Rio: mar avança 25 metros na Praia da Macumba em 15 dias, ciclovia em risco — e você, vai esperar?

Rio: mar avança 25 metros na Praia da Macumba em 15 dias, ciclovia em risco — e você, vai esperar?

A praia preferida de surfistas amanheceu diferente. Quem passa sente falta do espaço onde famílias se reuniam para o pôr do sol.

O cenário mudou depressa no Recreio dos Bandeirantes. O avanço do mar redesenhou a Praia da Macumba e trouxe a linha d’água para perto da ciclovia, impondo ajustes a quem caminha, corre ou pedala por ali.

Faixa de areia some e rotina muda

Em poucas semanas, trechos antes largos viraram corredores estreitos. Moradores contam que a área útil, que chegava a 25 metros, desapareceu em pontos críticos. Barracas precisaram recuar. Pescadores passaram a lançar as redes mais junto ao paredão. Frequentadores reduziram o tempo de permanência por causa das ondas fortes e da maré alta.

A ciclovia já sentiu o impacto. Reparos emergenciais foram feitos após danos na base de concreto. O calçadão entrou no radar de risco, principalmente nos dias de ressaca e ventos de quadrante sul.

O mar chegou ao pé do paredão que protege a ciclovia em cerca de 15 dias, comprimindo a praia e encurtando a área de lazer.

De 25 metros a quase nada

Relatos de quem mora em frente ao mar apontam um recuo visível a olho nu. A faixa antes ocupada por praticantes de futevôlei e famílias agora alterna pedras expostas e poças formadas pela arrebentação. O impacto é cotidiano: escolas de surf remanejaram aulas, grupos de corrida mudaram o ponto de encontro e ciclistas evitam passar em horários de maré cheia.

O que explica a perda de areia

Especialistas descrevem um conjunto de fatores. O primeiro é a urbanização próxima demais da linha de costa. Obras rígidas — como calçadões, quiosques e ciclovias — reduzem a capacidade natural da praia de recuar e avançar ao sabor das marés e ressacas. Sem espaço para dissipar energia, as ondas batem e retiram sedimentos com mais facilidade.

O segundo fator é a dinâmica sazonal. No outono e no inverno, frentes frias frequentes empurram mar pesado para o litoral do Rio. No fim da primavera, esse padrão pode persistir. Ventos de sul e sudoeste geram ondas longas que alcançam o fundo da praia e carregam areia para áreas mais profundas.

Há ainda a circulação de correntes ao longo da costa, que transporta sedimentos paralelamente à praia. Qualquer intervenção a montante — como enrocamentos ou espigões em pontos vizinhos — pode alterar esse balanço, criando déficit de areia em trechos específicos.

Engenheiros costeiros defendem repor sedimentos para devolver largura à praia e reduzir a energia das ondas antes de atingir estruturas.

Construções à beira-mar e ondas de ressaca

Quando o mar encontra barreiras rígidas, a energia reflete de volta e intensifica escavações no pé do paredão. O resultado aparece em poucos dias: base exposta, ferragens aparentes e socavamento sob lajes de contenção. Em paralelo, as ressacas encurtam o perfil da praia, que precisa de janelas de tempo calmo para se recompor — algo cada vez mais raro.

O que pode ser feito agora

Há um cardápio de medidas possíveis, combinando ações imediatas e planejamento de médio prazo. Nem todas servem para todos os trechos. Técnicos recomendam diagnóstico fino antes de mexer. A seguir, caminhos debatidos por universidades e gestores:

Opção Prazo Benefícios Alertas
Reposição de areia (engordamento) Rápido a médio Recupera a largura e protege ciclovia e calçadão Demanda manutenção periódica e areia compatível
Realocação de mobiliário Imediato Reduz risco a quiosques e equipamentos Não resolve a dinâmica de sedimentos
Reforço pontual de contenção Imediato Evita colapsos locais na ciclovia Pode agravar a erosão à frente
Dunas vegetadas e cercamento Médio Retém areia e cria barreira natural Requer manejo e respeito a áreas cercadas

A reposição de sedimentos aparece como alternativa viável para a Macumba. Ao devolver volume à faixa de areia, as ondas perdem força antes de alcançar a ciclovia. A operação precisa de estudos de granulometria, definição de jazidas e licenciamento ambiental. Sem manutenção, o ganho some com novos ciclos de ressaca.

