Imagens de uma cozinha industrial em más condições acenderam um alerta que atinge qualquer anfitrião de festa. Quando o cardápio vira risco, quem protege sua família?
A interdição de um buffet tradicional de Goiânia expõe fragilidades na cadeia que abastece eventos e repartições públicas. O caso traz perguntas urgentes sobre fiscalização, responsabilidade e o que o consumidor pode verificar antes de contratar.
O que motivou a interdição
Na manhã de terça-feira, 28/10, uma ação conjunta da Polícia Civil e da Vigilância Sanitária Municipal interditou o Dom Mascavo Buffet, no Setor Aeroporto, em Goiânia. Segundo a investigação, a unidade operava desde setembro de 2023 sem alvará sanitário e sem autorização dos órgãos competentes. A produção, segundo os agentes, ocorria em larga escala, com oferta amplamente divulgada nas redes.
Interditado em 28/10: operação da Polícia Civil e da Vigilância Sanitária flagrou produção sem alvará desde 09/2023.
Fiscalização flagra riscos à saúde
Os fiscais registraram um conjunto de falhas consideradas graves para a segurança dos alimentos. As imagens e anotações da inspeção indicam falta de limpeza, presença de pragas e equipamentos com manutenção deficiente. Também houve apontamentos sobre produtos congelados sem identificação adequada e sem data de validade, além de instalações elétricas com risco.
- Ambiente sujo, com sinais de insalubridade.
- Insetos e telas de proteção danificadas.
- Equipamentos enferrujados e fora de padrão.
- Fiação exposta e possibilidade de incêndio.
- Itens sem rotulagem ou sem data de validade aparente.
- Manipulação em condições precárias de higiene.
Sem rastreabilidade e sem data de validade, o alimento perde controle de origem, tempo de prateleira e responsabilidade técnica.
Quem é o estabelecimento e por que o caso preocupa
O Dom Mascavo Buffet é conhecido por atender eventos de alto padrão e por fornecer alimentos a órgãos públicos. A interdição, portanto, atinge não apenas uma cozinha industrial, mas um elo estratégico que abastece festas, cerimônias e contratos institucionais. Serviços dessa natureza exigem fluxo rigoroso de boas práticas, plano de manutenção documentado, controle de pragas e registro de temperaturas em cadeia fria. Quando esses pilares falham, a possibilidade de surtos de doenças transmitidas por alimentos aumenta de forma relevante.
Em ambientes de grande produção, a combinação de alta demanda com lacunas de higiene costuma amplificar riscos. Um lote contaminado pode alcançar centenas de convidados. Produtos sem identificação inviabilizam o recolhimento seletivo e a rastreabilidade. Nesse cenário, o tempo de resposta a um incidente sanitário fica comprometido.
O que diz a polícia e a lei
Após a inspeção, o responsável foi conduzido à Central Geral de Flagrantes. A autoridade lavrou Termo Circunstanciado de Ocorrência pelo artigo 268 do Código Penal, que trata de descumprir determinações do poder público destinadas a prevenir a introdução ou propagação de doenças contagiosas. A Polícia Civil reforça que estabelecimentos irregulares expõem a população a riscos e que as ações continuarão.
Artigo 268 do Código Penal: infringir regras sanitárias pode gerar responsabilização criminal, além de sanções administrativas.
Entenda o alcance das sanções
| Base legal | Conduta apontada | Consequência possível |
|---|---|---|
| Art. 268 do CP | Descumprir determinação sanitária | TCO, responsabilização criminal e processo |
| Normas sanitárias locais | Operar sem alvará e sem boas práticas | Interdição, multas e exigências de adequação |
| Regras de rotulagem | Falta de identificação e validade | Apreensão e descarte de produtos |
O que a empresa afirma
Em nota, o Dom Mascavo Buffet diz atuar há 40 anos, com foco em qualidade e boas práticas. A administração afirma que a fiscalização ocorreu durante a produção de salgados, o que explicaria a presença de insumos e resíduos antes da limpeza programada. Sobre os itens apontados como “vencidos”, a empresa sustenta que se tratavam de produtos recém-preparados, ainda em fase de congelamento.
O buffet afirma que equipamentos mostrados em imagens estavam inoperantes, separados para manutenção ou descarte, e que não integravam o processo naquele momento. A empresa também informa que a unidade funciona como cozinha técnica, sem atendimento direto ao público, e que já cumpre as exigências da Vigilância Sanitária. Uma nova cozinha, segundo a nota, está em construção e segue os requisitos do órgão fiscalizador.
A empresa alega que itens vistos como vencidos estavam em congelamento e que máquinas exibidas não compunham a linha ativa.
Como o consumidor pode se proteger
Antes de fechar um contrato de buffet, é possível adotar algumas verificações simples que reduzem riscos. Exigir documentos e entender a rotina de higiene da cozinha contratada dá mais previsibilidade ao serviço e evita surpresas.
- Peça o alvará sanitário vigente e a licença de funcionamento.
- Solicite o manual de boas práticas e o POP de higienização.
- Pergunte como é feito o controle de pragas e a manutenção preventiva.
- Verifique registros de temperatura de freezers e geladeiras.
- Exija nota fiscal, com descrição clara do serviço e do cardápio.
- Combine cláusulas de remanejamento, cancelamento e reembolso por não conformidade.
Em caso de suspeita de irregularidade, o cidadão pode acionar a Vigilância Sanitária Municipal e registrar reclamação no canal do consumidor de seu estado. Situações com dano à saúde, como intoxicação alimentar, cabem registro na polícia e podem motivar pedido de reparação com base no Código de Defesa do Consumidor, incluindo ressarcimento e eventuais danos materiais comprovados.
Riscos práticos e sinais de alerta
Alimentos manipulados fora de padrão podem causar diarreia, vômito e febre, com maior gravidade para crianças, idosos, gestantes e imunossuprimidos. Cardápios com maionese, laticínios e carnes mal refrigerados elevam o potencial de contaminação. Produtos sem etiqueta e sem data comprometem a rastreabilidade e deixam sem resposta perguntas essenciais: quem produziu, quando, como foi armazenado e por quanto tempo.
| Sinal | Por que preocupa |
|---|---|
| Ausência de data/etiqueta | Impossibilita rastrear lote e validade |
| Equipamento enferrujado | Favorece contaminação e dificulta limpeza |
| Insetos e telas danificadas | Entrada de pragas e microrganismos |
| Fiação exposta | Risco de incêndio e interrupção da cadeia fria |
Para quem organiza eventos, o que muda agora
Ao contratar serviços em Goiânia ou em qualquer cidade, vale solicitar visita técnica à cozinha sempre que possível. Pergunte sobre a origem das matérias-primas, peça certificados de fornecedores e confirme se há responsável técnico registrado. Em contratos públicos, a transparência na verificação de documentos e nas auditorias reduz riscos para servidores e para a população atendida.
Caso o fornecedor seja interditado próximo à data do seu evento, a documentação em dia facilita a substituição do serviço sem prejuízo. Uma solução é incluir no contrato a possibilidade de troca emergencial de fornecedor e a obrigação de repassar integralmente o dossiê sanitário do substituto. Isso dá agilidade na tomada de decisão e evita cancelamentos traumáticos.


