PF e SENAD no Paraguai: você sente o impacto quando 309 hectares somem e 96 acampamentos caem?

PF e SENAD no Paraguai: você sente o impacto quando 309 hectares somem e 96 acampamentos caem?

A nova fase da ofensiva binacional reacende o debate sobre o poder do crime nas fronteiras e no varejo urbano.

Nas últimas duas semanas, a Polícia Federal do Brasil e a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai intensificaram ações contra o tráfico que abastece capitais brasileiras. O resultado de campo apresentou números raros, peritos em solo e um recado direto às facções que controlam rotas e depósitos clandestinos.

O que foi erradicado

Equipes conjuntas concluíram a 53ª fase da Operação Nova Aliança, com incursões em áreas de cultivo no Paraguai. O balanço divulgado aponta a eliminação de lavouras, equipamentos de processamento e estruturas de apoio logístico usadas pelos grupos criminosos.

309 hectares de Cannabis sativa foram erradicados em duas semanas, segundo o relatório da força-tarefa.

Números da 53ª fase

Item Quantidade
Plantações destruídas 141
Acampamentos desmontados 96
Prensas inutilizadas 23
Maconha picada apreendida 37.940 kg
Maconha prensada apreendida 1.532 kg
Sementes 490 kg

O impacto total estimado chega a 967 toneladas de droga que deixaram de chegar ao mercado.

A finalização da etapa ocorreu na sexta-feira (31). A operação contou com apoio da Força-Tarefa Conjunta do Exército Paraguaio, do Ministério Público do Paraguai e da Diretoria Técnico-Científica da PF. O desenho operacional combinou patrulhamento terrestre, reconhecimento aéreo e ações de perícia no próprio local.

Como a ação foi montada

Peritos criminais brasileiros atuaram ao lado do Laboratório Forense do Paraguai e do Centro de Evidências da SENAD. O trabalho técnico não se limitou ao confisco. Ele levou coleta de amostras de plantas e de solo, medição de pureza e mapeamento químico das apreensões.

O que a perícia busca responder

  • De onde vem a cannabis cultivada e qual o perfil genético mais comum nas áreas derrubadas.
  • Quais insumos alimentam o cultivo e onde as cadeias logísticas se cruzam.
  • Qual o nível de pureza do material que abasteceria depósitos no lado brasileiro.
  • Como os perfis químicos ajudam a rastrear rotas e fornecedores.

Os laudos trazem pistas para investigações financeiras e para a seleção de alvos em fases seguintes. O cruzamento com dados de inteligência indica quem fornece sementes, quem vende fertilizantes e quem transporta a produção. Essa camada técnica direciona melhor o emprego de efetivo e restringe margens de lucro das facções.

Impacto no mercado e na segurança

A destruição na origem reduz a oferta e mexe no custo do crime. Menos lavouras significam menos carga atravessando o Paraná, o Mato Grosso do Sul e o interior de São Paulo. A pressão logística cresce em cada fronteira, o que afeta prazos, risco de perda de mercadoria e preço final para as quadrilhas.

Integrantes da PF avaliam que cortar o fornecimento no campo dificulta a venda de entorpecentes nas capitais e em cidades sob influência de facções.

Esse tipo de ação gera também o chamado “efeito deslocamento”. Quando uma área cai, grupos tentam abrir novas clareiras, mudar trilhas e testar outros corredores. A resposta estatal precisa acompanhar o movimento com varreduras, drones e inteligência de sinais. O alvo deixa de ser apenas a roça visível e passa a ser a rede que sustenta a produção, do financiamento ao transporte.

Onde você sente isso

  • Quedas pontuais de oferta em bairros onde o varejo já atuava com estoque baixo.
  • Aumento de risco em rotas alternativas, com reflexos em furtos de veículos e receptação.
  • Pressão sobre áreas rurais usadas como pontos de apoio e depósito de cargas.

Resultados no ano e histórico da operação

Somente em 2025, seis fases da Nova Aliança entraram em campo. O saldo divulgado aponta 5.464.000 kg de maconha erradicados, distribuídos em cerca de 1.700 hectares de plantios ilícitos. O número coloca o ano como o mais expressivo da série histórica da operação, iniciada em 2012.

Desde 2012, estimam-se 14 mil hectares derrubados e mais de 45 mil toneladas de maconha destruídas.

O avanço acumulado mostra que a estratégia binacional se consolidou. A cada fase, a troca de informações melhora, a perícia fica mais rápida e os alvos passam a ser definidos por padrões de produção e por rotas financeiras, não apenas por mapas de roças.

O que acontece depois da derrubada

Erradicar uma lavoura impede a colheita imediata. Para tensionar o sistema criminoso, as equipes também neutralizam prensas e acampamentos, onde ocorre parte do beneficiamento. Sem o maquinário, a quadrilha perde velocidade e escala. Sem as estruturas de apoio, a reposição de roças exige investimento, mão de obra e risco adicional.

Gargalos e riscos operacionais

  • Clima e relevo limitam janelas de ação e dificultam acesso a áreas remotas.
  • Rotas fluviais e trilhas abertas pela mata favorecem redirecionamento de cargas.
  • Comunidades rurais sofrem pressão de grupos armados para ceder logística e alimento.

A logística estatal precisa cuidar também da integridade ambiental e da segurança de moradores locais. Em incursões, protocolos restringem danos colaterais e orientam o descarte adequado de insumos. A presença de peritos ajuda a documentar impactos e a orientar novas diretrizes táticas.

Como a perícia fortalece investigações financeiras

O perfil químico pode apontar vínculos entre cargas apreendidas em cidades diferentes. Quando um padrão se repete, surge um fio para chegar ao financiador. Com isso, investigações patrimoniais ganham fôlego e ações de sequestro de bens passam a atingir caminhões, imóveis e contas laranja. Golpear a renda das facções costuma causar efeito mais duradouro do que apenas apreender cargas isoladas.

Informações úteis para o leitor

Comunidades próximas a áreas de fronteira funcionam como sensores de risco. Denúncias anônimas ajudam a identificar acampamentos, movimento atípico de veículos e barulho de prensas durante a noite. Canais como o 181 (Disque Denúncia) e o 197 (Polícia Civil) recebem informações sem identificação do remetente. Pequenos detalhes logísticos, como frequência de embarcações em horários fixos ou carretas que entram vazias e saem pesadas, muitas vezes antecipam rotas.

Quem trabalha no campo pode reduzir a exposição evitando aluguel informal de glebas para terceiros sem contrato, registrando matrículas e comunicando usos suspeitos do solo. Ao notar presença constante de estranhos com rádios, trilhas recém-abertas e grandes lonas na mata, a orientação é manter distância e acionar os canais de denúncia.

O que observar nas próximas fases

Especialistas esperam a manutenção do foco em áreas com histórico de alta produtividade, além de uma expansão do uso de imagens de satélite e de sensores para detectar padrões de plantio. A tendência aponta para operações mais curtas, com maior intensidade e metas combinadas: cortar lavouras, quebrar logística e chegar ao dinheiro que sustenta as roças. Para o leitor, isso significa mais operações cirúrgicas e uma disputa em que dados e perícia contam tanto quanto o efetivo em campo.

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