Você ajudou a batizar o novo supercomputador do Brasil: por que Jaci, 6x mais rápido muda sua vida?

Você ajudou a batizar o novo supercomputador do Brasil: por que Jaci, 6x mais rápido muda sua vida?

Uma virada na previsão do tempo se desenha no país. Mais gente participou da decisão e quer saber o que vem agora.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Inpe divulgaram o resultado da votação pública: o novo supercomputador se chama Jaci, referência à deusa da Lua na mitologia tupi-guarani e parceira de Tupã, nome da máquina anterior. Instalado em Cachoeira Paulista (SP), o sistema entra em operação com potência para acelerar previsões, mapear riscos e apoiar decisões que tocam a rotina de milhões de pessoas.

Um nome que conecta ciência e cultura

Jaci venceu uma votação nas redes sociais realizada de 16 a 26 de outubro. O processo teve mais de 2 mil participações e apresentou quatro finalistas inspirados em línguas e mitologias de povos originários: Jaci, Arani, Aracy e Arandu. A campanha buscou aproximar a população da ciência e reforçar um gesto simbólico de respeito à cultura brasileira.

Mais de 2 mil pessoas participaram da enquete e escolheram Jaci, que representa sabedoria, renovação e o ciclo da noite.

O mito de Jaci e Tupã fala de forças complementares. A Lua e o trovão. O brilho e o estrondo. A referência dialoga com o papel do Inpe, que integra dados de atmosfera, oceanos e superfície terrestre para produzir conhecimento útil e acionável.

O que muda com Jaci

A máquina hospedada no Centro de Dados Científico do Inpe multiplica por até seis a capacidade de processamento e amplia em 24 vezes o armazenamento em relação a Tupã. Esse salto permite rodar modelos numéricos com mais detalhes e com prazos menores, um trunfo em um país que convive com ondas de calor, temporais severos, enchentes e secas prolongadas.

Resolução de 3 km, processamento 6x maior e 24x mais espaço para dados: mais precisão, mais rapidez, mais cenários.

Resolução de 3 km: por que isso importa

Com Jaci, os modelos de previsão chegam a 3 km de resolução, antes eram 20 km. Esse nível de detalhe captura diferenças dentro de uma mesma cidade. Bairros com muito concreto aquecem mais. Encostas concentram chuva por efeito de relevo. Vales canalizam vento. O resultado traz mapas mais fiéis, que ajudam a orientar o dia a dia e a reduzir danos.

Mais dados, mais respostas

O armazenamento ampliado permite guardar séries históricas extensas e rodar experimentos com várias configurações. Pesquisadores testam hipóteses com rapidez. Órgãos públicos recebem produtos prontos para decisão. A Defesa Civil ganha tempo para preparar abrigos. O setor elétrico antecipa picos de demanda em dias de calor. Agricultores ajustam manejo conforme janelas de chuva e risco de estiagem.

  • Defesa Civil: alertas mais cedo para deslizamentos, cheias e temporais de curta duração.
  • Agronegócio: planejamento de plantio e colheita com janela de tempo mais confiável.
  • Energia: estimativas melhores de geração e consumo, com impacto na operação do sistema.
  • Gestão urbana: mapeamento de ilhas de calor e suporte a políticas de sombra e arborização.
  • Saúde: preparação para ondas de calor e eventos que elevam internações por causas respiratórias.

Comparativo de capacidades

Recurso Tupã Jaci
Capacidade de processamento 1 (referência) 6x
Armazenamento de dados 1 (referência) 24x
Resolução típica de modelos 20 km 3 km

Projeto Risc e o plano até 2028

Jaci inaugura o Projeto Risc, que renova a infraestrutura de supercomputação do Inpe com apoio da Finep, por meio do FNDCT. A iniciativa prevê a compra de outros três supercomputadores até 2028 e um pacote de obras que atualiza energia, refrigeração e armazenamento. O centro passará a contar com uma usina fotovoltaica, o que reduz custos operacionais e emissões.

Infraestrutura para rodar 24 horas

Supercomputadores exigem ambiente estável. A modernização elétrica evita interrupções e dá segurança aos dados. O novo sistema de refrigeração diminui o consumo, mantém temperaturas adequadas e prolonga a vida dos equipamentos. O conjunto sustenta o crescimento de bases de dados e a execução de modelos mais pesados, que consomem milhões de horas de processamento.

Monan, o coração das previsões

O Inpe roda o Monan, modelo brasileiro de código aberto que integra atmosfera, oceanos, superfície e química atmosférica. O foco recai nas condições tropicais e subtropicais da América do Sul, região com dinâmicas próprias de convecção, brisas marítimas e jatos de baixos níveis. Com mais poder computacional, o Monan antecipa ondas de calor, estiagens e enchentes com maior acurácia e fornece cenários usados em políticas públicas e compromissos climáticos do país.

Da pesquisa à decisão

Os cenários gerados pelo Inpe embasam relatórios nacionais e a participação do Brasil em iniciativas internacionais de avaliação climática. A série de simulações alimenta comparações entre modelos e ajuda a reduzir incertezas. Com Jaci, o Brasil ganha autonomia para rodar casos complexos, testar hipóteses regionais e contribuir de forma consistente em projetos colaborativos.

O que você vai perceber no dia a dia

A partir de agora, a janela entre a detecção de um sistema de tempestade e a emissão de alerta tende a encurtar. O detalhe espacial permite identificar bairros com maior chance de alagamento e vias mais suscetíveis a vento forte. Em períodos de estiagem, a capacidade de simular vários cenários ajuda a orientar o uso de água e priorizar áreas de socorro humanitário.

Previsões mais localizadas e rápidas salvam vidas, reduzem prejuízos e orientam escolhas cotidianas da população e dos gestores.

Perguntas que surgem e respostas rápidas

Previsão perfeita existe?

Não. Modelos trabalham com probabilidades. Jaci reduz incertezas e captura processos que antes ficavam fora do radar, mas sempre haverá margens de erro. A transparência sobre risco continua central.

Qual o papel da energia solar no centro de dados?

A usina fotovoltaica diminui a conta de energia e dá previsibilidade de custos. Em horários de pico, o sistema pode aliviar o consumo da rede e tornar a operação mais sustentável.

Como as universidades e startups podem se beneficiar?

Com mais armazenamento e filas de processamento otimizadas, projetos de pesquisa e inovação encontram espaço para simulações de alta resolução. Dados melhor curados e documentados reduzem barreiras para novos aplicativos de clima e risco.

Informações práticas para quem usa previsão

Empresas e prefeituras podem ajustar rotinas a partir de produtos de curtíssimo prazo e cenários de médio prazo. Para eventos severos, revise planos de contingência, confirme rotas de evacuação e teste sistemas de comunicação. Na agricultura, integre previsões de 3 km a ferramentas de manejo de irrigação e controle de pragas. No setor de saúde, cruze mapas de calor com dados de internações para orientar campanhas e ampliar leitos temporários.

Simulações em 3 km também abrem espaço para estudos de infraestrutura. Projetos de drenagem urbana, pavimentação permeável e parques lineares podem usar os novos dados para dimensionamento mais preciso. Em regiões serranas, análises de gatilhos de deslizamento ficam mais robustas ao incorporar microclima e saturação do solo simulada.

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