No interior paulista, uma escola transforma aromas e texturas em lição diária de cidadania, inclusão e comida de verdade.
Em Cajati (SP), a Escola Municipal Victório Zanon ganhou uma horta sensorial acessível que já movimenta estudantes, famílias e servidores. A iniciativa integra o programa Horta Educa, da Mosaic, e valoriza alimentação saudável, autonomia e aprendizado prático.
O que muda na Escola Municipal Victório Zanon
A horta inaugurada nesta quarta-feira, 5 de novembro, ocupa área da unidade no bairro Parafuso. O espaço abre caminho para que as crianças manipulem o solo, reconheçam aromas e texturas e levem para a sala de aula o vocabulário do campo. As colheitas se integram à merenda e ampliam a variedade de hortaliças e ervas servidas diariamente.
O projeto beneficia cerca de 350 estudantes do Ensino Fundamental I, entre 5 e 10 anos. A proposta combina teoria e prática. Professores planejam atividades curriculares que relacionam ciências, matemática e língua portuguesa ao cultivo. Merendeiras participam de oficinas de preparo, com foco em aproveitamento integral e segurança alimentar. Gestores organizam a rotina de manutenção com rodas de conversa e mutirões com as famílias.
Horta sensorial com uso pedagógico e colheita para a merenda: Cajati leva inclusão e alimento fresco para 350 crianças.
Acessibilidade que vira prática
O desenho do espaço garante participação de todos os alunos. Canteiros em diferentes alturas reduzem esforço, ampliam alcance e atendem pessoas com baixa estatura. Corredores largos permitem a circulação de cadeiras de rodas e o trabalho em dupla. Placas com conteúdo em braile apoiam leitura tátil e reforçam o aprendizado dos nomes das plantas.
A horta nasce como ambiente de convivência. Crianças observam o ciclo das plantas, medem o crescimento com réguas, registram dados em cadernos e identificam espécies pelo cheiro ou pelo toque. A experiência estimula autonomia, coordenação motora e senso de responsabilidade comunitária.
Da colheita ao prato
As hortaliças e ervas entram no cardápio da merenda em preparações simples, com temperos frescos. Esse percurso aproxima o aluno do alimento e reduz rejeição a verduras. A escola organiza degustações e conversa sobre sazonalidade, desperdício zero e higiene na manipulação.
- Hortas temáticas por estação para ensinar ciclos de plantio e colheita.
- Oficinas com famílias para mostrar receitas acessíveis e nutritivas.
- Rodízio de turmas no manejo, com tarefas curtas e objetivos claros.
- Registro fotográfico das plantas para acompanhar o desenvolvimento.
Quem está por trás do projeto
A Mosaic, uma das maiores produtoras globais de fosfatados e potássio combinados, conduz o Horta Educa com foco em segurança alimentar e educação. A parceria em Cajati envolve poder público, equipe escolar e comunidade. O município já tinha uma experiência anterior no Jardim São José, onde a EMEB do bairro recebeu a implantação no ano passado e atendeu cerca de 250 alunos. O resultado abriu caminho para a expansão.
Desde 2019, o Horta Educa alcançou 120 escolas, entregou 57 hortas e impactou aproximadamente 41 mil alunos em 9 municípios.
O que a comunidade ganha
A escola passa a ter um espaço vivo, que forma hábitos e amplia repertório alimentar. A comunidade se engaja, aprende técnicas simples de cultivo e fortalece vínculos entre famílias, servidores e estudantes. A cidade também colhe frutos: jardins produtivos ocupam áreas ociosas, melhoram o microclima e servem de laboratório para a educação ambiental.
| Recurso | Como ajuda |
|---|---|
| Canteiros em diferentes alturas | Facilitam o manejo por crianças e pessoas com mobilidade reduzida. |
| Corredores largos | Garantem circulação segura de cadeiras de rodas e grupos. |
| Placas com braile | Promovem leitura tátil e inclusão de alunos com deficiência visual. |
| Oficinas culinárias | Transformam a colheita em receitas e ampliam a aceitação de verduras. |
Educação que nasce no canteiro
O professor encontra material para diferentes áreas do conhecimento. Em ciências, a turma compara substratos e observa a ação de polinizadores. Em matemática, mede canteiros, calcula proporções e organiza escalas de plantio. Em língua portuguesa, registra diários de bordo e descreve sensações. As atividades desenvolvem vocabulário, curiosidade e pensamento crítico.
Os estudantes também discutem compostagem e ciclo de resíduos. Cascas e talos retornam ao solo em composteiras, o que fecha o ciclo e reduz a quantidade de lixo. Essa rotina dá sentido ao conceito de sustentabilidade e estimula o consumo responsável.
Como participar e fortalecer a horta
A experiência ganha escala quando famílias, vizinhos e comerciantes se aproximam. A escola pode abrir encontros mensais para distribuir tarefas e prestar contas dos resultados. Veja ações simples que cabem na agenda de qualquer morador:
- Doar mudas, sementes e sobras de poda doméstica para compostagem.
- Participar de mutirões de plantio e manutenção aos sábados.
- Oferecer transporte para levar insumos doados até a escola.
- Compartilhar conhecimentos sobre pragas, podas e irrigação.
- Organizar pequenos viveiros de mudas em garrafas reutilizadas.
Boas práticas para manter a horta ativa o ano todo
Planejamento evita falhas de produção e melhora a qualidade do alimento servido. Uma agenda quinzenal com rotação de culturas e escalonamento de plantio distribui o trabalho e mantém a colheita constante. Cobertura morta com capim seco reduz evaporação e poda regular controla pragas sem química agressiva.
Nas férias, a escola pode montar um revezamento de zeladoria com famílias voluntárias e servidores. A criação de um mapa dos canteiros, com etiquetas duráveis, facilita a continuidade do cuidado por diferentes turmas. Um diário de irrigação, pendurado no galpão de ferramentas, evita excesso ou falta de água.
Ideias pedagógicas para ampliar o alcance
Atividades sensoriais alcançam crianças com diferentes estilos de aprendizagem. Propostas com olhos vendados exercitam a identificação de aromas de ervas. Jogos de memória com folhas secas e sementes treinam atenção e linguagem. Provas cegas de temperos mostram que o paladar se educa com repetição e contextos positivos.
Levar os dados da horta para gráficos em sala permite comparar volumes colhidos por mês e discutir sazonalidade. O tema também rende produção de textos informativos e podcasts escolares com dicas de preparo.
O que vem a seguir em Cajati
A rede municipal passa a somar duas hortas educativas implantadas com apoio do programa. A gestão local pretende usar a experiência para formar novos multiplicadores. A escola Victório Zanon servirá de referência para outras unidades criarem rotas de acessibilidade, definirem listas de cultivos adaptados ao clima e integrarem a merenda ao planejamento pedagógico.
Para quem deseja replicar, vale começar pequeno: três canteiros, um calendário de plantio por estação e um grupo fixo de voluntários. Ao longo dos meses, a própria comunidade identifica gargalos, ajusta rotinas e amplia o espaço. O resultado chega ao prato, mas também à autoestima de cada criança que se vê capaz de plantar, cuidar e colher o que come.


