Filas longas, aplicativos que travam e conversas tensas no caixa. Em Olímpia, o cotidiano bancário mudou e mexe com todo mundo.
A cidade viu o mapa financeiro encolher. Menos agências abertas, menos equipes e mais cobranças. O resultado chega no bolso, no humor e na saúde mental de quem atende e de quem precisa ser atendido.
O que mudou nas agências de Olímpia
Olímpia já teve dez agências e cerca de 400 bancários. Hoje opera com cinco unidades e por volta de 80 trabalhadores. A digitalização avançou. O atendimento presencial diminuiu. O fluxo se concentrou nos poucos guichês disponíveis. Idosos e pessoas de baixa renda sentem o impacto primeiro. Muitos não conseguem resolver operações no celular. Precisam de ajuda humana.
De dez para cinco agências. De cerca de 400 para 80 bancários. O atendimento ficou mais raro e mais disputado.
Quem ficou no balcão assumiu novas funções. Além do caixa, virou suporte técnico para app, vendedor de produtos e gestor de metas. As metas chegaram mais duras. A pressão virou rotina. A sobrecarga cresceu.
Digitalização sem inclusão
O aplicativo facilita para uma parte dos clientes. Outra parte fica para trás. Falta internet, falta aparelho, falta letramento digital. Quando o app falha, tudo deságua na agência. As filas ficam instáveis. O clima pesa.
Pressão por metas e equipes reduzidas
Com cortes e fusões, várias tarefas se acumulam em menos mãos. Onde havia cinco pessoas, agora às vezes há duas. O tempo para respirar diminui. Erros aumentam. A tensão também. Essa combinação favorece exaustão emocional e afastamentos médicos.
Números que escancaram a pressão
O movimento local acompanha a curva do Estado. São Paulo lidera o fechamento de agências no país. O Banco Central aponta 2.737 unidades encerradas em dez anos. O efeito aparece no atendimento e no adoecimento.
Fechamentos em São Paulo: 2.737 agências em dez anos. A conta bate no atendimento e na saúde mental.
| Indicador | Dado | Período/Fonte |
|---|---|---|
| Agências em Olímpia | De 10 para 5 | Estimativa local |
| Bancários em Olímpia | De ~400 para ~80 | Estimativa local |
| Fechamentos em SP | 2.737 agências | 10 anos, Banco Central |
| Afastamentos por transtornos mentais no Brasil | 471 mil | 2024, INSS |
| Alta dos afastamentos | +66% (283 mil para 471 mil) | 2023 para 2024, INSS |
| Gerentes com doença ocupacional (B91) | 37,7% de 13 mil afastamentos | 2012–2024, INSS |
| Escriturários com doença ocupacional (B91) | 18,7% de ~23 mil afastamentos | 2012–2024, INSS |
Saúde mental em alerta no setor bancário
Os bancários aparecem no topo dos afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho. O código B91, do INSS, reconhece o nexo ocupacional. O reconhecimento não resolve tudo. Mas garante direitos, estabilidade temporária e acesso a reabilitação. O crescimento de 66% nos afastamentos em um ano mostra uma curva acentuada. E sinaliza que a pressão não é episódica. É estrutural.
Transtornos mentais em alta: 471 mil afastamentos em 2024 e forte presença de bancários entre os casos.
A rotina de metas agressivas, acúmulo de funções e atendimento tenso contribui para ansiedade, depressão e síndrome de burnout. A ergonomia às vezes é precária. Intervalos somem. O retorno após licença costuma ocorrer sem adaptação adequada. O ciclo recomeça e o risco de recaída aumenta.
Como o atendimento ao público muda para você
O cliente também paga a conta das reestruturações. Menos agências elevam o custo de deslocamento. A demora piora a experiência. E o digital vira a única saída em muitas operações. Quem não domina a ferramenta se perde no caminho.
- Mais fila no caixa e menos tempo de conversa com o atendente.
- Aplicativo obrigatório para operações simples, com suporte reduzido.
- Aposentados e beneficiários do INSS enfrentam barreiras frequentes.
- Golpes digitais crescem quando faltam canais presenciais de orientação.
- Agências mais cheias aumentam o estresse de clientes e funcionários.
O que pode ser feito já
Medidas para bancos e gestores
- Criar metas realistas e transparentes, com pausas programadas e rodízio de funções.
- Ampliar equipes em horários de pico e reforçar treinamento em saúde mental.
- Manter guichês e salas de apoio para idosos e público sem letramento digital.
- Oferecer canais híbridos: atendimento presencial agendado e suporte humano pelo chat.
- Investir em ergonomia, avaliação de riscos psicossociais e retorno ao trabalho assistido.
Movimento sindical e poder público
- Negociar limites para fechamento de agências em áreas vulneráveis.
- Organizar mutirões de educação financeira e digital em bairros e distritos.
- Implantar salas municipais de apoio ao cidadão para serviços bancários básicos.
Direitos do trabalhador bancário
- Registrar ocorrência de acidente ou adoecimento com comunicação de acidente de trabalho (CAT).
- Solicitar avaliação de nexo para benefícios com código B91, quando cabível.
- Requerer adaptação de posto, redução de metas e realocação durante tratamento.
- Documentar cobranças abusivas e jornadas sem intervalo para fins de prova.
Perguntas práticas para o seu dia a dia
Você sente que o app não resolve? Guarde prints de erros e protocolos. Esses registros ajudam na agência e em reclamações formais. Precisa de atendimento presencial? Chegue com lista de operações. Isso encurta a fila e reduz retrabalho. Enfrenta pressão por venda casada? Peça a oferta por escrito e avalie com calma. Isso reduz impulsos e evita contratações indesejadas.
Para quem está na agência, pequenas mudanças aliviam o clima. Falar o tempo de espera previsto. Oferecer água e assentos aos idosos. Priorizar casos críticos. A transparência reduz atrito e protege a equipe.
Termos e caminhos que ajudam
O que significa B91
O B91 é o código usado pelo INSS para benefícios acidentários. Ele indica que o transtorno mental tem relação com o trabalho. Com esse reconhecimento, o empregado tem estabilidade temporária após o retorno e pode acessar reabilitação profissional. O laudo médico detalhado e a CAT fortalecem o pedido.
Como testar se você precisa do presencial
- Liste suas operações do mês. Separe as que falharam no app.
- Some o tempo gasto nas tentativas e no deslocamento até a agência.
- Se o digital consome mais tempo que o presencial, priorize agendamento no balcão.
- Para pagamentos recorrentes, configure débito automático com alerta por SMS.
Riscos e benefícios do modelo híbrido
- Risco: exclusão de quem não domina tecnologia.
- Risco: pressão por metas sem reforço de equipe.
- Benefício: filas menores se houver agendamento e triagem humanizada.
- Benefício: resolução mais rápida de operações simples no app quando a conexão é estável.
Equilíbrio entre inovação e responsabilidade social reduz filas, evita adoecimento e melhora a experiência de todos.
Olímpia funciona como um retrato de tendências nacionais. A solução passa por redesenhar metas, reforçar equipes, criar canais inclusivos e valorizar a saúde mental. O atendimento melhora quando o cliente encontra gente, e quando quem atende tem condições reais de trabalhar.