Reposição de sedimentos e manutenção contínua

Experiências no Rio, como Copacabana e Barra, mostram que o engordamento funciona quando há monitoramento. Equipamentos medem o perfil da praia e orientam recargas menores, feitas com planejamento anual. Transparência no cronograma e na origem do material evita conflitos e reduz custos.

Como moradores e visitantes podem agir já

Enquanto o poder público dimensiona as obras, quem frequenta a Macumba pode adotar cuidados práticos. Pequenas mudanças reduzem riscos e ajudam a preservar o que resta de areia.

  • Evite caminhar sobre áreas de base exposta da ciclovia, principalmente na maré alta.
  • Respeite cercamentos provisórios e sinalizações que indiquem risco de desabamento.
  • Prefira horários de maré baixa para atividades esportivas na areia.
  • Não remova troncos ou cercas de proteção de dunas, mesmo que pareçam fora de lugar.
  • Acione a defesa civil ao observar erosões súbitas ou rachaduras no piso.

A praia continua sendo espaço de lazer, mas a segurança precisa vir primeiro nos dias de mar agitado.

Perguntas que a prefeitura precisa responder

O bairro quer previsibilidade. Moradores cobram prazos e metas. A administração local precisa apresentar plano com etapas, valores e fontes de financiamento. Também se espera a integração com a limpeza urbana, já que recargas de areia exigem logística intensa de caminhões e barcaças. Transparência sobre monitoramento, critérios de fechamento de trechos e comunicação em dias de ressaca aumenta a confiança de quem usa a orla.

Riscos para a ciclovia e para o comércio

A ciclovia concentra fluxo diário de trabalhadores e praticantes de esportes. Danos estruturais afetam mobilidade e podem causar acidentes. Quiosques e serviços na orla perdem faturamento quando a praia encurta. Redesenhar acessos e posicionar rampas removíveis ajudam a manter o funcionamento com segurança. O calendário de eventos esportivos precisa considerar janelas de maré e a possibilidade de cancelamento preventivo.

Quando a faixa de areia volta

A praia é um sistema vivo. Após ressacas, parte da areia pode retornar com períodos de mar mais calmo. Esse retorno, porém, depende do estoque de sedimentos disponível no entorno e do regime de ondas do mês seguinte. Sem reposição artificial ou gestão de dunas, a tendência é de recuperação parcial e instável. Monitoramentos semanais com drones e perfis de praia dão base para decisões rápidas.

Informações úteis para planejar sua visita

Aplicar algumas regras práticas ajuda a diminuir perrengues e aumentar a segurança em dias de mar mexido na Macumba.

  • Consulte tábua de marés e previsão de ressaca antes de sair de casa.
  • Leve calçado para trechos com pedras expostas e pisos escorregadios.
  • Evite levar cadeiras e guarda-sóis em locais onde a onda já alcança a base do paredão.
  • Se estiver com crianças, mantenha distância da arrebentação e da transição para a ciclovia.
  • Em caso de alagamento na ciclovia, não pedale por dentro da lâmina d’água para não despencar em buracos ocultos.

Mais contexto para quem quer entender o problema

Dois termos ajudam a decifrar o que acontece. “Ressaca” é o período de ondas altas e mais longas que avançam mais pela praia; “transporte longitudinal” é o movimento de areia ao longo da costa, empurrado por ondas e correntes paralelas. Quando a urbanização encosta demais no mar, a praia perde seu “pulmão” de areia e fica mais vulnerável a cada ressaca. A Macumba, por sua morfologia aberta ao sul e pelo corredor de vento da barra, sente esse efeito com força.

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