Na esquina mais movimentada do bairro, uma grelha acesa reúne famílias e amigos. Há fumaça, risadas e nenhum bife.
Em Campinas, um rodízio vegano recria o ritual do espeto, do salão ao serviço, com cortes feitos de proteína vegetal. O cardápio imita clássicos do churrasco e da cozinha brasileira, mas com jaca, ervilha e trigo no lugar de bois e porcos.
De ervilha no espeto a coxinha de jaca
Na “Chama Verde”, a promessa é clara: manter o clima de churrascaria, trocar a carne por bases vegetais e servir no sistema de rodízio. Os espetos levam proteína de ervilha moldada como picanha ou linguiça de trigo, o bufê exibe feijoada sem tocinho e as frituras ganham recheios de jaca verde e couve-flor.
- Espeto de proteína de ervilha com tempero de alho, ervas e toque defumado.
- Coxinha de jaca verde desfiada, cremosa por dentro e crocante por fora.
- Feijoada com “linguiça” de trigo, acompanhada de couve refogada e farofa.
- Cogumelos empanados com crosta fina, servidos ainda chiando.
- Lasanha de berinjela com molho de tomate rústico e castanhas.
- Coxinha de couve-flor, massa leve e recheio aromático.
Espetos de proteína vegetal marinados e passados na brasa entregam o sabor de defumado que muita gente associa ao churrasco.
Como ficam os espetos
O preparo segue uma lógica familiar a qualquer churrasqueira. A “carne” vegetal recebe marinada por alguns minutos para ganhar suculência e liga, entra na grelha quente e roda no salão exatamente como no rodízio tradicional.
- Marinada base: alho amassado, ervas frescas, sal, pimenta e óleo vegetal.
- Finalização: páprica defumada no fim para realçar o sabor de brasa.
- Ponto: selar rápido para dourar, sem ressecar o interior.
Quem está por trás do projeto
A casa nasceu da inquietação de Priscila Nunes, empresária que sentia falta de opções veganas na cidade. A ideia foi reproduzir a experiência completa de churrascaria — o salão amplo, o atendimento constante, o bufê variado — sem proteína animal. O movimento cresceu com o boca a boca, muito por conta de curiosos que entram sem saber da proposta e ficam para provar.
Preservar o encontro à mesa e a memória afetiva do churrasco, mas sem abate, é a bandeira repetida pela equipe.
Clientes que chegam por acaso
O efeito surpresa ajuda. Pessoas que consomem carne entram achando que é uma churrascaria comum, descobrem o conceito e decidem experimentar. Para parte do público vegetariano, a nomenclatura “churrasco vegano” causa debate: há quem questione a necessidade de “imitar” a carne. Outros veem nisso uma ponte para ampliar o acesso.
Usar nomes conhecidos facilita a aproximação: a curiosidade abre a porta e o paladar faz o restante.
Da brasa ao bufê
Com o chef Manolo de Souza à frente da cozinha, o cardápio muda com frequência. O bufê traz opções quentes, saladas e doces sem ingredientes de origem animal. O giro de pratos evita monotonia e estimula combinações equilibradas entre proteína, fibra e gordura boa.
| Prato | Base vegetal | Técnica de preparo | Para quem gosta de |
|---|---|---|---|
| Espeto “picanha” | Proteína de ervilha | Marinada e brasa alta | Defumado e crosta dourada |
| Feijoada | Trigo (glúten) e feijão preto | Caldo espesso e refogados | Textura densa e caldo encorpado |
| Coxinha de jaca | Jaca verde desfiada | Panagem fina e fritura rápida | Recheio úmido e sabor temperado |
| Lasanha de berinjela | Legumes e castanhas | Camadas assadas | Molho rico e conforto |
Nutrição e sustentabilidade
Proteína de ervilha oferece bom aporte proteico e costuma ter digestão mais leve que leguminosas inteiras, desde que combinada com fibras e água. Produtos à base de trigo (seitan, “linguiça” de glúten) entregam textura elástica, próxima à de embutidos, mas não servem para pessoas com doença celíaca ou sensibilidade ao glúten.
Alimentos processados veganos podem conter mais sódio do que cortes in natura. Ler rótulos, alternar com grãos e legumes e priorizar preparos de casa melhora o equilíbrio. Na conta ambiental, a troca por proteínas vegetais reduz a pegada hídrica e de carbono do prato, especialmente quando ingredientes locais entram no receituário.
Para quem migra do churrasco tradicional, o segredo é variedade no prato: fonte vegetal de proteína, salada fresca e um carboidrato simples.
Como fazer em casa
Quem tem churrasqueira pode replicar a técnica sem perder o defumado. O mesmo vale para forno e frigideira de ferro, com toques de fumaça líquida culinária quando desejado.
- Base proteica: blocos de proteína de ervilha ou glúten moldável.
- Marinada rápida (20 a 40 min): 2 colheres de sopa de azeite, 1 dente de alho, ervas, sal, pimenta e páprica defumada.
- Preparo: grelha quente, viradas constantes, pincelar marinada ao final.
- Acompanhamentos: vinagrete sem mel, farofa com banana, couve no alho.
Dicas para um rodízio vegano sem erro
- Monte o prato com proporção 1-1-1: proteína, salada e carboidrato.
- Varie as bases: ervilha, grão-de-bico, soja não transgênica, cogumelos.
- Tempere bem: acidez do limão ou do vinagre realça o sabor e limpa o paladar.
O debate sobre “imitar” carne
Para alguns consumidores, chamar de “picanha” ou “linguiça” confunde. Para outros, facilita a escolha e reduz a barreira de entrada. Em cenários de transição alimentar, nomes familiares funcionam como atalho mental e tornam a primeira experiência menos arriscada. A tendência global já consolidou salsichas, hambúrgueres e tiras vegetais como categoria à parte, com identidade própria.
Informações que ajudam
Se você é celíaco, pergunte se os pratos levam glúten antes de se servir. Para quem cuida do sódio, priorize espetos frescos e saladas e deixe molhos prontos de lado. Crianças costumam aceitar bem coxinhas de jaca ou couve-flor; pais podem aproveitar para introduzir legumes no prato de forma lúdica.
Quer treinar o preparo? Uma simulação simples: asse cogumelos porto-bello com azeite, sal e páprica por 15 minutos e finalize na frigideira bem quente por 2 minutos de cada lado. O método replica a crosta e a suculência esperada no espeto e ajuda a ajustar ponto antes de encarar a churrasqueira.


