Velório de Lô Borges emociona: 7 depoimentos que fazem você repensar seu lugar na música hoje

Velório de Lô Borges emociona: 7 depoimentos que fazem você repensar seu lugar na música hoje

Entre coros espontâneos e silêncios compridos, Belo Horizonte testemunhou relatos pessoais que iluminaram caminhos da canção brasileira nesta manhã fria.

O velório de Lô Borges, nesta terça-feira (4/11), reuniu músicos de diferentes gerações. Eles falaram de influência, método e coragem criativa. Cada memória trouxe uma chave para entender por que sua obra segue moldando a MPB.

Despedida que virou aula de música

Instrumentistas e compositores foram ao adeus em BH e apontaram a originalidade como marca central de Lô. O saxofonista e letrista Chico Amaral definiu o mineiro como um renovador que abriu portas sonoras com ideias inéditas. O tom dos depoimentos foi mais técnico que nostálgico. Os colegas detalharam harmonias, soluções melódicas e escolhas de letra que sustentam canções ainda frescas décadas depois.

Trem azul ganhou duas gravações de Tom Jobim, num raro gesto de reverência entre gênios. A canção sintetiza sofisticação em forma popular.

Entre referências, a lembrança de que Jobim consultou Lô sobre a nova gravação reforça a centralidade do compositor no diálogo entre Minas e a tradição da canção brasileira. O olhar de pares tão distintos ajuda a dimensionar a travessia de sua música.

Originalidade reconhecida por quem cria

Chico Amaral sublinhou a capacidade de Lô de condensar delicadeza harmônica e força melódica. Nada soava complicado. Soava claro. Essa clareza, segundo ele, renovou a forma de escrever canções no país. A leitura se repete entre jovens músicos que saíram do velório com anotações e ideias.

Um divisor chamado Clube da Esquina

O violonista Gilvan de Oliveira, vizinho antigo da família Borges, relembrou encontros domésticos e afirmou que há uma linha imaginária que corta a história da MPB: antes e depois do Clube da Esquina. Para ele, a música brasileira que ouvimos hoje traz esse DNA, da harmonia “montanhosa” à poesia cotidiana.

“Pós-Clube da Esquina” virou expressão recorrente entre músicos mineiros para explicar a estética de timbres, vozes e harmonias em camadas.

Influências que viraram linguagem

Relatos no velório mostraram como Lô filtrava a escuta atenta dos Beatles e a sofisticação impressionista. Em vez de copiar, ele convertia referências em uma assinatura pessoal. O resultado aparece em progressões que mudam de rumo sem perder o fio da melodia. As canções respiram, mudam de cor e retornam ao tema como quem volta para casa.

  • Rock inglês dos anos 60 como ponto de partida para texturas vocais e arranjos enxutos.
  • Harmonias “de serra”, com mudanças súbitas que lembram curvas de estrada de Minas.
  • Sutileza modal, com acordes que abrem janelas sem quebrar o desenho melódico.
  • Parcerias que ampliaram o escopo poético, com especial diálogo com Milton Nascimento.
  • Interlocução respeitosa com Tom Jobim, consolidando ponte entre Rio e Belo Horizonte.

O que disseram os parceiros e herdeiros musicais

Tadeu Franco destacou que Lô devolveu brilho à MPB num período de desalento. Falou de vigor criativo e de uma juventude sonora que não dependia da idade, mas da escuta curiosa. Sérgio Santos, por sua vez, atribuiu sua própria formação ao impacto do Clube da Esquina. Para ele, o legado de Lô se projeta por gerações, porque não se prende a modas. As melodias mantêm humanidade e surpresa.

O legado permanece quando a canção segue útil para quem compõe, ensina e aprende. A obra de Lô cumpre esse papel com sobra técnica e afeto.

Entre os presentes, o cantor e compositor Zeca Baleiro, último parceiro de Lô em estúdio, levou lembranças de processos recentes. Já o irmão Yé Borges comentou que Lô vinha compondo sem descanso. O comentário se somou à percepção de que a fase final registrava inquietação criativa, com ideias novas surgindo em sequência.

Momentos que marcaram a despedida

Momento Por que importa
Homenagens discretas em voz e violão Mostraram a resistência da canção sem aparato de palco.
Relatos sobre Trem azul Reforçaram a potência de uma harmonia que acolhe e surpreende.
Referências ao Clube da Esquina Contextualizaram a obra como ponto de virada da MPB.
Memórias de vizinhança Ligaram a música ao cotidiano de Belo Horizonte e suas casas musicais.

Por que a obra segue necessária

A despedida mostrou que as canções de Lô ativam o ouvido de quem cria e de quem estuda. Professores destacaram repertório útil para treinar percepção harmônica e escrita melódica. Produtores falaram de arranjos que funcionam tanto em gravações analógicas quanto no ambiente digital. O público, por sua vez, reconhece na simplicidade da voz e do violão um convite à intimidade que resiste ao ruído do tempo.

Outro ponto citado por músicos foi a relação de Lô com a canção curta. Ele dizia muito em pouco tempo. Isso cobra clareza de ideias e rigor de edição. A prática serve para quem compõe hoje sob pressão de plataformas, sem abrir mão de conteúdo.

Roteiro de escuta para quem quer começar agora

Para se aproximar do núcleo da linguagem, vale um percurso que alterna impacto e sutileza. A sequência abaixo ajuda o ouvido a notar escolhas de harmonia, dinâmica e timbre.

  • Trem azul: foque nas entradas de voz e na mudança de cor ao final do refrão.
  • Parcerias com Milton Nascimento: perceba a integração entre linhas vocais e violões em camadas.
  • Canções autorais solo: observe como a melodia conduz o arranjo, não o contrário.

Como manter o legado circulando

Família, parceiros e instituições podem organizar partituras oficiais, stems de gravação e registros de arranjo. Isso apoia escolas e novos artistas e reduz versões truncadas em plataformas. Editoras e selos podem coordenar cadernos de repertório com cifras conferidas e notas de arranjo. Centros culturais podem promover audições comentadas, que ajudam o público a identificar soluções harmônicas recorrentes sem transformar a experiência em aula fechada.

Para quem compõe, vale um exercício prático inspirado no método relatado pelos amigos: criar uma canção em dois momentos, primeiro melodia e ritmo de voz, depois harmonia. Grave rascunhos curtos. Em seguida, teste variações de acordes que mantenham a linha melódica viva. Esse processo treina a “economia poética” tão citada na obra de Lô.

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