os destaques e seus perfis de sabor.
| Drink | Base | Notas de sabor | Preço |
|---|---|---|---|
| Rosa Spritz | Aperol, vinho branco, cordial de grapefruit | Cítrico, leve amargor, frutado | R$ 39 |
| Ginger 43 | Licor 43, refrigerante de gengibre | Doce aromático, picância sutil do gengibre | R$ 42 |
| Eu Deveria Coco | Baileys, Frangelico, água de coco, vinho branco | Cremoso, avelã, coco refrescante | R$ 39 |
| Martini de Chocolate | Licor de café, amaro, café espresso | Amargor elegante, café intenso, toque de cacau | R$ 37 |
| Jerez Colada | Jerez, coco, abacaxi | Tropical, salinidade discreta do Jerez | R$ 46 |
| Porto Tônica | Vinho do Porto, tônica | Doçura equilibrada, amargor da tônica | R$ 52 |
| Paisley Spritz | Drambuie, mel, vinho branco | Mel especiado, final macio | R$ 29 |
A decisão de ampliar o papel do vinho dialoga com uma tendência do salão: o cliente quer transparência no rótulo, controle de origem e previsibilidade no sabor. Licores, adoçados e aromatizados, entram como ponte entre o universo dos destilados e uma experiência percebida como mais estável.
Segurança e experiência: como o bar busca reconquistar você
O Orfeu usa a criatividade para manter a confiança. A carta prioriza composições com ingredientes de rótulo claro e combinações com baixo teor alcoólico, o que favorece o consumo responsável. O preço conversa com o bolso, algo decisivo quando a incerteza bate na porta.
Conversas no balcão ganham valor. O cliente pergunta mais. O bartender explica insumos, origem e método. Rituais como abrir garrafas na frente do público e detalhar a receita reduzem a ansiedade e ajudam a retomar o hábito social de brindar sem receio.
O que o consumidor pode fazer já
- Prefira cartas com vinhos, espumantes, cervejas e RTDs enquanto a onda de adulteração não cessa.
- Peça para ver a garrafa e o rótulo quando optar por um destilado ou licor.
- Desconfie de preços muito abaixo da média e de promoções agressivas em marcas conhecidas.
- Avalie o cheiro: solvente, ardência excessiva ou sabor metálico acendem alerta.
- Se notar visão embaçada, dor de cabeça forte ou náusea após poucas doses, interrompa e busque ajuda médica.
- Valorize bares que informam composição do drink e deixam a preparação visível.
Impacto no caixa e nos hábitos
O tombo de 27% no faturamento não atinge só a coquetelaria de ponta. Ele respinga em fornecedores, eventos e na rede de profissionais que vive da noite. A migração para vinhos, espumantes e RTDs ressignifica o happy hour, encurta a lista de garrafas atrás do balcão e abre espaço para receitas de baixo ABV, que combinam prazer com permanência à mesa por mais tempo.
Para os bares, a adaptação vira diferencial. Menus flexíveis, treinamentos constantes e relacionamento ativo com o público criam barreiras contra a desconfiança. Para os clientes, a mudança funciona como convite para rever o que agrada no copo: menos potência alcoólica, mais textura, aroma e combinações com ingredientes de fácil rastreio.
Serviço
Orfeu — Av. Ipiranga, 318, bloco A — São Paulo/SP.
Funcionamento: segunda a quarta, das 12h às 00h; quinta e domingo, das 12h à 1h; sexta e sábado, das 12h às 2h.
Metanol, riscos e como agir
O metanol, quando ingerido, pode causar tontura, vômito e alterações visuais em poucas horas. Casos graves evoluem para cegueira e parada respiratória. A presença dessa substância não aparece no sabor de modo confiável, por isso o cuidado precisa começar na escolha do local e do produto.
Diante de sintomas, procure atendimento médico imediato e informe consumo de bebidas. Se possível, guarde amostras do líquido e registre onde comprou. Esse relato ajuda a Vigilância Sanitária a rastrear lotes e proteger outras pessoas.
Tendências para o copo nos próximos meses
Bebidas de baixo teor alcoólico devem ganhar terreno. Spritz à base de vinho, highballs com licores aromáticos, cervejas artesanais leves e coquetéis sem álcool ocupam o espaço deixado pelos destilados puros. Bares que investem em clareza de origem e comunicação direta com o público tendem a atravessar a fase com menos perdas.
Quem quer continuar saindo encontra um caminho: priorize cartas com rótulos reconhecíveis, valorize transparência e busque receitas com ABV moderado. O prazer do brinde permanece quando a escolha combina sabor, segurança e informação.


