Enquanto o país acorda com o aroma do coado, uma história de prestígio redefine quem decide os rumos do café. Uma distinção rara atravessa fronteiras e mexe com produtores, torrefadores e consumidores.
Um produtor mineiro passa a integrar um grupo seletíssimo e ganha status fora de competição no principal concurso de qualidade do setor. O feito traz números, influência global e efeitos práticos que chegam até a sua xícara.
Quem é a nova lenda brasileira
Luiz Paulo Dias Pereira Filho, de Carmo de Minas (MG), foi nomeado pela Alliance for Coffee Excellence (ACE) entre as primeiras “Lendas da Excelência” do café especial no mundo. O reconhecimento celebra consistência, inovação e liderança comunitária. Ele soma 23 presenças entre os vencedores do Cup of Excellence, marca que ajuda a explicar sua projeção internacional.
A ligação com a Mantiqueira de Minas é antiga e profunda. A família Pereira construiu reputação com rigor agronômico, seleção de microlotes e transparência na cadeia. Em 2005, um parente, Francisco Isidro Pereira, alcançou 95,85 pontos no Cup of Excellence Brasil, recorde histórico no país. O currículo de Luiz Paulo inclui a presidência da BSCA aos 30 anos, em 2011, com reeleição dois anos depois.
Reconhecimento como “lenda” consolida a imagem do Brasil como referência em qualidade, inovação e impacto social no café especial.
Inovação com o pé na roça e o olhar no mundo
Aprendizado contínuo moldou a jornada do produtor. Foram 35 viagens ao Japão, além de visitas a outras origens, para mapear tendências, técnicas de processamento e perfis de consumo. Essas trocas fortaleceram relações comerciais, ampliaram o acesso a mercados exigentes e aceleraram a adoção de protocolos de qualidade na fazenda.
Processamentos bem controlados — natural, honey e fermentações anaeróbicas com monitoramento de temperatura e pH — tornaram-se rotina. Secagem lenta em camas suspensas e rastreabilidade por talhão sustentam consistência ano após ano.
O que significa ser “lenda da excelência”
A ACE criou o título em 2025 para reconhecer produtores que mantêm excelência de forma consistente, combinam inovação com responsabilidade e acumulam resultados no Cup of Excellence, competição lançada em 1999 no Brasil. Ao receber a honraria, o produtor passa a ser hors-concours no CoE e é homenageado na cerimônia oficial.
Na mesma lista inaugural estão nomes de referência em várias origens. Eles formam um hall que mistura tradição, técnica e compromisso com as comunidades cafeeiras.
Seis produtores inauguram o hall mundial de lendas. O Brasil está representado e fala alto nessa mesa.
- Luiz Paulo Dias Pereira Filho (Brasil) — 23 presenças entre vencedores do CoE
- Benjamin Paz (Honduras) — 5
- Juan Diego De La Cerda (Guatemala) — 13
- Ernesto Menéndez (El Salvador) — 5
- Manuel Antônio “Toño” Barrantes (Costa Rica) — 10
- Olman Valladarez (Nicarágua) — 14
Critérios que pesam no título
Consistência de pontuação elevada. Inovação agrícola e pós-colheita validada por resultados. Transparência comercial e rastreabilidade. Engajamento em iniciativas sociais e ambientais. Capacidade de inspirar novas gerações de cafeicultores.
Cerimônia e bastidores em São Paulo
A homenagem ocorre durante a premiação do Cup of Excellence em São Paulo, no Diamond House, com anúncio de resultados no dia 1º de novembro, a partir das 9h30. O evento reúne produtores, classificadores, torrefadores e compradores. É a vitrine para os microlotes que definem tendências de sabor e preço para a safra.
| Ano | Marco na trajetória |
|---|---|
| 2005 | Família atinge 95,85 pontos no CoE Brasil (Francisco Isidro Pereira) |
| 2011–2013 | Mais jovem presidente da BSCA, com reeleição dois anos depois |
| 2000–2025 | 23 aparições entre os vencedores do Cup of Excellence |
| Carreira | 35 viagens ao Japão para construir mercado e capturar tendências |
O que muda para você, consumidor
O selo Cup of Excellence e a menção a “Lendas da Excelência” sinalizam qualidade rara e rastreável. Microlotes desse patamar costumam carregar notas sensoriais complexas, acidez brilhante e finalizações longas. Também influenciam precificação, já que leilões internacionais elevam referências para cafés de alta pontuação.
Qualidade de xícara anda junto de compromisso social: educação no campo, mentorias e projetos de sustentabilidade.
Como identificar cafés de legado na gôndola
- Procure indicação de origem “Mantiqueira de Minas”, talhão, altitude e variedade.
- Observe o método de processamento e dados de rastreabilidade por lote.
- Busque pontuação SCA a partir de 87 pontos para perfis mais raros.
- Prefira torra recente e informações sobre quem produziu e quem torrou.
- Teste preparo por filtrados com moagens mais grossas para realçar doçura e camadas aromáticas.
Impactos para a cadeia produtiva
Reconhecimentos desse tipo geram efeito demonstração. Produtores adotam protocolos mais finos de colheita seletiva, secagem, repouso e torra de prova. A negociação muda de volume para valor, com contratos que premiam consistência e transparência.
Há ganhos para regiões inteiras. A Mantiqueira de Minas amplia visibilidade e atrai compradores dispostos a pagar por rastreabilidade e impacto social. Cooperativas locais ganham força para capacitar jovens, profissionalizar pós-colheita e reduzir perdas.
Riscos e como mitigar
Clima errático pressiona floradas, maturação e secagem. Granizo e ondas de calor exigem respostas rápidas. Estratégias de sombreamento moderado, manejo de solo com matéria orgânica, coberturas para terreiros e secagem híbrida elevam resiliência. Seguros rurais e sistemas de alerta antecipado ajudam a reduzir exposição.
Para quem produz: passos práticos rumo à excelência
- Mapeie talhões por variedade, altitude e insolação. Separe colheitas por maturação.
- Implemente protocolos mensuráveis de fermentação, com registros de temperatura e pH.
- Use camas suspensas e índices de atividade de água para decidir ponto de ensaque.
- Adote cupping semanal com painel interno e feedback de clientes-chave.
- Invista em rastreabilidade digital e comunicação de impacto socioambiental.
Para o consumidor, vale uma experiência guiada. Compare dois microlotes da Mantiqueira com processamentos diferentes, mantendo mesma receita de preparo. Anote acidez, doçura, corpo e finalização. Esse exercício revela como a técnica pós-colheita e a altitude se manifestam na xícara.
Quem trabalha com cafeteria pode usar a vitrine de uma “lenda” para educar o público. Sessões de prova abertas, fichas sensoriais simples e transparência sobre custos aproximam a conversa do preço ao valor entregue. A jornada do grão até a xícara fica clara, e a decisão de compra ganha contexto.


