Na Islândia, postes viram gigantes de 45 m com braços e pernas: você moraria ao lado deles?

Na Islândia, postes viram gigantes de 45 m com braços e pernas: você moraria ao lado deles?

Arte, energia e paisagem se cruzam no Atlântico Norte e despertam debates sobre beleza, custo e funcionalidade urbana moderna.

Na Islândia, um projeto arquitetônico transforma torres de alta tensão em figuras humanas colossais. A proposta, chamada Land of Giants, nasceu em 2008 e ganhou força por unir engenharia, arte pública e planejamento de paisagem. A ideia dá nova vida a um elemento onipresente que quase sempre incomoda os olhos.

Uma resposta criativa à poluição visual

Linhas de transmissão atravessam cidades e campos, mas raramente dialogam com quem vive ao redor. O Land of Giants propõe inverter essa lógica. Em vez de esconder as torres, os arquitetos Jin Choi e Thomas Shine decidiram transformá-las em esculturas que se integram ao território. O resultado tem vocação turística e educativa, além de reduzir a sensação de agressão visual.

Ao humanizar as torres, a paisagem deixa de ser um corredor técnico e passa a contar uma história que as pessoas reconhecem.

Quem está por trás da ideia

O duo Choi+Shine concebeu o projeto em 2008, pensando em uma intervenção de grande escala, simples de executar e compatível com as normas elétricas. Eles trabalharam sobre componentes padrão de aço, mantiveram a malha estrutural típica das torres e criaram variações formais que lembram corpo humano — tronco, braços, pernas e cabeça. A estratégia permite produção em série e flexibilidade de desenho.

Postes em forma humana: como funciona

As estruturas alcançam cerca de 45 metros e utilizam os mesmos perfis metálicos das torres convencionais. A inovação aparece nas conexões e na geometria, que redistribui os esforços sem alterar o princípio da treliça. Isso viabiliza fabricação, transporte e montagem com equipes e equipamentos já conhecidos pelo setor elétrico.

Aspecto Detalhe
Estrutura Treliça de aço galvanizado, com módulos padrão e juntas reforçadas
Altura Cerca de 45 m, variando conforme vão e topografia
Componentes Perfis, cabos, isoladores e fundações já usados em torres tradicionais
Variações Posturas humanas distintas para adequação ao terreno e aos ângulos dos cabos
Manutenção Acesso por trechos modulares, com pontos de ancoragem para técnicos

Gestos que interagem com o terreno

Quando a linha sobe uma encosta, a torre pode assumir a postura de quem escala. Em trechos planos, os “gigantes” parecem caminhar e sustentar os cabos com os braços. Nas curvas, alguns modelos inclinam o corpo e “olham” para o vale. Esses gestos criam continuidade visual e ajudam a explicar, para quem observa, o caminho da eletricidade.

As figuras funcionam como marcos de paisagem: orientam, acolhem e dão identidade a trajetos antes vistos como neutros.

Impacto urbano, turístico e social

Intervenções desse tipo geram atenção e mudam a percepção de valor de áreas periféricas. As torres-escultura podem atrair visitantes, inspirar rotas fotográficas e acender discussões sobre como integrar infraestrutura e cultura. Em contextos nórdicos, onde neve e neblina são comuns, as silhuetas ganham um efeito dramático, sem perder função.

  • Benefícios: melhora da paisagem, sentimento de pertencimento, potencial turístico e educativo.
  • Desafios: aprovações regulatórias, custos de adaptação, cronogramas de obra e manutenção segura.
  • Oportunidades: parcerias público-privadas, editais de arte, adoção por comunidades e marcas locais.
  • Cuidados: mitigação a aves, controle de brilho noturno, comunicação com moradores e órgãos ambientais.

Viabilidade técnica e operação

O projeto usa soluções já conhecidas por concessionárias de transmissão. A modulação facilita o transporte por caminhões e o içamento com guindastes padrão. Fundações profundas distribuem cargas de vento e gelo, e o galvanizado protege contra corrosão em zonas costeiras. Em caso de retrofit, as equipes podem intervir por trechos, programando desligamentos curtos e evitando longos apagões.

Segurança, normas e meio ambiente

As posturas humanas respeitam limites estruturais e afastamentos elétricos. Isoladores dimensionados evitam arcos. Marcadores de linha e sinalização reduzem risco para aves. Iluminação opcional pode realçar as formas sem gerar poluição luminosa, desde que se aplique fotometria adequada. Estudos de campo mapeiam ruído, campos eletromagnéticos e rotas de fauna.

O que essa ideia sugere ao Brasil

O Brasil tem longos corredores de transmissão que cruzam paisagens valiosas. Em áreas turísticas, trechos próximos a cidades ou na chegada a polos industriais, uma adaptação artística de torres pode criar valor simbólico e melhorar a aceitação social de novas linhas. A indústria brasileira já produz treliças, galvanização e ferragens em alto volume, o que facilita pilotos locais.

Como um projeto-piloto poderia nascer

  • Mapa de oportunidades: identificar trechos com alto impacto visual e trânsito de pessoas.
  • Termo de referência: definir metas de segurança, manutenção e custo por unidade.
  • Concurso de propostas: selecionar variações formais dentro de critérios técnicos rígidos.
  • Licenciamento: alinhar com regulação elétrica, ambiental e patrimônios locais.
  • Engajamento: ouvir comunidades vizinhas e testar percepções com maquetes 3D.
  • Execução: montar de forma escalonada, medir indicadores e publicar resultados.

Perguntas que ajudam a avaliar a adoção

Que ganho de imagem a região busca? Como o traçado da linha se integra a rotas cênicas? Quem financia a diferença entre o padrão convencional e a versão escultórica? Como cada postura influencia a distribuição de esforços e a rotina das equipes de manutenção? Essas respostas orientam o escopo e evitam surpresas no canteiro.

Informações complementares

“Poluição visual” descreve o excesso de elementos que competem por atenção e geram desconforto. Em infraestrutura, o problema cresce quando o traçado corta áreas abertas sem transição paisagística. Projetos como o Land of Giants não escondem a técnica: eles a tornam legível e culturalmente acolhida, com impacto educacional para escolas e visitantes.

Simulações digitais ajudam a prever reação do público. Renderizações com clima, neve e iluminação reproduzem a escala real dos “gigantes” e orientam escolhas de postura. Ensaios em túnel de vento validam torções e redundâncias. A gestão de risco considera ventos extremos, gelo, manutenção em altura e fauna. O benefício aparece na redução do conflito social, na valorização de rotas e na criação de um patrimônio contemporâneo que conversa com energia limpa e cidadania.

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