A música brasileira atravessa uma mudança silenciosa. Ferramentas de IA encurtam processos, geram sons inéditos e reabrem disputas por autoria e renda.
Na quarta (5), a Unesp reúne artistas e pesquisadores para confrontar promessas e riscos da criação musical com inteligência artificial. O seminário ocorre no Teatro Maria de Lourdes Sekeff, no Instituto de Artes, com transmissão ao vivo e entrada gratuita.
O que está em jogo
A discussão mira além do hype. Autoria, créditos, ética e novos modelos de trabalho entram no mesmo palco. Músicos relatam ganhos de produtividade com assistentes de composição e mixagem. Produtores testam geradores de arranjos e vozes clonadas. Pesquisadores mapeiam vieses de datasets e limites de uso justo. O público já sente o impacto no feed e nas playlists.
Gratuito, híbrido e direto ao ponto: quarta (5), 19h30, Instituto de Artes da Unesp, câmpus Barra Funda, com transmissão ao vivo.
O encontro propõe um olhar crítico sobre como a IA redistribui poder criativo. Quem assina uma faixa que nasceu de um prompt? Quem recebe quando uma voz sintética imita um artista conhecido? Onde começa a curadoria humana e termina o algoritmo? Essas perguntas pautam a conversa.
Quem vai falar
A mediação fica com a professora Helen Gallo, do Instituto de Artes. Na mesa, perfis complementares trazem experiências de estúdio, palco e pesquisa.
Felipe Vassão
Compositor e produtor premiado com Latin Grammys e Cannes Lions, Vassão integra a rotina de publicidade, pop e trilha. Ele testa IA para rascunhos de harmonia, criação de timbres e arranjos rápidos. Sua vivência ajuda a dimensionar o que acelera o fluxo e o que compromete originalidade.
Maurício Pereira
Músico, compositor e ex-integrante do duo Os Mulheres Negras, Pereira atua na canção brasileira com humor e rigor poético. Ele questiona a autoria em tempos de clonagem vocal e pastiches. Sua visão cutuca limites estéticos: quando a repetição vira fórmula? Quando a ferramenta achata a singularidade?
Monique Lemos
Antropóloga e mestra em Design para Inteligência Artificial Responsável, Lemos traz a lente da responsabilidade. Ela observa o impacto de datasets desbalanceados, transparência de modelos e consentimento de quem fornece material de treino. A pauta vai da governança à prática no estúdio.
Alex Buck
Doutor em artes musicais pelo CalArts e professor no estúdio de música eletroacústica da Unesp, Buck pesquisa novas interfaces, síntese e performance. Ele discute integração de controladores gestuais, improvisação com agentes generativos e composição assistida sem perder a autoria gestual.
IA já participa do dia a dia de quem compõe, grava e distribui. A questão agora é: como usar sem perder voz, crédito e renda.
Por que isso mexe com você
- Se você compõe: a IA sugere acordes, melodias e letras. O risco é diluir a assinatura artística.
- Se você produz: modelos geram demos rápidas e texturas. O desafio é garantir originalidade e legalidade.
- Se você lança: metadata, direitos e splits pedem regras claras. A distribuição pode travar sem isso.
- Se você ouve: playlists tendem a priorizar volume de lançamentos. A curadoria humana ganha valor.
Três cenários que já batem à porta
| Cenário | Pergunta central | Impacto prático |
|---|---|---|
| Clonagem de voz | Posso usar timbre de artista sem consentimento? | Risco de processos e retirada de faixas de plataformas. |
| Composição assistida | Quem assina quando o modelo propõe a melodia? | Negociação de créditos e transparência no release. |
| Treino com acervos | Quem autoriza e remunera o uso de catálogos? | Acordos com editoras e produtores, auditoria de datasets. |
Como o debate vai caminhar
Os convidados devem apresentar casos reais de estúdio e palco. A mesa confronta dilemas éticos com exemplos concretos. A mediação organiza as perguntas do público presencial e do chat da transmissão. A proposta é mapear práticas seguras para a próxima temporada de lançamentos.
Autoria, transparência e consentimento viram pilares de qualquer workflow com IA. Sem isso, a carreira acumula riscos desnecessários.
Serviço
- Seminário: Música e Inteligência Artificial: olhares sobre seus impactos no fazer musical
- Data: quarta-feira, 5 de novembro
- Horário: 19h30
- Entrada: gratuita
- Local: Teatro Maria de Lourdes Sekeff, Instituto de Artes da Unesp, câmpus Barra Funda
- Endereço: r. Dr. Bento Teobaldo Ferraz, 271 – Barra Funda
- Metrô: estação Palmeiras–Barra Funda (linha vermelha)
- Transmissão ao vivo: canal da Proec no YouTube
- Realização: Coordenadoria de Ação Cultural (CoAC) – Proec/Unesp
Pistas práticas para levar do evento
Adote um diário de processo. Registre quando a IA intervém, quais prompts usa e quais trechos você reescreve. Esse arquivo ajuda na divisão de créditos e na defesa pública da autoria. Padronize nomes de arquivos e versões. Isso acelera revisões e reduz conflitos entre coautores.
Implemente regras de consentimento para vozes sintéticas no estúdio. Formalize autorização do dono do timbre, defina limites de uso e prazos. Guarde amostras originais e resultados finais. Esse cuidado mostra respeito e evita litígios.
Ferramentas e cuidados que valem o teste
- Geradores de música e stems: úteis para rascunhos e rearmonização. Evite publicar sem revisão estética e checagem de similaridade.
- Clonagem vocal: só com consentimento explícito e contrato. Reveja termos de uso de cada modelo.
- Assistentes de mix/master: bons para referência rápida. Compare com versões humanas antes de fechar um release.
- Detecção de similaridade: rode checagens para proteger contra coincidências melódicas e harmônicas.
O campo jurídico segue em debate e não há consenso sobre autoria de material 100% gerado por IA. Selos e agregadoras começam a exigir transparência no processo criativo. Quem documenta cada etapa ganha vantagem na negociação e reduz retrabalho. Estudantes, produtores e artistas independentes encontram neste seminário um mapa para decisões diárias, do briefing ao upload final.


