Microexplosão em Araraquara: você suportaria 58 mm em 20 minutos e ventos de 100 km/h na sua rua?

Microexplosão em Araraquara: você suportaria 58 mm em 20 minutos e ventos de 100 km/h na sua rua?

Ruas viraram rios, muros caíram e a luz falhou. Entenda por que um fenômeno curto mexeu com a rotina.

Araraquara voltou a enfrentar estragos após duas microexplosões em sequência, no domingo (2) e na madrugada de terça (4). A última descarga de água atingiu 58 mm em apenas 20 minutos e provocou alagamentos, quedas de árvores e interrupção de energia em diferentes bairros. No episódio anterior, a tempestade chegou a 108,51 mm, com rajadas de até 100 km/h.

O que é microexplosão

Microexplosão é o nome popular do microburst, uma corrente de ar descendente extremamente forte que sai da base de nuvens de tempestade e atinge o solo, espalhando-se em todas as direções. O impacto concentra chuva muito volumosa em poucos minutos e gera ventos erráticos, capazes de derrubar árvores e estruturas frágeis.

Queda abrupta de ar frio, chuva intensa em curtíssimo intervalo e rajadas desordenadas definem a microexplosão.

Como se forma

O encontro de ar quente e úmido com ar mais frio favorece nuvens do tipo cumulonimbus. Dentro delas, a água super-resfriada e o granizo derretem e resfriam violentamente o ar. Esse ar pesado despenca e, ao tocar o solo, espalha água e vento de forma radial, como um leque.

Por que assusta áreas urbanas

O raio de alcance costuma variar de 5 a 10 quilômetros, o que basta para cruzar vários bairros. A combinação de ruas estreitas, bueiros obstruídos, fiação aérea e árvores antigas amplia o risco de danos e transtornos.

Em cidades, a mesma intensidade que seria diluída no campo se converte em alagamento rápido e queda de estruturas.

O que aconteceu em Araraquara

O município registrou dois eventos quase consecutivos. Na madrugada de terça, a chuva de 58 mm em 20 minutos sobrecarregou galerias e derrubou árvores. No domingo, o vento chegou a 100 km/h e o acumulado de 108,51 mm provocou destelhamentos, muros no chão e famílias desalojadas.

Data Chuva Tempo Vento Impactos principais
Terça (04/11) 58 mm 20 minutos alagamentos, árvores caídas, falta de energia
Domingo (02/11) 108,51 mm 100 km/h muros derrubados, danos em casas, desalojamentos

Equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Guarda Civil Municipal, Setor de Trânsito e CPFL Paulista trabalharam durante a madrugada para liberar vias, religar a energia e remover árvores. A prefeitura instalou um Comitê de Crise e manteve monitoramento permanente dos pontos sensíveis.

Não há como prever, bairro a bairro, onde a microexplosão vai tocar o solo. O monitoramento reduz risco e orientação salva tempo.

Como se proteger nas próximas horas de chuva

  • Ao primeiro sinal de nuvem carregada e vento frio repentino, busque abrigo em local coberto e afastado de árvores.
  • Evite atravessar áreas alagadas; 30 cm de água em movimento podem arrastar um carro pequeno.
  • Desligue aparelhos da tomada durante trovoadas e mantenha o celular carregado para receber alertas.
  • Não estacione sob placas, outdoors, galhos pesados ou fiação.
  • Mantenha calhas, ralos e bueiros da sua rua livres de resíduos.
  • Se ventos fortes começarem, afaste-se de janelas e portas de vidro e procure o cômodo mais interno.

Orientações para motoristas

Reduza a velocidade ao encontrar lâminas de água. Acione faróis baixos, não atravesse enxurradas e pare em local seguro se a visibilidade cair. Evite vias com histórico de alagamento e preste atenção a galhos sobre a pista.

Microexplosão, downburst e tornado: diferenças

Downburst é o termo geral para rajadas descendentes. Quando a área afetada é pequena, fala-se em microburst — a microexplosão popular. Se a área é maior, o evento vira macroburst. No tornado, o vento gira em coluna com rotação bem definida; na microexplosão, o vento é linear ao atingir o solo, empurrando tudo para fora do ponto de impacto.

Por que é difícil prever

Radares meteorológicos detectam células de tempestade e indícios de correntes descendentes, mas a deflagração exata no nível da rua acontece em escala de minutos e poucos quilômetros. Essa limitação reduz o tempo de aviso. Aplicativos de tempo ajudam, mas o alerta mais rápido costuma vir de mensagens da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros.

Previsão acerta a tempestade, não o quarteirão. Tenha um plano simples e siga os avisos oficiais do seu município.

Impactos no campo e na cidade

No interior paulista, rajadas lineares podem acamar canaviais, derrubar frutos em pomares e danificar estufas. Na cidade, os prejuízos se concentram em alagamentos relâmpago, quedas de árvores, interrupções elétricas e tráfego parado. A manutenção de redes pluviais, o manejo de arborização e podas preventivas reduzem danos.

Números que ajudam você a dimensionar o risco

Chuva “forte” costuma ser classificada acima de 25 mm em uma hora. A marca de 58 mm em 20 minutos equivale, na prática, a uma taxa superior a 170 mm/h — intensidade suficiente para saturar bueiros e transformar bocas de lobo em fontes. Já rajadas de 100 km/h atingem a faixa em que telhas soltas, galhos secos e placas mal fixadas se desprendem.

Dicas extras para sua casa e sua rua

Revise calhas, fixe antenas e verifique telhas antes da estação chuvosa. Guarde itens soltos na varanda. Combine com vizinhos uma limpeza periódica dos bueiros da quadra. Cadastre o celular para receber SMS de emergência da Defesa Civil do seu estado e acompanhe os canais oficiais nas redes. Em caso de árvore inclinada ou risco de queda, registre chamado preventivo com fotos e localização.

Depois da tempestade

Evite contato com fiação caída e não tente religar a energia por conta própria. Fotografe danos materiais para acionar o seguro. Se a água entrou em casa, descarte alimentos e medicamentos que tiveram contato com a enchente. Ao retornar à rua, use calçado fechado para reduzir risco de ferimentos e contaminação.

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