Turno noturno, chuva de luzes no cais e um susto gravado por celulares reacendeu a conversa que muita gente evita.
O registro veio da Margem Esquerda do Porto de Santos, em Vicente de Carvalho, Guarujá. Em uma descarga rotineira, um equipamento travou, a carga mudou de posição e a rotina ganhou tensão e sirenes.
O que aconteceu no cais
Um contêiner ficou inclinado durante uma manobra de descarga no terminal operado pela Santos Brasil. Segundo a companhia, um dos lados do spreader, o dispositivo que conecta o guindaste ao contêiner, travou no momento em que a caixa metálica era posicionada sobre uma carreta interna. A cena atraiu trabalhadores, que gravaram o momento.
De acordo com a operadora, não houve feridos, o plano de emergência foi acionado e as demais operações seguiram em andamento.
A empresa informou também que não registrou danos materiais no equipamento ou na unidade de carga. As causas do travamento estão sob apuração técnica.
Local, data e status da operação
| Onde | Terminal da Santos Brasil, Margem Esquerda do Porto de Santos (Vicente de Carvalho, Guarujá) |
|---|---|
| Quando | Noite de sexta-feira (31) |
| Equipamento | Guindaste de pátio com spreader |
| Feridos | 0 |
| Danos | Não informados pela empresa; operadora diz não ter identificado prejuízo material |
| Operações | Seguiram ativas após resposta de emergência |
Como o spreader funciona e por que pode travar
O spreader é o “braço” que segura o contêiner pelos cantos, por meio de pinos chamados twistlocks. Eles giram para travar e destravar a carga. Em condições normais, sensores confirmam o acoplamento e evitam movimentos indevidos.
Um travamento pode ocorrer por desalinhamento na aproximação, falha de sensor, desgaste de peças ou interferência no momento do apoio do contêiner sobre a carreta. Quando um lado não libera como deveria, a unidade pode pender. O procedimento padrão exige a imobilização da área, comunicação via rádio e o reposicionamento controlado da carga.
Falhas em twistlocks e em sensores de posição figuram entre os eventos mais citados em relatórios de segurança portuária.
Resposta de emergência e protocolos de segurança
Ao identificar a inclinação, a equipe acionou o plano de contingência. Isso envolve isolar o perímetro, deslocar pessoal não essencial, verificar a estabilidade da carreta e do guindaste e, se necessário, usar apoio mecânico para aliviar tensões na estrutura do contêiner.
No Brasil, regras como a NR-29, a aplicação de princípios de gerenciamento de riscos e rotinas de manutenção preventiva orientam esse tipo de resposta. Procedimentos bem treinados reduzem a chance de escalada do evento, protegem trabalhadores e evitam interrupções prolongadas.
Boas práticas que reduzem o risco
- Checagem diária de twistlocks e sensores de intertravamento.
- Alinhamento milimétrico entre contêiner e carreta antes do apoio.
- Briefing de turno com lições de eventos anteriores e matrizes de risco.
- Evitar permanência sob carga suspensa e manter distâncias de segurança.
- Canal rápido para reportar quase-acidentes e desvios percebidos.
Quem corre mais risco no pátio
Conferentes, motoristas de carreta interna e mecânicos de turno ficam mais expostos ao entorno imediato da carga. Para você, que dirige no terminal ou trabalha na faixa de operação, a regra é clara: não permaneça sob a linha do contêiner, siga a sinalização do sinaleiro e preserve o corredor de circulação. Um segundo de distração pode colocar um corpo na rota de uma carga de dezenas de toneladas.
Supervisores devem garantir que o raio de operação do guindaste esteja livre, que rádios funcionem com clareza e que EPIs estejam ajustados. A comunicação precisa evitar mensagens ambíguas. Em evento com carga inclinada, assumir controle da cena e designar um único ponto de comando evita ordens conflitantes.
Impacto na logística e o que observar nos próximos dias
Incidentes desse tipo geram apreensão, mas nem sempre causam filas nas gates ou atrasos nos navios. Quando a operadora mantém parte do parque funcionando e delimita apenas a área afetada, o efeito se dilui. A investigação, no entanto, costuma trazer pequenas mudanças de procedimento. Ajustes em checklists, troca de componentes e reciclagem de treinamentos entram na agenda.
Transportadores e donos de carga acompanham de perto: segurança operacional influencia prazos, custos de seguro e confiabilidade. Para quem despacha contêineres regularmente, vale solicitar ao parceiro logístico indicadores como taxa de incidentes por mil movimentos e tempo médio de resposta a ocorrências.
O que pode vir na investigação
A perícia interna deve avaliar logs do guindaste, sensores do spreader, condições de manutenção, treinamento recente das equipes e fatores ambientais, como vento e iluminação. O cruzamento desses dados ajuda a comprovar se houve falha mecânica, erro humano, condição operacional atípica ou uma combinação de fatores.
Se fosse com você: checklist rápido de atitude segura
- Mantenha distância da área de carga até o sinal claro do sinaleiro.
- Verifique se a carreta está travada, nivelada e com calços antes do apoio.
- Se notar torção ou inclinação, comunique no rádio e não tente corrigir por conta própria.
- Use capacete, botas, colete e luvas. Ajuste o EPI para não prender em quinas.
- Reportar quase-acidentes garante dados para prevenir o próximo.
Contexto do terminal e tendências de segurança
O Porto de Santos opera com múltiplos terminais de contêineres e alto giro diário de movimentos. A Margem Esquerda, onde ocorreu o episódio, concentra pátios extensos e fluxo intenso de carretas internas. Essa escala cobra disciplina em manutenção e rotina. A adoção de análises preditivas em guindastes, com sensores que antecipam desgaste de twistlocks e atuadores, vem crescendo. Empresas também reforçam simuladores para treinar operadores em cenários raros, como cargas travadas e ventos de rajada.
Para além do hardware, cultura conta. Programas que incentivam o reporte sem punição direta de desvios e quase-acidentes ampliam a base de dados e geram prevenção. Quando o time confia no processo, o terminal aprende mais rápido.
Informações úteis para quem depende do cais
Se você é caminhoneiro agregado ou autônomo, vale planejar janelas de entrega para horários menos congestionados após eventos incomuns. Para embarcadores, acompanhar avisos operacionais ajuda a ajustar cut-offs e reduzir risco de demurrage. Seguradoras e clubes de proteção e indenização consideram a gestão de risco do terminal ao precificar apólices. Bons indicadores tendem a refletir em prêmios menores ao longo do tempo.
Eventos sem feridos mostram que o procedimento funcionou. A lição é transformar o susto em prática mais segura amanhã.


