Num início de manhã agitado, bares e consumidores acordaram com uma notícia que mexe com hábitos, confiança e saúde pública.
A Polícia Civil deflagrou uma nova etapa da ofensiva contra a adulteração de bebidas. A ação se espalhou por São Paulo e Paraná e levou agentes a endereços ligados a um esquema que imita marcas conhecidas e engana o consumidor na prateleira e no balcão.
A quarta fase da ofensiva
Batizada de “Parece, mas não é”, a operação chegou à quarta fase com buscas simultâneas na capital e no interior paulista, além de Londrina, no Paraná. Equipes recolheram garrafas, rótulos e embalagens usados para dar aparência de originalidade a destilados como gin, uísque e vodca. Cinco pessoas foram presas.
Forças policiais cumpriram 17 mandados de busca e apreensão e prenderam 5 suspeitos ligados à falsificação.
Cidades alvo e mandados cumpridos
| Cidade | Mandados |
|---|---|
| São Paulo (SP) | 9 |
| Americana (SP) | 1 |
| Marília (SP) | 1 |
| Taquaritinga (SP) | 3 |
| Sertãozinho (SP) | 1 |
| Matão (SP) | 1 |
| Londrina (PR) | 1 |
Onde saíram as prisões
Policiais detiveram dois suspeitos na zona leste da capital. Um em Ermelino Matarazzo. Outro na Vila Cruzeiro. Nos dois endereços, a equipe recolheu garrafas reaproveitadas, rótulos e embalagens fora do padrão de fábrica.
Outras três prisões ocorreram no interior. Uma em Sertãozinho e duas em Taquaritinga. Em Sertãozinho, o preso é dono de um bar. A fiscalização identificou bebidas com coloração e odor destoantes do produto legalizado. As garrafas pareciam lacradas, mas traziam variação de volume.
Mais de 100 mil garrafas foram apreendidas. O material serviria para abastecer pontos de venda com destilados falsificados.
Como o esquema afetava o consumidor
O golpe se apoia no reaproveitamento de garrafas e na aplicação de rótulos copiados. O objetivo é simular marcas populares e vender a bebida adulterada como se fosse original. Esse tipo de fraude atinge o bolso e a saúde. Produtos falsos podem conter mistura de álcool não apropriado e químicos que causam intoxicação.
Sinais de alerta na hora de comprar ou consumir
- Lacre irregular, torto, com folgas ou com sinais de cola recente.
- Rótulo com cores lavadas, fonte borrada ou sem informações obrigatórias (CNPJ, lote, origem).
- Diferença de volume aparente, presença de bolhas persistentes após agitar, ou cheiro agressivo.
- Preço abaixo do mercado, em especial para rótulos importados ou de alto giro.
- Tampa desalinhada, arranhões intensos no gargalo ou marcas de abertura anterior.
O histórico da investigação
Fases anteriores já tinham cortado peças da rede de adulteração. Em Monte Alto, policiais prenderam Alerrando Adriano de Andrade Araujo, apelidado de “Rei do Uísque”. Em janeiro, a primeira fase levou à prisão de Anderson Alex da Silva. Na segunda etapa, agentes detiveram Gesilvado Pereira da Silva. A operação atual mira pontos de produção, estoque e distribuição que mantinham o fluxo de garrafas e rótulos.
A investigação desmonta o ciclo completo: coleta de garrafas, falsificação de rótulos, envase e escoamento para bares e mercados.
O que muda para bares, restaurantes e distribuidores
Estabelecimentos precisam reforçar o controle de fornecedores. Exigir nota fiscal, checar lotes e registrar entradas reduz o risco de receber mercadoria contaminada. O treinamento de equipe ajuda o garçom e o bartender a identificar inconsistências no momento da abertura da garrafa. Quem vende bebida adulterada responde na esfera penal e administrativa, mesmo se alegar desconhecimento.
Como agir se você suspeitar de falsificação
O consumidor tem papel decisivo para interromper a cadeia. Atitudes rápidas preservam evidências e evitam novos danos.
- Interrompa o consumo ao notar sabor, odor ou coloração incomuns.
- Guarde a garrafa, a nota fiscal e registre fotos do rótulo, do lacre e do conteúdo.
- Procure atendimento médico se sentir tontura, náusea, visão turva ou ardor intenso.
- Comunique o estabelecimento e registre reclamação no órgão de defesa do consumidor da sua cidade.
- Faça denúncia anônima no 181 (Disque Denúncia) e informe o máximo de detalhes.
Penas previstas e enquadramentos comuns
Quem falsifica, adultera ou vende bebida imprópria pode responder por crime contra a saúde pública, previsto no Código Penal, com pena de reclusão e multa. A conduta ainda pode envolver receptação, associação criminosa e crimes contra as relações de consumo. Em casos com lesão à saúde, a responsabilização se agrava. A Justiça costuma determinar perda de maquinário e do estoque adulterado.
Impacto para o mercado e para o Estado
Fraudes desse tipo deslocam vendas do comércio regular e pressionam margens de bares e distribuidores idôneos. O Estado perde arrecadação. Marcas legítimas enfrentam reclamações indevidas quando alguém associa efeitos adversos a um rótulo falsificado. O consumidor acaba pagando duas vezes: pelo risco à saúde e pelo desequilíbrio de preços que a concorrência desleal provoca.
Perguntas que surgem agora
- Como ficam os consumidores que compraram os lotes? Eles podem buscar substituição, reembolso e reparação por danos materiais e morais, com base no Código de Defesa do Consumidor.
- Os estabelecimentos envolvidos voltam a operar? A retomada depende de laudos, fiscalização sanitária e decisão judicial.
- Haverá novas fases? A investigação segue ativa, com análise de provas, rastreamento de notas e de rotas logísticas.
Guia rápido para não cair em ciladas
Prefira pontos de venda com procedência conhecida e guarde a nota fiscal. Compare o rótulo com imagens do fabricante. Observe o acabamento do vidro, do lacre e da tampa. Desconfie de promoções agressivas de destilados premium. Em bares, peça para ver a abertura da garrafa. Em eventos, avalie a organização e o controle de estoque.
Saúde em primeiro lugar
Adulteração pode incluir metanol e solventes. A ingestão de pequenas quantidades já traz risco. Dor de cabeça intensa, vômito, visão dupla e confusão são sinais de alerta. Procure atendimento e leve a embalagem para análise. Relatar casos ajuda a mapear rotas do produto falsificado.
Proteção começa no hábito: informação, desconfiança saudável e registro de nota fiscal reduzem o risco no copo.


