Uma lista íntima reacende debates entre cinéfilos brasileiros e chama atenção para histórias que falam de coragem, perdas e pertencimento.
A seleção pessoal de Viola Davis, publicada no Letterboxd, cruza diferentes épocas e países. As escolhas apontam para temas que moldam carreiras e trajetórias de vida. Amizade, violência doméstica, identidade e ambição aparecem sob ângulos contundentes. Para o público, essa curadoria vira um ponto de partida potente para rever clássicos e conhecer títulos fora do circuito mais óbvio.
Quem é Viola Davis e por que essa lista importa
Viola Davis, 60 anos, vencedora do Oscar, construiu uma filmografia marcada por intensidade e profundidade. Seus papéis em Dúvida, Histórias Cruzadas, Um Limite Entre Nós e A Voz Suprema do Blues renderam prêmios e discussões sobre raça, gênero e poder. Quando uma atriz com esse histórico aponta quatro filmes como os mais fortes de todos os tempos, ela indica caminhos estéticos e éticos. Seu olhar ilumina obras que inspiraram escolhas criativas e valores.
Viola Davis compartilhou no Letterboxd uma seleção com quatro títulos que, para ela, definem grande cinema — e abrem conversa sobre identidade, violência e afeto.
‘Cooley High’ (1975)
Amizade, juventude e sonhos em Chicago
Dirigido por Michael Schultz, o longa acompanha Preach, um estudante que quer escrever, e Cochise, estrela do basquete. A trama se passa no começo dos anos 1960, em Chicago. O filme alterna humor, romance e conflitos que saem do controle. Mostra, com densidade, como a juventude negra enfrenta precariedades e, mesmo assim, alimenta projetos de futuro.
A relação entre os dois amigos sustenta a narrativa. O roteiro dá espaço para pequenas vitórias e quedas abruptas, sem caricatura. A cidade aparece como personagem: ruas, escolas, festas e esquinas definem escolhas, perigos e afetos. A câmera busca vitalidade e melancolia. O resultado é um retrato de passagem para a vida adulta que ainda ressoa hoje.
‘Cooley High’ mapeia o fio tenso entre sonho e realidade — um rito de passagem onde lealdade e risco caminham lado a lado.
- Direção: Michael Schultz.
- Onde se passa: Chicago, anos 1960, com foco em ambiente escolar e bairro.
- Eixos temáticos: amizade, racialização da juventude, expectativas e perdas.
- Disponibilidade: atualmente indisponível nas plataformas de streaming.
‘O amor e a fúria’ (1994)
Violência doméstica e a luta por dignidade em uma família maori
Em Auckland, uma família maori tenta sobreviver à violência dentro de casa e à erosão de suas referências culturais. Jake “the Muss”, vivido por Temuera Morrison, ocupa o espaço doméstico com impulsos agressivos. Beth, interpretada por Rena Owen, protege os filhos e costura forças nas tradições. Lee Tamahori dirige com rigor emocional, sem atalho para aliviar o impacto das cenas.
O filme apresenta uma sociedade marcada por cicatrizes coloniais e desigualdades urbanas. A casa vira campo de batalha e de resistência. Nas entrelinhas, aparece um estudo sobre masculinidade, laços comunitários e a potência da voz feminina. A interpretação de Rena Owen sustenta momentos de dor e reinvenção. A trilha e a fotografia reforçam tensão, silêncio e explosão.
Conteúdo sensível: o longa inclui retratos diretos de agressões físicas e psicológicas no ambiente familiar.
- Direção: Lee Tamahori.
- Onde se passa: Auckland, com foco na comunidade maori e na vida suburbana.
- Eixos temáticos: violência doméstica, identidade cultural, autonomia e cuidados maternos.
- Impacto: referência em debates sobre representação e saúde pública.
Outros títulos em foco
Materiais de referência circulados junto à seleção de Viola Davis incluem imagem de divulgação ligada a Klute – O Passado Condena, protagonizado por Jane Fonda e dirigido por Alan J. Pakula. O longa é tratado como marco do thriller político dos anos 1970 e costuma figurar em listas por sua atmosfera paranoica e pela construção de personagem.
O quarto título da seleção foi divulgado na plataforma, mas não aparece detalhado no recorte consultado. A ausência de descrição pública amplia a curiosidade do público brasileiro e coloca a lista como obra em movimento, capaz de gerar novas leituras conforme mais informações se confirmam.
| Título | Ano | Direção | Tema central |
|---|---|---|---|
| Cooley High | 1975 | Michael Schultz | Amizade, juventude negra e escolhas de vida |
| O amor e a fúria | 1994 | Lee Tamahori | Violência doméstica e identidade maori |
| Klute – O passado condena* | 1971 | Alan J. Pakula | Paranoia urbana e personagem feminina complexa |
| (título não detalhado)** | — | — | — |
*Imagem usada em material relacionado remete a este filme estrelado por Jane Fonda.
**A seleção completa foi publicada no Letterboxd; parte do conteúdo consultado não descreve todos os itens.
Por que essas escolhas conversam com a trajetória de Davis
Os filmes apontados concentram personagens sob pressão social e familiar. Há um arco claro: a busca por voz própria em ambientes que testam limites. Essa chave também move papéis que tornaram Viola Davis referência mundial. O olhar da atriz prioriza pulsação humana, tensão ética e interpretações de alto impacto. Não é sobre grandiosidade técnica isolada. É sobre camadas de humanidade.
‘Cooley High’ traz a força de amizades que formam caráter. ‘O amor e a fúria’ insiste na dignidade como prática diária frente à violência. ‘Klute’, caso confirmado, reforça o interesse por figuras femininas complexas enfrentando sistemas opacos. O conjunto sinaliza um mapa afetivo e político de referências para artistas e espectadores.
Como assistir, contextualizar e debater
Catálogos variam no Brasil e mudam com frequência. Vale checar serviços de aluguel digital, mostras de rua e cinematecas. Sessões coletivas, com mediação, ajudam a lidar com temas sensíveis. Para ‘O amor e a fúria’, recomenda-se leitura prévia sobre a história maori e materiais sobre prevenção à violência doméstica. Para ‘Cooley High’, programas sobre história urbana de Chicago e cultura escolar nos anos 1960 adicionam camadas valiosas.
Quem for ver em casa pode adotar um roteiro simples: contextualize datas e lugares; identifique quem fala e para quem; anote cenas que ligam escolhas individuais a estruturas sociais. Em seguida, compare com experiências brasileiras, como trajetórias de juventudes periféricas e políticas públicas de proteção a mulheres. Essa ponte amplia sentido e dá corpo à conversa.
Dicas práticas para seu cineclube
- Defina um aviso de conteúdo antes da sessão, principalmente para ‘O amor e a fúria’.
- Estabeleça uma rodada de comentários de 2 minutos por pessoa, sem interrupções.
- Leve uma linha do tempo do período retratado no filme e um mapa do local onde se passa.
- Feche com uma pergunta concreta: qual decisão do personagem teria sido diferente com uma rede de apoio?
Essas escolhas convidam o público brasileiro a olhar para feridas abertas e vínculos que resistem — tema caro à obra de Viola Davis.


