O fim de tarde parecia comum no DF, até que o asfalto traiu um motorista e revelou um risco escondido.
Uma erosão sob o pavimento em Arniqueira abriu um vão e engoliu parte do carro de um entregador no início da noite de segunda-feira (3/11). O caso ocorreu por volta das 16h30, na SHA Chácara 65, em frente ao lote 14, perto de um córrego. O episódio acendeu um alerta para quem circula em áreas com drenagem antiga e chuvas frequentes.
Como o asfalto cedeu
Segundo relatos, o entregador Roberto José Feitosa, 28 anos, morador do Riacho Fundo II, manobrou o veículo em uma via aparentemente intacta. Em seguida, ouviu um estalo seco. O piso afundou de forma rápida. O asfalto estava inteiro por cima, mas o vazio por baixo era grande. O carro acabou parcialmente engolido pelo buraco, que dava acesso a um curso d’água ao lado da via.
O afundamento evoluiu em etapas. A cada ruído ou vibração, a borda da cratera cedia um pouco mais. O risco de colapso total aumentava a cada minuto. A irmã do motorista, Rosamilda Feitosa, 42 anos, moradora de Arniqueira, correu para socorrer. O medo maior era de a água corroer ainda mais o entorno e arrastar o veículo.
Resgate levou cerca de quatro horas. A família pagou R$ 250 pelo guincho que retirou o carro com segurança.
O resgate e a agonia na beira do buraco
Foram quatro horas de tensão. A orientação de populares foi manter distância das bordas, por causa do risco de desabamento. O guincho precisou posicionar o cabo à distância para evitar mais vibrações. Quando o motorista conseguiu sair, escorregou e caiu no buraco, mas foi retirado sem ferimentos graves. O resgate priorizou a estabilidade do terreno, com cuidado redobrado por causa da proximidade do córrego.
O que dizem as autoridades
A Administração Regional de Arniqueira enviou equipe para sinalizar a área e acionou a Novacap para os reparos. Técnicos identificaram o rompimento de uma manilha da galeria de águas pluviais como causa do processo erosivo. Esse trecho da rede, segundo a administração, foi construído por moradores antes da criação da região administrativa e não integra um sistema moderno de drenagem.
Ruptura de manilha antiga em galeria pluvial provocou erosão sob o asfalto, segundo a Administração Regional.
O órgão orienta que ocorrências semelhantes sejam comunicadas pelo Disque 162. Em emergências, o cidadão deve buscar o Corpo de Bombeiros pelo 193 ou a Defesa Civil pelo 199. A via foi isolada até avaliação estrutural e intervenção na galeria.
Por que isso acontece em dias de chuva
Chuva intensa pressiona sistemas de drenagem. Quando a manilha rompe ou há conexões precárias, a água escapa e escava o subsolo. Esse processo, conhecido como piping, leva finos e cria vazios sob o pavimento. Por cima, o asfalto pode parecer intacto. Por baixo, a base fica oca. O peso de um veículo, um impacto ou a vibração de um motor bastam para o colapso.
Áreas próximas a córregos sofrem mais. O lençol freático variado e o solo saturado aceleram a erosão. Obras antigas, feitas sem projeto ou fiscalização, elevam o risco. Sem manutenção periódica, pequenos pontos de infiltração viram crateras.
Sinais de alerta que moradores e motoristas podem notar
- Asfalto abaulado, com ondulação atípica perto de bueiros ou bocas de lobo.
- Som oco ao pisar ou ao bater levemente com um objeto no chão.
- Fissuras em formato de teia, aumentando após chuva forte.
- Água escorrendo turva ou com areia saindo de juntas do pavimento.
- Afundamento de meio-fio e rachaduras em calçadas próximas a galerias.
Como se proteger ao volante na chuva
Evite estacionar ou manobrar sobre emendas e remendos em vias próximas a córregos. Mantenha distância de tampas de bueiro deslocadas. Se ouvir estalos sob o carro, não acelere: reduza vibrações e se afaste com suavidade. Em locais alagados, não avance sem ver o leito da via. Água corrente pode ocultar erosão, tampas soltas e crateras.
Se o veículo começar a afundar, desça com calma e permaneça longe das bordas. Terrenos saturados cedem com o peso do corpo. Chame ajuda e isole o local com o que estiver à mão, sem se aproximar do eixo do buraco.
Quando e como pedir ajuda
| Órgão | Quando acionar | Telefone |
|---|---|---|
| Corpo de Bombeiros | Risco imediato à vida, veículo instável, pessoas presas ou feridas | 193 |
| Defesa Civil | Risco estrutural, trincas no solo, erosão avançando para imóveis | 199 |
| Administração Regional | Registro de problemas em vias e drenagem, sinalização e manutenção | Disque 162 |
O que deve mudar na drenagem de Arniqueira
Casos assim expõem a necessidade de mapear redes antigas, muitas instaladas de forma irregular décadas atrás. Substituir manilhas e reforçar a base do pavimento onde há galerias antigas reduz o risco. Vistorias preventivas antes do período chuvoso ajudam a identificar pontos de vazamento. Em frentes próximas a cursos d’água, o projeto precisa considerar escorregamento de margens, lençol freático e dissipadores de energia para a água de chuva.
O poder público anunciou reparos conjuntos. Para ganhar escala, a região busca um inventário das galerias existentes, com prioridade para trechos com maior fluxo de veículos e proximidade de córregos. A participação dos moradores, ao reportar sinais precoces, acelera intervenções e evita gastos maiores depois.
Informações úteis para quem mora perto de córregos
Pequenas medidas reduzem o risco na vizinhança. Manter bocas de lobo desobstruídas evita refluxo e jatos laterais que abrem cavidades sob o asfalto. Não perfure calçadas para escoar água de quintal direto para a rua; isso enfraquece a base. Se notar areia acumulada repentinamente em frestas da via após uma chuva, trate como alerta de vazamento subterrâneo.
Em casos de recorrência, registre com fotos, anote data, hora e condições de chuva e reporte ao 162. Se houver vibração anormal no chão ou ruídos de água sob o pavimento, mantenha as pessoas afastadas e chame o 199 para avaliação técnica. A ação rápida reduz danos a veículos e imóveis e preserva a segurança da comunidade.


