Nova bengala com IA do Tecpar promete guiar sem celular e sem internet: você deixaria pais usarem?

Nova bengala com IA do Tecpar promete guiar sem celular e sem internet: você deixaria pais usarem?

Uma novidade discreta pode mudar a rotina de quem se locomove pelas cidades e de quem acompanha cada passo de perto.

Depois de anos de pesquisa, um dispositivo brasileiro promete ampliar a autonomia de pessoas cegas e com baixa visão, combinando sensores, dados públicos e inteligência artificial em um único equipamento portátil.

O que é a BIA e por que surgiu

A RTT-AI, incubada pelo Tecpar, desenvolve a BIA, uma bengala inteligente que interpreta o ambiente e orienta o usuário com vibração e som. A ideia nasceu em 2016, quando o engenheiro João Flávio de Brito Pereira percebeu que soluções de radiofrequência poderiam “emprestar olhos” à bengala tradicional. A proposta foca o cotidiano real: cruzar ruas, identificar portas, evitar buracos, reconhecer pontos de ônibus, acessar elevadores e circular com confiança.

A BIA reúne sensores, IA e dados públicos em um módulo acoplado à bengala, operando de forma local e contínua.

A origem no Tecpar e a aposta na acessibilidade

O projeto avança dentro da Incubadora Tecnológica do Tecpar (Intec). A equipe usa o Creative Hub para prototipagem eletrônica, soldagem, impressão 3D e testes. A RTT-AI integra as partes em uma placa única de processamento para tornar o produto mais robusto e simples de produzir. O apoio acelera validações e certificações, além de aproximar a solução de redes de cidades inteligentes.

Como a bengala inteligente funciona

Sensores, RFID e IA embarcada

O módulo da BIA acopla-se à maioria das bengalas tradicionais e reconhece a direção do movimento. Sensores identificam obstáculos à frente e cruzam a leitura com dados embarcados. A tecnologia RFID (Identificação por Radiofrequência) permite detectar e rastrear objetos ou pontos de referência compatíveis sem contato visual, o que ajuda a orientar o trajeto com precisão.

Sem depender de sinal externo, a BIA detecta obstáculos e informa por vibração e áudio, em tempo real.

A memória do dispositivo armazena informações de bancos de dados públicos, como localização de postes, semáforos, pontos de ônibus e prédios públicos, além de GPS interno. A BIA também aprende rotas habituais e locais de interesse definidos pelo usuário.

Sem internet, com autonomia

Toda a computação roda no próprio equipamento. A bengala não depende de celular ou internet para funcionar no dia a dia. Isso reduz falhas por falta de sinal e protege a privacidade, já que os dados circulam localmente.

Segurança para famílias e integração com cidades inteligentes

A geocerca integrada cria um perímetro seguro. Se a pessoa ultrapassa a área definida, o sistema pode avisar responsáveis, enviar localização e até mensagem de voz em situações de risco. Em áreas com infraestrutura conectada, como semáforos sonoros e sensores urbanos, a BIA interage melhor e ganha precisão.

Geocerca, localização e alerta por voz reduzem o tempo de resposta em situações inesperadas.

Onde a BIA ajuda mais

  • Ruas: identifica pontos de ônibus, clínicas, bancos, prédios públicos e comércios.
  • Ambientes internos: reconhece salas, consultórios, elevadores, acessos e sanitários.
  • Rotina: mapeia trajetos frequentes e sugere referências úteis no entorno.
Cenário O que a BIA reconhece Como avisa
Calçada Buracos, desníveis, obstáculos frontais Vibração diferenciada e sinal sonoro
Travessia Semáforos sonoros, faixas, postes Orientação por direção e ritmo
Prédio público Entradas, balcões, sanitários Alertas contextuais
Transporte Pontos de ônibus, áreas de embarque Indicação de proximidade

Quem pode se beneficiar primeiro

O criador da BIA mira pessoas que iniciam o uso da bengala e jovens em idade economicamente ativa, que precisam circular sozinhos para trabalhar e estudar. A solução não substitui a bengala tradicional; ela adiciona camadas de orientação para facilitar o aprendizado e reduzir barreiras no caminho.

