Nos bastidores da cúpula que antecede a COP 30, a logística vira protagonista e acende discussões sobre custo, eficiência e confiança.
Em Belém, a preparação para receber chefes de Estado saiu do papel com a contratação de uma empresa para transportar autoridades. O acordo segue um roteiro conhecido em grandes eventos, mas o valor, o prazo curto e a falta de propostas no pregão original levantam perguntas que atingem quem mora na cidade e quem paga a conta.
Contratação direta após licitação deserta
A Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) acionou uma contratação direta para garantir o transporte das autoridades durante a Cúpula de Líderes, etapa que antecede a COP 30. O governo federal informou que o pregão aberto em setembro não recebeu propostas, situação classificada como licitação deserta.
Quando isso acontece, a legislação brasileira permite a contratação direta, desde que as condições do edital sejam mantidas e as exigências legais, atendidas. Nesse caso, o valor previsto permanece próximo de R$ 2,9 milhões e o serviço cobre motoristas, coordenação, combustível e limpeza de veículos.
Sem interessados no pregão, a OEI contratou diretamente serviços de transporte para a Cúpula de Líderes, mantendo valores e regras do edital.
Quanto custa e quem faz o quê
O planejamento financeiro dividiu o serviço em três lotes com funções distintas. O desenho permite acompanhar o que cada real cobre e onde estão os maiores gastos.
| Lote | Descrição | Valor | Período |
|---|---|---|---|
| A | Transporte executivo com motoristas e supervisão de frota | R$ 2.314.592,57 | 1º a 8 de novembro |
| B | Fornecimento de combustível para a frota | R$ 523.440,00 | Durante os eventos |
| C | Limpeza e higienização dos veículos | R$ 80.173,80 | Durante os eventos |
O Lote A concentra a maior parte dos recursos e cobre a operação de oito dias, com motoristas e supervisão. Já os lotes B e C garantem abastecimento e condições sanitárias adequadas para a frota.
R$ 2.918.206,37 é o total previsto pela estrutura de transporte: operação, combustível e limpeza.
O que está previsto para a semana da cúpula
A Cúpula de Líderes está marcada para 6 e 7 de novembro. A operação de transporte, no entanto, vai de 1º a 8 de novembro, período que inclui chegadas, reuniões preparatórias e deslocamentos pós-evento.
- Motoristas dedicados para chefes de Estado e delegações.
- Equipes de coordenadores e supervisores para a frota.
- Abastecimento contínuo para garantir pontualidade.
- Limpeza e higienização frequentes dos veículos.
A OEI e o governo não divulgaram rotas, tamanho da frota e o nome da empresa contratada. A operação se integrará à Blue Zone, montada no Parque da Cidade, área que concentra negociações e acessos controlados.
Transparência, lacunas e próximos passos
O governo afirma que a contratação seguiu as regras e os limites do edital, com publicidade e controle previstos pela entidade. Ainda assim, faltam dados públicos sobre a empresa vencedora, frota mobilizada, emissões estimadas e critérios de seleção técnica aplicados após a licitação deserta.
Divulgar esses itens antes do início da operação ajudaria a reduzir ruídos e a permitir o escrutínio social. Belém vive uma rotina de trânsito pressionado e precisa de coordenação fina entre o transporte oficial, as linhas urbanas e os bloqueios em áreas sensíveis.
Como funciona a contratação após uma licitação deserta
Quando um edital não recebe propostas, o órgão pode negociar diretamente, preservando o escopo e o teto de preços. Essa saída tem amparo legal e costuma aparecer em agendas com cronogramas rígidos, como grandes cúpulas, olimpíadas e reuniões multilaterais. O desafio está em manter a competição de preços e a qualidade técnica, mesmo sem a disputa entre empresas.
Impactos para Belém e para você
Uma operação desse porte mexe com o cotidiano. Mais carros oficiais nas vias exigem faixas reservadas e bloqueios temporários. Moradores e comerciantes podem enfrentar mudanças no acesso a bairros e serviços. Já trabalhadores locais tendem a ganhar com contratações temporárias em condução, apoio e limpeza.
O equilíbrio entre segurança de autoridades e mobilidade dos moradores define a percepção de sucesso do evento na cidade.
Riscos logísticos e ambientais
Trânsito: atrasos em horários de pico e maior pressão sobre corredores estratégicos.
Segurança: escoltas e barreiras móveis requerem comunicação rápida para reduzir impactos.
Emissões: o deslocamento da frota gera CO₂ e poluentes locais; metas de redução pedem medidas compensatórias.
Quanto isso significa na prática
Para dimensionar o gasto, vale um exercício simples com base nos valores informados. O total previsto é de R$ 2.918.206,37 para até oito dias de operação.
Custo médio por dia: aproximadamente R$ 364,8 mil. O valor cobre motoristas, coordenação, combustível e higienização em regime intensivo.
Combustível: se o preço médio considerado for de R$ 6 por litro, o Lote B (R$ 523.440) permitiria algo perto de 87 mil litros ao longo da operação. Em oito dias, são cerca de 10,9 mil litros por dia. Esse número ilustra o porte da frota exigida por uma agenda concentrada de reuniões e deslocamentos oficiais.
Limpeza: R$ 80.173,80 para higienização e manutenção da frota indica ciclos frequentes, importantes para conforto, imagem institucional e protocolos sanitários.
O que observar nos próximos dias
Três frentes ajudam a acompanhar a execução e os resultados:
- Dados operacionais: frota mobilizada, quilometragem rodada e índices de pontualidade.
- Transparência: divulgação do CNPJ contratado, critérios técnicos e planilha de custos.
- Mitigação ambiental: uso de veículos de baixa emissão e compensação de carbono.
Onde a logística encontra a COP 30
A Blue Zone, erguida no Parque da Cidade, concentra negociações e áreas de acesso restrito. Nela, controle e previsibilidade valem ouro. A logística de transporte é parte crítica para que chefes de Estado circulem com segurança e cheguem no horário às sessões. Em paralelo, a cidade precisa manter a rotina minimamente fluida para moradores, estudantes e turistas.
Experiências comparáveis mostram que medidas como faixas temporárias, janelas de deslocamento fora do pico e monitoramento em tempo real reduzem o atrito entre a circulação oficial e o trânsito local. Se houver integração com ônibus, táxis e aplicativos, o desenho pode aliviar gargalos e encurtar trajetos, com ganhos para quem se desloca diariamente.
Para quem acompanha a conta pública, a chave está na comprovação do serviço prestado: diárias de motoristas efetivamente usadas, abastecimento com notas fiscais e roteiros coerentes com a agenda. Esses elementos sustentam auditorias e fortalecem a confiança num momento em que a vitrine de Belém recebe atenção internacional.


