Brasilienses lidam com vagões cheios, promessas reeditadas e canteiros tímidos, enquanto a expansão do metrô segue longe do cotidiano.
O Governo do Distrito Federal separou R$ 72.128.348,90 entre 2024 e 2025 para ampliar a Linha 1 do Metrô-DF em Samambaia e Ceilândia. Mesmo com esse volume, o cronograma patina, a obra de Ceilândia não começou e a de Samambaia anda devagar. A promessa de levar trilhos à Asa Norte, feita em 2018, perdeu fôlego e não tem data para sair.
O que já está na mesa
Os recursos confirmados por meio da Lei de Acesso à Informação somam R$ 72,1 milhões em dois anos. O plano oficial mira duas frentes: abrir duas novas estações em Samambaia e estender a linha em Ceilândia em 2,3 quilômetros, também com duas paradas adicionais.
R$ 72,1 milhões reservados, canteiro aberto só em Samambaia e previsão de entrega para maio de 2028.
A avaliação interna já admite que nenhum novo trecho deve ficar pronto antes do fim do mandato de Ibaneis Rocha. Enquanto isso, a demanda por transporte cresce nos corredores que alimentam o Plano Piloto, e a lotação vira regra nas horas de pico.
Ceilândia parada: licitação suspensa e projeto no limbo
Ceilândia receberia a extensão de 2,3 km após o terminal atual, com duas novas estações programadas nos seguintes pontos:
- Entre as quadras QNO 5 e QNO 13;
- Entre a QNO 7 e a QNO 15, próxima à BR-070, no caminho de Águas Lindas (GO).
O Tribunal de Contas do DF suspendeu a licitação em abril de 2024. O GDF havia reservado R$ 5 milhões para essa frente no ano passado, mas nada saiu do papel. O Metrô-DF informa que finaliza ajustes pedidos pelo TCDF para retomar o edital. O tribunal não detalhou os apontamentos porque o processo corre em sigilo.
Sem edital válido, não há obra, não há contrato assinado e não existe data de entrega em Ceilândia.
O que costuma travar um edital
Órgãos de controle, em geral, analisam projeto básico, orçamento, critérios de medição, matriz de riscos e regras de competitividade. Se encontram divergências, determinam correções antes do lançamento. Enquanto o processo fica parado, cresce o risco de atrasos em cadeia e de revisão de custos por causa da inflação de insumos e serviços.
Samambaia anda, mas devagar
Em Samambaia, as obras começaram em fevereiro de 2025. O plano prevê duas novas estações — uma perto da UPA da QS 107 e outra no Centro Olímpico, na QN 119 — e três subestações retificadoras de energia.
O contrato com o Consórcio CG JFJ foi assinado em março de 2024 e define prazo de 50 meses para entrega, até maio de 2028. Na prática, o canteiro abriu quase um ano após a assinatura, com serviços iniciais de mobilização e terraplanagem.
Hoje, há canteiro ativo nas duas estações e em uma subestação; a terraplanagem avançou em uma estação e uma subestação.
Essa fase demanda sondagens, escavação, drenagem, contenções e fundações. Sem frentes simultâneas e equipe reforçada, o cronograma corre apertado. Qualquer readequação de projeto, interferência de rede enterrada ou atraso em fornecimento de trilhos e equipamentos elétricos afeta a data final.
O que muda no seu dia a dia
- Mais oferta de trens só virá quando as novas estações operarem, algo previsto para 2028 em Samambaia.
- Rotas de ônibus continuarão absorvendo demanda em Ceilândia enquanto a licitação não volta a rodar.
- Planeje deslocamentos com margem nos horários de pico e considere rotas alternativas por corredores expressos.
Comparativo dos trechos
| Trecho | Extensão prevista | Novas estações | Situação | Prazo contratual |
|---|---|---|---|---|
| Samambaia | Não informada oficialmente | Perto da UPA QS 107 e no Centro Olímpico QN 119 | Obras iniciadas, canteiro e terraplanagem em curso | Maio de 2028 |
| Ceilândia | 2,3 km após o terminal | Entre QNO 5–13 e entre QNO 7–15 (perto da BR-070) | Licitação suspensa pelo TCDF; ajustes em andamento | Sem previsão |
E a prometida Asa Norte?
A expansão a partir da Estação Central rumo à Asa Norte foi compromisso de campanha em 2018. O tema saiu da agenda nos anos seguintes e não avança. Sem estudos públicos atualizados, não há calendário, traçado final aprovado ou fonte de recursos definida.
O metrô para a Asa Norte segue sem cronograma, sem projeto executivo e sem orçamento divulgado.
Financiamento e quem paga a conta
O orçamento local injeta a maior parte dos R$ 72,1 milhões. Documentos oficiais indicam que parte das expansões conta com custeio federal, mas o detalhamento de fontes e contrapartidas ainda não está consolidado publicamente. Em projetos desse porte, a execução financeira costuma oscilar com medições de obra e liberações condicionadas.
Riscos e oportunidades do cronograma
- Risco de reequilíbrio: atrasos prolongados podem exigir reequilíbrio econômico-financeiro do contrato.
- Pressão inflacionária: aço, concreto e equipamentos elétricos sofrem variação de preço ao longo dos anos.
- Janela de oportunidade: organizar frentes simultâneas e garantir suprimentos reduz o tempo de obra.
- Operação futura: subestações e sistemas de sinalização exigem testes extensivos antes da abertura ao público.
Perguntas que seguem sem resposta
- Quais foram exatamente os apontamentos do TCDF que travaram a licitação em Ceilândia?
- Quando o novo edital vai ser publicado e com que ajustes de preço e escopo?
- Como o Metrô-DF pretende acelerar Samambaia para cumprir 2028 sem perder qualidade?
- Qual o plano de comunicação com usuários durante eventuais interdições temporárias de obras?
- Há cronograma oficial para retomar a discussão da Asa Norte com estudos atualizados?
O que acompanhar nos próximos meses
- Publicação de um novo edital para Ceilândia e a data da sessão de lances.
- Início das obras pesadas em Samambaia: fundações profundas, estruturas de plataforma e coberturas.
- Chegada e instalação das três subestações retificadoras de energia.
- Apresentação de estudos de demanda e de operação que indiquem intervalos entre trens após a expansão.
Como o cidadão pode fiscalizar
Você pode consultar empenhos, pagamentos e contratos no Portal da Transparência do DF e pedir dados via LAI. Acompanhar o Diário Oficial ajuda a identificar editais, aditivos e termos de recebimento de etapas. Sessões do Tribunal de Contas também costumam divulgar decisões relevantes sobre contratações.
Quer se planejar? Considere cenários. Se Samambaia cumprir o prazo, duas novas estações entram no mapa até maio de 2028. Ceilândia depende de um novo edital ainda em 2025 para iniciar obras em 2026 e operar só nos anos seguintes. Esse desenho ajuda a organizar rotas, moradia e trabalho na periferia oeste do DF, onde o metrô é um divisor de tempo e custo de viagem.