Apoio do Tecpar e próximos passos

A RTT-AI integra a modalidade residente da incubadora e mantém escritório e linha de desenvolvimento no Tecpar. A equipe já concluiu a parte estrutural e agora une as tecnologias em uma única placa. O projeto conquistou destaque no “Desafio de Inovação: Bengalas Inteligentes” do Paraná, figurando entre as 20 melhores propostas entre mais de 100 inscritas.

O ambiente de inovação recebe um impulso adicional com a previsão de orçamento recorde para ciência e tecnologia no estado em 2026, sinalizando um ecossistema favorável para levar soluções de acessibilidade do protótipo para o uso diário.

Por que isso importa agora

Segundo o Censo 2022 do IBGE, o Brasil tem cerca de 500 mil pessoas cegas e 6 milhões com baixa visão. Buracos, desníveis, falta de sinalização tátil e sonora e transporte pouco previsível ampliam o risco nas ruas. A BIA surge como ferramenta de apoio de baixo custo, ancorada na bengala, que segue sendo o método mais difundido de orientação e mobilidade para esse público.

Perguntas práticas que o usuário faz

  • Funciona sem internet? Sim, toda a inteligência roda na própria bengala.
  • Preciso trocar de bengala? Não necessariamente: o módulo acopla-se a modelos comuns do mercado.
  • Ele “fala” com a cidade? Em locais com semáforos sonoros e sensores urbanos, o desempenho melhora.
  • Família pode acompanhar? A geocerca permite avisos quando a pessoa sai de um perímetro definido.

Dicas de uso e cuidados

Crie uma rotina de calibração ao começar o trajeto. Revise a carga da bateria antes de sair. Atualize periodicamente os dados embarcados sempre que a equipe disponibilizar versões novas. Mantenha os sensores limpos e verifique o aperto do módulo na bengala para evitar folgas.

Treinar em trajetos conhecidos e, depois, avançar para rotas novas aumenta a confiança e reduz erros.

Termos para entender

  • RFID: tecnologia que usa ondas de rádio para identificar e rastrear objetos compatíveis sem contato visual.
  • IA embarcada: processamento local no dispositivo, sem depender de nuvem ou celular.
  • Geocerca: perímetro virtual que dispara alertas quando alguém sai de uma área pré-definida.

O que observar na adoção

Acurácia varia com o cenário urbano: calçadas irregulares, carros estacionados e obras mudam o ambiente rapidamente. O usuário precisa treinar respostas aos alertas e manter a bengala tradicional como referência. A família deve combinar protocolos: quem recebe alertas, quando ligar e como agir em imprevistos.

Privacidade merece atenção. A operação local reduz exposição de dados, mas o envio de localização e mensagens exige consentimento claro do usuário. Padrões de acessibilidade, como sinalização tátil, piso podotátil e semáforos sonoros, potencializam a eficácia da BIA e diminuem dependência de improvisos.

Como ampliar o impacto

Órgãos públicos podem integrar dados urbanos abertos e atualizados para melhorar o reconhecimento de pontos de interesse. Programas de capacitação para escolas e empresas ajudam na inclusão de jovens que começam a usar a bengala. Testes com grupos diversos — mulheres, idosos, pessoas com mobilidade reduzida associada — enriquecem o desempenho do sistema em contextos reais.

Para o leitor que pensa em implantação institucional, vale simular rotas críticas, como acesso a terminais de ônibus, áreas hospitalares e prédios administrativos. Mapear esses trajetos e ajustar a geocerca por zonas — casa, trabalho, escola — cria camadas de proteção sem invadir a rotina de quem busca independência.

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *