R$ 7 mi para salvar florestas: start-up brasileira vence prêmio de William e você pode ganhar junto?

R$ 7 mi para salvar florestas: start-up brasileira vence prêmio de William e você pode ganhar junto?

Enquanto o debate climático esquenta, uma empresa do país transforma áreas degradadas em ativos e mexe com seu bolso.

Uma start-up brasileira virou protagonista ao receber um prêmio internacional criado pelo príncipe William, que valoriza soluções capazes de recuperar a natureza, limpar o ar e proteger comunidades. O reconhecimento vem acompanhado de dinheiro, metas e pressão por resultados mensuráveis.

Quem é a re.green e como o projeto funciona

A vencedora na categoria “Proteger e Restaurar a Natureza” foi a re.green. A empresa atua na restauração de pastagens degradadas na Mata Atlântica e na Amazônia, com foco em propriedades acima de 100 hectares. A estratégia combina plantio de mudas nativas, manejo de regeneração natural e monitoramento de longo prazo para recompor a estrutura florestal.

A premiação de aproximadamente R$ 7 milhões reconhece a restauração de áreas degradadas que, ao amadurecer, passam a gerar créditos de carbono.

O modelo busca uma equação econômica simples: o proprietário aporta a área; a start-up planta, cuida e monitora; a floresta em recuperação captura carbono; e, quando essa captura é certificada, os créditos viram receita. Essa receita pode remunerar o proprietário e viabilizar a expansão do projeto.

Do viveiro ao crédito de carbono

A recuperação avança em etapas. Primeiro, ocorre o diagnóstico ecológico da área. Em seguida, a equipe define o arranjo de espécies nativas e promove o plantio com técnicas adaptadas ao bioma. Na sequência, vem o manejo: controle de espécies invasoras, adubação, replantio em falhas e cercamento para evitar pressão de gado.

Com a floresta em desenvolvimento, inicia-se a medição de biomassa e a coleta de dados para metodologias de certificação de carbono. A validação por auditoras independentes abre a porta para a emissão de créditos, que podem ser vendidos a empresas interessadas em compensar emissões residuais, dentro das regras de mercados voluntários.

Na Mata Atlântica e na Amazônia, a combinação entre biodiversidade e carbono cria valor ambiental e econômico no mesmo hectare.

Por que isso importa para você

Para quem é dono de terra, a restauração pode virar fonte de renda. Para quem vive nas cidades, o ganho vem em forma de serviços ambientais: água mais limpa, clima local menos extremo, polinizadores e estabilidade do solo. Para empresas, créditos confiáveis ajudam a fechar o balanço de emissões, desde que a prioridade siga sendo cortar CO₂ na origem.

O que a premiação sinaliza para o Brasil

O prêmio aumenta a visibilidade de soluções brasileiras e pressiona por escalabilidade. O país reúne áreas degradadas em larga escala, clima favorável e diversidade genética. Ao mesmo tempo, enfrenta gargalos: insegurança fundiária, acesso a financiamento de longo prazo, custo de monitoramento e necessidade de regras claras para mercados de carbono.

  • Demanda crescente: setores difíceis de descarbonizar buscam créditos de alta integridade.
  • Oferta qualificada: restauração com espécies nativas agrega biodiversidade e resiliência hídrica.
  • Risco e governança: contratos, auditorias e transparência evitam greenwashing e perda de credibilidade.

Os outros vencedores e as soluções premiadas

O prêmio reconheceu cinco iniciativas que atacam pontos críticos da crise climática e da perda de biodiversidade. A seguir, o que cada uma entrega de forma concreta.

  • Bogotá (categoria “Limpar o Nosso Ar”): redução de 24% da poluição atmosférica desde 2018, frota de 1.400 ônibus elétricos e mais de 100 km de faixas dedicadas a veículos de baixas emissões. Investimento total próximo de US$ 20 bilhões em mobilidade, qualidade do ar e áreas verdes.
  • Tratado do Alto Mar (categoria “Reviver Nossos Oceanos”): objetivo de proteger 30% dos oceanos até 2030; já ratificado por mais de 60 países. O prêmio foi entregue à Aliança do Alto Mar, que reúne mais de 70 grupos da sociedade civil para implementar a governança em águas internacionais.
  • Semana da Moda de Lagos (categoria “Construir um Mundo Livre de Lixo”): obriga expositores a provar compromisso com sustentabilidade em toda a cadeia, do fio ao transporte. Chama atenção para o dado crítico: menos de 1% dos têxteis é reciclado hoje.
  • Friendship, de Bangladesh (categoria “Conserte o Nosso Clima”): ONG fundada em 2002 que prepara comunidades vulneráveis para desastres, com ações em educação, saúde, moradia e serviços públicos. Já plantou mais de 650 mil árvores em 200 hectares, protegendo mais de 125 mil pessoas dos efeitos de ciclones.

De ônibus elétricos a corais, de passarelas a manguezais: as soluções premiadas avançam onde políticas públicas e capital privado se encontram.

Como a restauração vira dinheiro — e quais são as regras do jogo

Crédito de carbono só se sustenta com integridade ambiental. Três critérios ditam o valor do ativo: adicionalidade (a captura não ocorreria sem o projeto), permanência (o carbono fica estocado por décadas) e mensuração verificável (dados auditáveis, métodos reconhecidos).

Passos práticos para proprietários rurais

  • Mapear a área: confirmar titularidade e identificar passivos legais e ecológicos.
  • Definir o arranjo de restauração: espécies nativas, corredores ecológicos e proteção de nascentes.
  • Planejar o financiamento: combinar recursos próprios, parcerias e receitas futuras de créditos.
  • Escolher a metodologia: adotar padrões aceitos no mercado voluntário e preparar auditorias.
  • Monitorar e reportar: usar imagens de satélite, inventários de campo e registros públicos.

Riscos, prazos e expectativas realistas

Restauração florestal leva tempo. A emissão de créditos costuma acontecer após alguns anos, quando a biomassa demonstra crescimento consistente. Incêndios, pragas e eventos climáticos podem exigir replantio e encarecer a operação. Contratos precisam prever responsabilidades e seguros. Preço de crédito varia conforme qualidade, co-benefícios (biodiversidade, água, inclusão social) e humor do mercado.

O que muda para empresas e consumidores

Empresas que miram metas climáticas podem priorizar créditos com transparência de dados e comprovação de co-benefícios locais. Consumidores ganham quando cadeias inteiras incorporam critérios ambientais — como o caso da Semana da Moda de Lagos. Cidades, como Bogotá, mostram que políticas consistentes reduzem poluição e estimulam inovação industrial.

Dicas finais para entrar no tema sem tropeçar

Quem quer apoiar restauração pode começar calculando a própria pegada de carbono, reduzindo emissões diretas e só então usando compensações. Para proprietários, vale checar incentivos estaduais, programas de PSA e possibilidades de combinar restauração com manejo florestal sustentável, sistemas agroflorestais e crédito rural verde.

Vale lembrar que o Tratado do Alto Mar, ao mirar 30% de proteção até 2030, pressiona cadeias globais de pesca e logística a adotar práticas mais limpas — um movimento que tende a elevar o valor de ativos ambientais bem-estruturados no Brasil. A premiação ao projeto brasileiro não encerra a conversa; ela puxa uma fila de oportunidades que vai do campo à cidade, do investidor ao cidadão comum.

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