O mau cheiro já virou rotina, as lixeiras transbordam e animais reviram sacos rasgados. Moradores filmam, cobram e temem doenças.
Imagens feitas por moradores de diferentes regiões de Porto Velho mostram recipientes lotados, sacos empilhados nas calçadas e ruas tomadas por resíduos domésticos. O problema se espalha por bairros centrais e por vilas mais afastadas, enquanto a disputa entre empresas contratadas e decisões judiciais deixa a cidade sem um plano estável de limpeza.
O que mostram os vídeos e fotos
Registros feitos desde a sexta-feira, 31 de outubro, revelam coletores e caçambas lotados em Cohab, Panair, Pedrinhas e São Cristóvão, na área central. Nas vilas Aliança, Calderita e Agrovila Rio Verde, os relatos indicam interrupção total do serviço desde o sábado. Moradores descrevem o mesmo cenário: acúmulo rápido de sacos, mau cheiro ao longo do dia e presença crescente de moscas.
Na capital e nos distritos, a rotina de coleta parou, os resíduos se acumulam e o risco sanitário aumenta a cada dia sem recolhimento.
Há queixas de que caminhões compactadores não percorrem as rotas habituais e de que a frota atual não atende a extensão da cidade. Quem vive em áreas periféricas relata abandono. Em via pública, estabelecimentos comerciais convivem com os resíduos de clientes e vizinhos, o que agrava o problema nos horários de maior movimento.
Bairros centrais em alerta
Nos bairros Cohab, Panair, Pedrinhas e São Cristóvão, lixeiras públicas e pontos informais de descarte estão saturados. Sacos rompem sob o peso e atraem baratas e roedores. Comerciantes improvisam contêineres, mas sem recolhimento regular essas soluções se esgotam.
Distritos e vilas mais afastados
Aliança, Calderita e a Agrovila Rio Verde, atendidas por contrato anterior da prefeitura, relatam ausência total de caminhões no fim de semana e no início desta semana. Nessas localidades, a distância até os aterros e o menor número de viagens diárias tornam qualquer interrupção especialmente crítica.
| Bairro/comunidade | Situação relatada |
|---|---|
| Cohab, Panair, Pedrinhas, São Cristóvão | Lixeiras cheias e mau cheiro desde sexta (31) |
| Vilas Aliança, Calderita e Agrovila Rio Verde | Sem recolhimento desde sábado |
| Áreas periféricas e distritos | Frota insuficiente e rotas irregulares, segundo moradores |
Disputa judicial e falhas na logística
A sequência de decisões judiciais mexeu no comando do serviço. A EcoRondônia/Marquise Ambiental foi impedida pela prefeitura em 28 de outubro. Em seguida, o município retomou o contrato emergencial com a Eco PVH. Desde então, moradores e vereadores apontam desorganização na transição e falhas de comunicação sobre rotas e horários.
A Câmara Municipal instalou uma comissão para acompanhar o caso. Técnicos de sustentabilidade alertam para danos ao meio ambiente e à saúde. Há questionamentos sobre a capacidade operacional da empresa que atua hoje, com relatos de frota reduzida e de equipes sem treinamento padronizado. O sindicato do setor cobrou explicações sobre contratações feitas às pressas.
Sem plano de contingência, a troca de contratos vira um vácuo de serviço. O lixo não espera acordos; ele se acumula e adoece quem mora ao lado.
A prefeitura avalia aplicar multa à prestadora atual, segundo apurado junto a fontes do Executivo. Enquanto isso, a coleta continua irregular. A cidade não dispõe de um mapa público e atualizado de rotas, o que dificulta a programação das famílias e dos comerciantes.
Riscos sanitários imediatos
Lixo doméstico parado eleva a circulação de vetores. Moscas aceleram a contaminação de superfícies. Ratos carregam leptospira, que causa leptospirose após contato com água contaminada. A exposição prolongada de resíduos orgânicos atrai baratas, que disseminam microrganismos.
O acúmulo em calçadas e terrenos favorece água parada e aumenta o risco de arboviroses como dengue, zika e chikungunya. Entupimentos em bocas de lobo jogam resíduos para a drenagem e agravam alagamentos na próxima chuva. Queimar lixo, além de crime ambiental, libera partículas finas que pioram crises respiratórias.
Vinte e quatro a quarenta e oito horas sem coleta já bastam para multiplicar moscas e elevar a chance de doenças em domicílios.
O que pode acontecer nos próximos dias
Três cenários são possíveis no curto prazo. A prefeitura pode impor reforço de frota e prazos rígidos de normalização, com monitoramento diário de rotas. Pode aplicar sanções e exigir plano de emergência, com caçambas extras em pontos críticos e mutirões noturnos. Também pode haver nova reviravolta judicial, com troca de prestadora e nova fase de transição.
Especialistas recomendam priorizar escolas, unidades de saúde e feiras, onde o volume e o tipo de resíduo exigem resposta rápida. Distritos afastados devem ter janelas exclusivas de coleta, com comunicação prévia de horários e uso de pontos de transbordo para reduzir viagens vazias.
Como reduzir danos enquanto a coleta não normaliza
- Separe resíduos orgânicos dos secos; feche bem os sacos e use dois sacos para restos de comida.
- Mantenha sacos fora do alcance de animais; use recipientes com tampa se possível.
- Não descarte líquidos no lixo; drene o excesso de umidade para evitar vazamentos e mau cheiro.
- Evite pontos irregulares de descarte; combine com a vizinhança áreas temporárias elevadas e ventiladas.
- Não queime resíduos; a fumaça agrava doenças respiratórias e pode gerar multa.
- Vistorie calhas e quintais; elimine água parada para reduzir mosquitos.
- Registre foto e horário de pontos críticos e encaminhe aos canais oficiais da prefeitura.
Como a gestão pode virar o jogo
Um plano de contingência eficaz inclui cadastro de pontos críticos, publicação diária de rotas e horários e uso de tecnologia simples, como mapas atualizados e boletins por bairro. A auditoria da frota, com número de caminhões disponíveis, turnos e produtividade por rota, dá transparência e reduz ruído político.
Caçambas estacionárias em áreas de grande geração, como mercados e feiras, ajudam a amortecer picos. Parcerias com cooperativas de recicláveis retiram parte do volume dos resíduos secos e diminuem a pressão sobre os caminhões. Contratos emergenciais precisam prever indicadores de desempenho semanais e gatilhos de reforço, para que a população não fique mais uma vez sem coleta quando houver nova disputa judicial.


