Paciente com câncer grave aguarda UTI oncológica no DF: corrida contra o tempo, e se fosse você?

Paciente com câncer grave aguarda UTI oncológica no DF: corrida contra o tempo, e se fosse você?

Uma família do DF vive dias de incerteza enquanto a burocracia e a falta de leitos testam os limites do SUS.

No Hospital Regional de Samambaia, um homem de 33 anos, intubado, espera a transferência para uma UTI oncológica de referência. Médicos defendem o início da quimioterapia nas primeiras 48 a 96 horas. A família acionou a Justiça e obteve ordem para transferência imediata.

Quadro clínico e urgência do tratamento

Daniel Rauter, 33 anos, deu entrada na UTI do Hospital Regional de Samambaia em 28/10. O diagnóstico aponta câncer de pulmão agressivo, com comprometimento direto da via aérea. Ele segue intubado e em ventilação mecânica. A equipe médica descreve uma janela crítica para a quimioterapia, entre 48 e 96 horas, como estratégia para controlar o tumor e permitir uma extubação com segurança.

O relatório médico registra que o atraso reduz as chances de sucesso e eleva o risco de morte. A ausência de uma UTI oncológica impede o início do protocolo mais indicado para o caso, que envolve suporte intensivo especializado, acesso rápido a quimioterápicos e equipe treinada em manejo de complicações respiratórias em pacientes oncológicos.

Quanto mais tempo o tratamento atrasa, menor a probabilidade de extubação segura e maior o risco de desfecho fatal.

Decisão judicial e obrigação do GDF

Em 30/10, o 3º Juizado Especial da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF concedeu tutela de urgência. A decisão determinou que o GDF transfira Daniel imediatamente para um hospital de alta complexidade em oncologia, seja Cacon (Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia) ou Unacon (Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia).

O juiz também ordenou que, na falta de leito na rede pública, o governo arque com a internação em hospital privado com suporte oncológico total. A decisão classificou o caso como emergência de extrema gravidade e advertiu a Secretaria de Saúde do DF, a presidência do IGESDF e a Central de Regulação de Leitos de UTI sobre as consequências de descumprimento.

Ordem de transferência imediata, com custeio em rede privada caso não haja leito público disponível.

O paciente continua no HRSam

Mesmo com a decisão judicial em vigor, Daniel segue internado no HRSam e ainda não iniciou a quimioterapia. Cada dia sem leito oncológico aumenta o risco de complicações. O laudo prevê possibilidade de estenose de traqueia se o quadro permanecer sem mudança até 05/11, cenário especialmente perigoso porque o tumor toca a via aérea.

Estenose de traqueia é um estreitamento que dificulta a passagem de ar e pode exigir procedimentos complexos, como dilatação, laser ou próteses, além de suporte ventilatório contínuo. Em pacientes com tumor agressivo, o controle rápido da massa tumoral reduz esse risco e preserva a possibilidade de retirada do tubo.

Linha do tempo do caso

Data Fato
28/10 Internação na UTI do Hospital Regional de Samambaia com diagnóstico de câncer de pulmão agressivo.
30/10 Decisão judicial determina transferência imediata para Cacon/Unacon; GDF deve custear rede privada se necessário.
05/11 Data citada em laudo como limite para evitar complicações graves na via aérea, como estenose de traqueia.

O que diz a Secretaria de Saúde

A SES-DF afirma que regula os leitos de UTI por gravidade. A pasta diz priorizar os casos mais críticos e os judicializados. A transferência acontece quando surge vaga. A liberação de leitos depende de alta, óbito ou transferência de pacientes internados. Enquanto aguardam, as equipes do hospital de origem seguem o atendimento.

Por que a UTI oncológica faz diferença

Leitos de UTI voltados à oncologia reúnem protocolos específicos para complicações frequentes em pacientes com câncer. A equipe lida com manejo de quimioterapia em ventilação mecânica, suporte intensivo durante reações adversas, e coordena ações rápidas com cirurgia torácica, pneumologia e radiologia intervencionista. O objetivo é ganhar tempo e controlar o tumor sem perder estabilidade respiratória.

A via aérea sob pressão

Quando o tumor toca a traqueia ou brônquios, o risco de obstrução cresce. O paciente pode precisar de broncoscopia para desobstrução, sondas, stents ou radioterapia de urgência. A quimioterapia, quando indicada, reduz a massa tumoral e facilita a retirada do tubo em condições mais seguras.

Janela terapêutica

Na oncologia torácica, algumas horas valem muito. Sem o ambiente adequado, o time perde a chance de iniciar o protocolo a tempo. A janela de 48 a 96 horas, citada pelos médicos, reflete a necessidade de resposta rápida em tumores de crescimento acelerado, especialmente quando a ventilação mecânica já está instalada.

Cacon e Unacon: o que são e quando entram

  • Cacon: centros de alta complexidade oncológica, com equipes completas, UTI dedicada e acesso a terapias de maior risco.
  • Unacon: unidades com cobertura oncológica ampla, capazes de tratar casos graves e coordenar internações em UTI com suporte especializado.
  • Ambos integram a rede habilitada pelo SUS para tratamentos complexos e exigem regulação de leitos.

Como agir em casos semelhantes

  • Reúna laudos, exames e relatórios médicos atualizados que descrevam a urgência e o risco imediato.
  • Registre o caso na Central de Regulação e anote todos os protocolos de atendimento e horários de contato.
  • Peça à equipe assistente uma justificativa escrita para UTI oncológica e a estimativa de janela terapêutica.
  • Acione a Ouvidoria da Saúde do DF e solicite prioridade por risco iminente.
  • Busque a Defensoria Pública ou um advogado para pedido de tutela de urgência em caso de demora.
  • Mantenha um familiar como referência para comunicação 24 horas com a equipe do hospital.
  • Verifique a possibilidade de transferência para unidade privada com custeio público quando não houver leito na rede estatal.

Riscos do atraso e impactos para o paciente

Em tumores pulmonares agressivos, a compressão da via aérea pode evoluir rápido. O paciente intubado perde reservas respiratórias a cada dia, enfrenta maior risco de infecção e de lesões associadas ao tubo. Estratégias como sedação adequada, fisioterapia respiratória e ajustes finos na ventilação ajudam, mas não substituem o controle do tumor.

Quando a quimioterapia chega a tempo, a equipe tem mais chances de planejar a extubação e reduzir o trauma de intervenções invasivas. Fora do ambiente oncológico, iniciar o protocolo pode ficar inviável por falta de medicações, monitorização e suporte multiprofissional.

Informações complementares para o leitor

Estenose de traqueia: trata-se do estreitamento da traqueia, que pode surgir por compressão tumoral, inflamação ou cicatrização. Em UTI oncológica, o time avalia broncoscopia de alívio, uso de stent e terapias sistêmicas para recuperar o diâmetro da via aérea e reduzir o esforço respiratório.

Prioridades na regulação: casos com risco imediato de vida, com ordem judicial e justificativa técnica da equipe, costumam entrar no topo da fila. Ter laudos objetivos, horários registrados de piora clínica e contato direto com a regulação aumenta a chance de resposta mais rápida.

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