No coração do Oriente Médio, obras gigantes redesenham a vida urbana e acendem perguntas sobre custo, clima e futuro.
Com escavadeiras em ação e contratos multilionários assinados, três megaestruturas começam a tomar forma no deserto. Elas prometem moradia densa, indústria limpa e lazer de alta tecnologia, em um pacote que mira novos empregos, turismo premium e energia renovável.
Um salto urbano que mira a próxima economia
O projeto integra três polos complementares: uma cidade linear envidraçada, um complexo industrial flutuante e um destino alpino futurista. A ambição vai além da estética. A meta é diversificar uma economia dependente de petróleo, posicionar a região como hub tecnológico e criar um laboratório vivo para soluções climáticas.
R$ 45 trilhões, nove milhões de moradores e energia 100% renovável: a promessa é inaugurar um novo padrão urbano em climas extremos.
A cidade linear The Line
A peça central desenha uma metrópole em linha, com 170 km de extensão e duas fachadas espelhadas de cerca de 500 metros de altura. Em vez de bairros espalhados, a vida se organiza em camadas sobrepostas, reduzindo deslocamentos e priorizando o pedestre.
- Transporte: trem de alta velocidade com trajeto total de até 20 minutos
- Mobilidade: zero carros e foco em percursos a pé
- Clima interno: janelas inteligentes e controle ambiental
- Comida e energia: agricultura vertical e geração própria
- Objetivo: emissões zero com matriz renovável
O desenho vertical busca encurtar distâncias e concentrar serviços em módulos repetíveis. O espelhamento promete reduzir carga térmica e controlar a incidência solar, algo crucial em ambientes áridos.
Oxagon, a indústria sobre o mar
No litoral, um polígono flutuante pretende abrigar cadeias produtivas limpas, com porto automatizado e integração logística em tempo real. A proposta mira neutralizar a imagem de indústria pesada ao adotar energia renovável e automação avançada.
- Operação com energia eólica, solar e hidrogênio verde
- Portos com embarque e desembarque autônomos
- Aplicação intensa de robótica e inteligência artificial
- Produção e uso de hidrogênio como insumo-chave
- Monitoramento digital de ponta a ponta
Para investidores e fabricantes, a promessa é reduzir perdas logísticas, cortar emissões e acelerar novos materiais e processos. Para a região, a aposta é atrair P&D e ancorar uma base exportadora de baixo carbono.
Trojena, inverno high-tech no deserto
Nas montanhas, um polo de neve permanente pretende combinar esportes, hotelaria e engenharia climática. A proposta inclui lago artificial, resorts e arquitetura inspirada em formas naturais para aumentar eficiência térmica.
- Pico com neve o ano inteiro e pistas para esportes
- Lago alpino e trilhas de montanha monitoradas
- Resfriamento ambiental com soluções digitais
- Estradas inteligentes e segurança integrada
A ambição é disputar grandes eventos e construir um calendário global capaz de manter fluxo turístico prolongado. A climatização controlada vira vitrine para tecnologias de resfriamento urbano, um tema crescente em cidades quentes.
Quanto isso move a economia
Se as metas forem cumpridas, o complexo promete encadear novas cadeias de valor e renda qualificada. O plano cita geração de mais de 380 mil postos de trabalho diretos e indiretos, estímulo a startups e centros de P&D e a formação de um polo de eventos internacionais.
Mais do que erguer prédios, o desafio é operar cidades inteligentes em escala: mobilidade autônoma, água garantida, segurança algorítmica e governança digital.
Três pilares, um objetivo
| Pilar | Função principal | Recursos-chave | Meta energética |
|---|---|---|---|
| The Line | Habitação e serviços urbanos | Trem rápido, urbanismo vertical, controle climático | Emissões zero com 100% renováveis |
| Oxagon | Indústria e logística | Porto autônomo, IA, robótica, hidrogênio verde | Operação com energia limpa |
| Trojena | Turismo e esportes | Neve permanente, resorts, arquitetura biomimética | Eficiência térmica e gestão climática |
Por que saiu do papel
A região busca protagonismo no ciclo pós-petróleo. A estratégia combina branding de futuro com infraestrutura real, atraindo empresas de tecnologia, talentos internacionais e capital soberano de longo prazo. Máquinas já operam em frentes de obra e consórcios globais assumiram pacotes críticos, sinalizando comprometimento com cronogramas plurianuais.
Perguntas difíceis que não podem ficar para depois
- Viabilidade técnica: manter conforto térmico em massa populacional sob calor extremo
- Financiamento: escalonar R$ 45 trilhões ao longo de décadas sem perda de fôlego
- Água: dessalinização, consumo energético e descarte de salmoura
- Ambiental: impactos sobre fauna, flora marinha e emissões na construção
- Social: qualificação de mão de obra e acesso a serviços para trabalhadores migrantes
- Governança: privacidade, vigilância algorítmica e transparência de decisões
O que muda para você
Se parte dessas soluções se provar eficiente, cidades brasileiras em áreas quentes podem adotar técnicas de sombreamento ativo, fachadas refletivas calibradas, agricultura vertical integrada a habitação social e modais rápidos para reduzir deslocamentos longos. O teste em clima árido acelera o aprendizado sobre materiais, algoritmos de mobilidade e reuso de água cinza.
Marcos a observar nos próximos anos
- Entrega de trechos habitáveis da cidade linear e início de operação do trem rápido
- Instalação de eletrolisadores e produção contínua de hidrogênio verde
- Automação portuária com fluxo autônomo de contêineres em Oxagon
- Abertura de pistas e estrutura turística em Trojena com neve controlada
- Normas de dados urbanos e regras públicas para governos digitais locais
Riscos, aprendizados e oportunidades
Ciclos de megaprojetos costumam sofrer revisões e atrasos. Mudanças no escopo tendem a ocorrer a partir de testes operacionais. O risco de custo crescente é alto, mas o volume de capital e a pressão por resultados fornecem uma almofada de continuidade. Para fornecedores, há espaço em sensores, materiais de baixa emissão, baterias, dessalinização e sistemas de reaproveitamento hídrico.
Uma simulação útil para gestores brasileiros é modelar corredores urbanos de 15 minutos com controle solar inspirado nas fachadas espelhadas, somado a microrredes com fotovoltaica, baterias e gestão de demanda. Em zonas portuárias, aplicar parte do pacote de automação e rastreabilidade reduz custos logísticos e perdas. Para turismo de montanha, o caso de neve artificial traz um alerta: consumo energético precisa vir atrelado a renováveis e a metas rígidas de eficiência.


