Aromas florais, doçura limpa e acidez vibrante atraíram holofotes de provadores do mundo todo para grãos brasileiros.
A temporada 2025 do principal concurso de qualidade do país fechou a noite paulistana de 1º de novembro com uma mensagem direta ao consumidor: a excelência do café mora em Minas Gerais, em diferentes terroirs, métodos e variedades, e chega à sua mesa mais rápido do que você imagina.
Minas Gerais toma a frente no palco da qualidade
Os cafés especiais mineiros ocuparam o topo das três categorias da Cup of Excellence Brazil 2025 — via úmida, natural e experimental — em cerimônia realizada em São Paulo. O domínio veio com notas acima de 90 pontos e uma diversidade que vai do Cerrado Mineiro à Mantiqueira de Minas e ao Sul de Minas.
Três pódios, três regiões mineiras e notas acima de 90: o mapa da qualidade brasileira ficou pintado de Minas.
O júri misturou especialistas do Brasil na fase nacional e compradores internacionais nas finais, o que costuma alinhar a avaliação local com as tendências de consumo de mercados como Estados Unidos, Europa e Ásia. Essa sinergia ajuda a entender por que as variedades arara e geisha brilharam ao lado de perfis clássicos de Minas.
O que é a Cup of Excellence e como seu café vira recorde
O concurso, organizado no país pela BSCA, audita a qualidade em várias etapas de prova às cegas. Só os lotes que ultrapassam 87 pontos recebem o selo Cup of Excellence, etiqueta que abre a porta dos leilões internacionais e de clientes dispostos a pagar mais por microlotes raros.
Lotes com 87+ pontos ganham o selo Cup of Excellence e seguem para leilão online com preços em dólar.
Esse caminho impulsiona renda nas fazendas, incentiva manejo cuidadoso e acelera investimentos em fermentações controladas, secagem precisa e rastreabilidade.
Quem levou os troféus de 2025
Os campeões de cada categoria vieram de fazendas reconhecidas pela consistência e por processos bem executados. Veja o quadro com os primeiros lugares:
| Categoria | Campeão | Variedade | Fazenda | Município/Região | Nota |
|---|---|---|---|---|---|
| Via úmida | Marcelo Assis Nogueira | Arara | Fazenda Água Limpa | Campos Altos — Cerrado Mineiro | 91,37 |
| Natural | Paulo Fernando Chaves de Brito | Arara | Fazenda Aracaçu | Três Pontas — Sul de Minas | 90,79 |
| Experimental | Ipanema Agrícola S/A | Geisha | Fazenda Rio Verde | Conceição do Rio Verde — Mantiqueira de Minas | 91,68 |
As posições que completam o pódio
- Experimental: 2º — Fazenda Rancho Grande, Três Pontas/MG, variedade arara, 91,11; 3º — Sítio São Sebastião, Cristina/MG, arara, 90,29.
- Natural: 2º — Fazenda Sucuri, Coromandel/MG, geisha, 90,32; 3º — Fazenda Chapadão, Pratinha/MG, paraíso, 90,11.
- Via úmida: 2º — Fazenda Boa Vista, Dom Viçoso/MG, catucaí, 90,82; 3º — Fazenda Água Limpa, São João do Manhuaçu/MG, quente, 90,50.
O que cada categoria sinaliza na xícara
Via úmida: precisão no Cerrado
O lavado do Cerrado Mineiro tende a entregar xícaras limpas e doces, com acidez bem desenhada. A vitória de Campos Altos com arara reforça um movimento de produtores que dominam colheita seletiva, despolpa e secagem rápida para preservar frescor.
Natural: tradição que segue atual
Os naturais mineiros mantêm corpo sedoso e doçura alta, sem perder brilho aromático. A liderança de Três Pontas mostra que manejo criterioso de terreiro e de camas elevadas evita fermentação indesejada e cria complexidade controlada.
Experimental: fermentações no limite certo
Na categoria que permite protocolos criativos, a geisha da Mantiqueira apareceu com força. O método alinhou terroir de altitude, processamento meticuloso e uma variedade conhecida por elegância. O equilíbrio entre ousadia e transparência do grão garantiu a melhor nota do concurso.
Por que Minas venceu de ponta a ponta
O estado ampliou acesso a pesquisa, assistência técnica e capacitação de provas sensoriais. Cooperativas e fazendas investem em lotes menores, colheita por maturação, controle de água e secagem monitorada. Há também coordenação entre produtores e torrefações, que ajustam perfis de torra para o mercado externo.
Qualidade, sustentabilidade, diversidade e pesquisa caminharam juntas. Esse conjunto empurrou Minas para a vitrine global.
O resultado consolida a presença de Minas em mercados que pagam prêmio por rastreabilidade, controle de carbono e consistência de safra. Essa régua alta aumenta a competição interna e levanta a barra para outras origens brasileiras.
Guia rápido de variedades em evidência
- Arara: cultivar brasileiro bastante adotado, com produtividade estável e doçura marcante em diferentes processos.
- Geisha: originária da Etiópia, famosa por fragrância floral e acidez fina quando cultivada em altitude.
- Catucaí: linha de cultivares difundida em Minas, reconhecida pela boa xícara e adaptação a diversos microclimas.
- Paraíso: material genético trabalhado no Brasil, buscado por doçura e equilíbrio.
- Quente: presença mais rara nos concursos, sinal de que produtores seguem testando materiais para perfis específicos.
Como esse prêmio afeta o consumidor
Os lotes campeões seguem para leilões online e costumam atingir valores altos por saca. Parte retorna ao Brasil por importadores ou fica aqui com torrefações que participam diretamente das compras. Para o consumidor final, isso se traduz em microlotes vendidos em pacotes menores, normalmente com informações detalhadas de origem e pontuação.
Quer provar sem estourar o orçamento? Procure blends sazonais de torrefações que usam frações de microlotes premiados para compor linhas especiais. Observe data de torra, peça moagem na hora e teste extrações que valorizem a acidez, como V60 e Kalita. Em espressos, reduza a temperatura da água e avalie moagens ligeiramente mais grossas para preservar doçura.
O que esperar dos preços e da oferta
Notas acima de 90 puxam valores no atacado, mas também influenciam o preço dos cafés de 84 a 87 pontos, que ganham atenção no varejo. A demanda internacional por geisha segue firme, enquanto a arara aparece como alternativa de custo mais amigável e xícara muito competitiva. Torrefações tendem a lançar edições limitadas nas próximas semanas, quando os lotes chegam após o leilão.
Riscos e oportunidades para quem compra
Risco: rótulos confusos que misturam o nome do concurso com cafés que não fazem parte dos lotes vencedores. Solução: busque informações claras sobre safra, fazenda, variedade e, se possível, número do lote. Oportunidade: microtorrefações abertas a sessões de cupping costumam oferecer degustações pagas de amostras dos lotes ou de cafés com perfil sensorial semelhante, o que ajuda a calibrar preferências antes de investir.
O próximo passo nas fazendas
Os resultados devem acelerar o uso de controles de fermentação por temperatura, protocolos de via úmida voltados a maior transparência sensorial e secagens híbridas (primeiro em camas, depois em estufas). A pauta de sustentabilidade também ganha espaço, com rastreio de água, energia e emissões sendo incorporado ao storytelling do produto — item cada vez mais valioso para compradores internacionais.


